segunda-feira, 26 de julho de 2010

Prisioneiros da idade média


Houve épocas em que foi diferente, mas, em tempos contemporâneos, o recurso econômico que vinca, faz diferença, que tem se mostrado mais expressivo e importante não é outro senão a educação.

Uma rápida incursão pela história da humanidade demonstra que nem sempre foi assim.

As civilizações antigas utilizaram o trabalho escravo para alavancar o progresso econômico. Na idade média a organização social se processou tendo como referência as terras dos senhores feudais. ‘Fábrica’, ‘maquinário’, ‘produção em série’ foram as palavras mágicas capazes de mover a moderna civilização industrial na direção da acumulação do capital.

E rompendo o século XX e em pleno curso no século XXI explode em toda a sua intensidade a sociedade do conhecimento.

Sociedade do conhecimento? O que é isso? Um pássaro? Um avião? Não, é o Super-Homem. É verdade, caro leitor... Não vai aqui nenhuma ironia ou piada de salão.

A sociedade do conhecimento resulta da educação que re-elabora, recria valores, revoluciona paradigmas, uma indústria ininterrupta de produção de novas tecnologias, capital humano e qualidade sustentável. É o que mais pode aproximar a espécie das estórias em quadrinhos que povoaram nossa infância, é o que mais pode nos fazer parecer com o homem de aço do planeta Krypton.

Países que - até algumas décadas atrás - situavam-se no mesmo estágio de desenvolvimento que o Brasil, hoje se encontram anos-luz à frente. Parece que ficamos imobilizados num desses atoleiros fantasmagóricas onipresentes nas estradas federais.

Por mais que doa, a verdade não deve ser ignorada: Pindorama ficou para trás. Boa parte do país parece aprisionada, é como se gigantescos grilhões nos impedissem de romper com a idade média e com os primórdios da revolução industrial. Enquanto o mundo desbrava o futuro, gastamos o suor e a energia da nação conquistando fatias de um passado já longínquo, distante, atrasado e obsoleto.

Mas a Ásia, Irlanda, Austrália, e aqui bem próximo, o Chile, avançaram, e continuam avançando, progredindo, deixando a república Tupiniquim submersa numa nuvem densa de poeira vermelha. Investindo de forma decisiva e progressiva na educação, esses países vêm alcançando elevados níveis de emprego, sustentabilidade e bem estar social.

O Brasil que desdenhou o dever de casa amarga indicadores perversos, vergonhosos, abomináveis, sempre ocupando as últimas posições nos exames internacionais que avaliam o ensino, que mensuram o nível de conhecimento agregado pelos alunos. Uma panorâmica pelas últimas edições do PISA-OCDE mostram que o mar não está para peixe.

Por considerarem a educação uma alavanca para o progresso, países como Coréia, Irlanda e Austrália estão em vias de encontrar o super-homem, pelo menos a parte humana do super, aquela que usufrui privilégios triviais, como o de ter acesso a emprego e renda; o de não ser achincalhado com bombardeios diários denunciando maracutaias e corrupção; como o de poder levar a família para um simples passeio familiar, sem temer a parada no semáforo, sem a preocupação com o estampido seco e fatal. Vai dizer que não é um privilégio ter a certeza de que gatunos da merenda, dos livros didáticos ou do transporte escolar acordarão vendo o sol nascer quadrado? Vai garantir que não é privilégio ter a convicção de que corruptos cumprirão longas penas nas cadeias?

Tudo correndo bem, sendo a corrupção endêmica estancada (e os corruptos encarcerados!), assegurando que os investimentos não sofram solução de continuidade, o Ministério da Educação prevê cerca de duas décadas para que o Brasil alcance a média dos estudantes dos países-desenvolvidos. Vinte anos. É um tempo longo, por demais longo.

Tivéssemos uma maioria de políticos com vergonha na cara e este tempo se reduziria substancialmente. Mas este é o Brasil real e de nada vale dar asas à ilusão.

Fixemo-nos então nas projeções do MEC. Pelo menos é uma oportunidade e não uma daquelas miragens tão ao gosto dos nossos legítimos ‘representantes’. É importante atenção e vigilância. E ante o perigo e a iminência do primeiro desvio, gritar, berrar, espernear, indignar, protestar. É nossa obrigação romper os grilhões que nos aprisionam à idade média. Devemos isso à nossos filhos e netos.

Artigo de Antônio Carlos dos Santos publicado no portal da Associação dos Professores de São Paulo