sábado, 24 de dezembro de 2022

A recém-descoberta árvore mais alta da Amazônia que corre risco de desaparecer

Altura de angelim-vermelho gigante, é equivalente a de um prédio de 30 andares

A árvore mais alta da Amazônia — um angelim-vermelho de aproximadamente 400 anos, 9,9 metros de circunferência e 88,5 metros de altura, o equivalente a um prédio de 30 andares — "corre perigo" por causa da ação ilegal de grileiros e garimpeiros, alertam ambientalistas.

A árvore, que foi descoberta em setembro durante uma expedição apoiada pela ONG Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), faz parte de um conjunto de árvores gigantes encontradas na Floresta Estadual (Flota) do Paru, na divisa dos Estados do Amapá e do Pará.

Ela é maior, por exemplo, do que alguns dos principais cartões postais do mundo, como a Grande Esfinge de Gizé (20 metros), no Egito, o Cristo Redentor (38 metros), no Rio de Janeiro e a Torre de Pisa (57 metros), na Itália. Por pouco não ultrapassa o Big Ben (96 metros), em Londres, na Inglaterra e a Estátua da Liberdade (93 metros), em Nova York, nos EUA.

A Flota do Paru é a terceira maior unidade de conservação de uso sustentável em floresta tropical do mundo. O bioma tem 36 mil km², cerca de três vezes o tamanho do Catar, que sediou a Copa do Mundo de 2022.

Ou seja, ali é permitida a exploração sustentável de parte dos recursos naturais desde que aliada à conservação da natureza.

No entanto, ambientalistas afirmam que não é isso que vem ocorrendo. Segundo eles, a Flota do Paru, que pertence ao maior bloco de áreas protegidas do mundo, sofre com a ação de grileiros e garimpeiros — em novembro, foi a terceira unidade de conservação mais desmatada de toda a Amazônia.

Dados baseados em imagens de satélite do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Imazon mostram que a floresta já perdeu 46,5 km² de cobertura vegetal desde 2008. Já dados do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (PRODES) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), também baseados em imagens de satélite, indicam um número maior em igual período: 74 km².

Bolsonaro ou Lula: em qual governo a taxa de desmatamento na Amazônia foi maior?

Ambos apontam um pico de desmatamento em 2019, primeiro ano do governo de Jair Bolsonaro (PL), acusado de beneficiar desmatadores e criticado por sua política ambiental em relação à Amazônia. Desde 2019, o Pará é governado por Helder Barbalho (MDB), reeleito nas eleições de outubro. Ele se manteve neutro nas eleições presidenciais daquele ano e declarou apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no último pleito.

Na última quinta-feira (15/12), a Imazon e outras nove ONGs lançaram uma campanha online com a hashtag #ProtejaAsArvoresGigantes, com o objetivo de chamar a atenção da sociedade para a necessidade de o governo do Pará fiscalizar e monitorar a área.

Segundo Jakeline Pereira, pesquisadora do Imazon e conselheira da Flota do Paru, as árvores gigantes estão ameaçadas pela grilagem de terras e, sobretudo, pelo garimpo ilegal de ouro.

"No limite sul da unidade de conservação, está havendo uma mudança de ocupação do solo, com arrendamento de terras para a agropecuária e retirada ilegal de madeira", diz ela à BBC News Brasil.

"Mas são os garimpos ilegais de ouro que estão mais próximos das árvores. Apesar de o desmatamento causados por eles não ser tão grande, uma vez que abrem uma pequena clareira na floresta e usam métodos artesanais, o impacto acaba sendo, pois se usa mercúrio e promove a circulação de pessoas dentro da unidade de conservação. Um levantamento estimou em 2 mil o número de garimpeiros na área em 2009", acrescenta.

Pereira diz que, para acessar o local onde ficam as árvores gigantes, na última expedição de setembro, os pesquisadores "passaram pelos garimpos".

"O local é uma região de difícil acesso, com rios encachoeirados. É preciso andar muito tempo na floresta, então o acesso é bem ruim", diz.

Segundo a especialista, essas árvores gigantes não são comuns na região — o angelim-vermelho é "uma espécie madeireira", que cresce normalmente "entre 25 e 30 metros", explica.

Com 88,5 metros, o angelim-vermelho gigante tornou-se a quarta árvore viva mais alta documentada pelo Guinness World Records, o livro dos recordes. A maior do mundo é uma sequoia de 116 metros localizada no Parque Nacional de Redwood, no Estado da Califórnia, nos Estados Unidos.

Segundo Pereira, "além da maior árvore da Amazônia, a Flota do Paru tem várias espécies endêmicas, aquelas que só existem em uma determinada região. É uma área importante para preservar a biodiversidade local, conter as mudanças climáticas e tem enorme potencial para ecoturismo e extrativismo vegetal, que pode gerar renda com a floresta em pé".

"Portanto, não podemos perder nosso patrimônio para esses infratores, precisamos de fiscalização e efetiva implementação do plano de manejo para impedir a destruição", conclui.

De janeiro a novembro, 10.286 km² de floresta na Amazônia foram derrubados, o equivalente a mais de 3 mil campos de futebol por dia. É o pior acumulado dos últimos 15 anos, segundo dados do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Imazon. Somente o Pará foi responsável por desmatar 279 km² em novembro, quase a metade do que foi registrado em toda Amazônia.

Em comunicado enviado à BBC News Brasil, o governo do Pará, por meio do Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade (IDEFLOR-Bio) informa que "recebeu uma denúncia de invasão de grileiros nas áreas da Unidade de Conservação (UC) da Floresta Estadual do Paru (Flota Paru), que estão sob concessão florestal, na porção sudeste da (UC), especificamente nas Unidades de Manejo Florestal (UMF) 1 e 2, que somam 190 mil hectares e representam 5,3% da FLOTA (3,613 milhões de hectares)".

"Desde o dia 08 de dezembro uma equipe da Diretoria de Gestão de Floresta Pública do Ideflor-Bio e Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas) e Polícia Civil, incluindo a Polícia Científica, estão na área sob concessão florestal averiguando estas denúncias. Informamos também, que por meio da Diretoria de Gestão e Monitoramento das Unidades de Conservação (DGMUC), o Ideflor tem avançado na implementação das Unidades de Conservação, estabelecendo ferramentas importantes de gestão como: a elaboração dos Planos de Manejo das (UCs), utilizando metodologia participativa de todos os setores que representam a sociedade civil organizada; garantia da participação direta como cogestores, nos Conselhos Gestores, discutindo e trazendo soluções para todos os problemas que envolvem as Unidades de Conservação", conclui a nota.

BBC News

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sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

EUA anunciam envio de armas à Ucrânia que podem mudar rumo da guerra



Os Estados Unidos confirmaram nesta quarta-feira (21) o envio à Ucrânia do sistema de defesa antiaéreo Patriot, considerado um dos sistemas americanos mais sofisticados contra aeronaves, mísseis de cruzeiro e mísseis balísticos, em um avanço que pode mudar o rumo da guerra no Leste Europeu.

O anúncio foi feito horas antes de o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, chegar a Washington, na primeira vez viagem pública para fora do país desde o início da invasão russa, em fevereiro. Na Casa Branca, Zelenski se reuniu com o presidente americano, Joe Biden, antes de se dirigir ao Capitólio, onde discursará no plenário da Câmara à noite e se reunirá com parlamentares republicanos e democratas.

O Patriot fará parte de um pacote de cerca de US$ 1,85 bilhão em ajuda militar, que inclui também outras formas de defesa antiaérea como os Nasams (curto e médio alcance), Hawks (míssil terra-ar de médio alcance) e Stingers (mísseis portáteis). No total, o conjunto da ajuda militar americana já soma US$ 21,9 bilhões.

Em entrevista coletiva, Biden negou que o armamento vá significar um aumento no conflito. "É um sistema de armas defensivas, não vai escalar [o conflito]. Nós adoraríamos não ter que usá-lo, é só pararem os ataques", disse.

O governo americano vai treinar as forças de segurança ucranianas para usar os equipamentos em um terceiro país, segundo uma autoridade da Casa Branca o que pode levar algum tempo.

Questionado na manhã desta quarta, antes que o envio dos Patriots fosse confirmado, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, afirmou que o sistema antiaéreo seria definitivamente um alvo de ataques russos indicando que a chegada do armamento a Kiev nos próximos meses pode ser o gatilho para uma nova fase da ofensiva contra a Ucrânia.

Biden recebeu Zelenski nos jardins da Casa Branca. Depois, os dois líderes se reuniram no Salão Oval e posaram para as câmeras. Em reunião bilateral, discutiram estratégias da guerra, capacitação e treinamento das forças ucranianas e sanções, além de assistência econômica, energética e humanitária.

"A caminho dos EUA para fortalecer a resiliência e as capacidades de defesa da Ucrânia. Em particular, o presidente dos EUA e eu discutiremos a cooperação entre os EUA e a Ucrânia. Também farei um discurso no Congresso e uma série de reuniões bilaterais", escreveu Zelenski no Twitter antes de chegar a Washington.

A viagem foi acompanhada por algumas das maiores autoridades do país. Estavam presentes na reunião, além de Biden, a vice, Kamala Harris, e os secretários de Estado, Antony Blinken, e de Defesa, Lloyd Austin. Na comitiva ucraniana, além de Zelenski, viajaram o chanceler Dmitro Kuleba e outras autoridades.

"Continuaremos a apoiar a Ucrânia enquanto for preciso, para que Kiev possa continuar a se defender e estar na posição mais forte possível na mesa de negociação quando for chegada a hora. A Rússia sozinha pode terminar essa guerra. Até lá, permaneceremos unidos com a Ucrânia", disse Blinken em comunicado pela manhã.

No encontro presidencial, Biden brincou com a capa da revista Time e afirmou a Zelenski: "Você é o homem do ano". O ucraniano afirmou que queria ter viajado ao país antes e agradeceu ao governo, ao Congresso e americanos "comuns" pelo apoio a Kiev.

Depois, em conversa com jornalistas, onde Biden e Zelenski conversaram em tom descontraído, o americano voltou a criticar o conflito, citando o nome do presidente russo, Vladimir Putin, responsável pelo que chamou de uma "guerra brutal e desumana", e parabenizou as forças ucranianas pela resistência até aqui. Zelenski, por sua vez, agradeceu a ajuda americana e disse que "voltará para casa com boas notícias", antes de encerrar sua fala dizendo "glória à Ucrânia".

Com a visita à capital americana em um momento em que a guerra completa 300 dias, em meio a sinais de cansaço inclusive internacional, a Casa Branca passa ao menos dois recados. O primeiro é para Vladimir Putin, segundo uma autoridade sênior do governo, ao mostrar que o governo Biden não pretende recuar e vai manter o fluxo de ajuda econômica e militar a Zelenski na tentativa de conter o avanço de Moscou.

O segundo para o Congresso americano, que tenta aprovar o maior pacote de ajuda militar até aqui em 10 meses de guerra, com uma bancada republicana na Câmara cada vez mais reticente com o aumento de gastos do governo o provável novo presidente da Casa, Kevin McCarthy, já afirmou que o governo não deve dar um "cheque em branco" para Kiev.

Zelenski vai discursar presencialmente ao Congresso, em evento que tem mobilizado a capital americana. Diplomatas de outros países também devem acompanhar, inclusive o embaixador do Brasil, Nestor Forster.

A fala ao Congresso acontece enquanto o governo tenta aprovar o orçamento do ano que vem, que inclui um pacote de US$ 45 bilhões (R$ 234 bilhões) em ajuda à Ucrânia sendo US$ 13 bilhões em ajuda econômica direta ao governo; US$ 9 bilhões em gastos diretos ao Exército do país, com salários, treinamento, armamento e logística; e o restante em ações humanitárias, construção de infraestrutura e reposição de equipamentos já enviados pelo governo americano. Se aprovado, será o maior pacote de ajuda ao país em 10 meses de guerra.

A viagem de Zelenski aos EUA começou a ser desenhada quando os dois presidentes se falaram por telefone no último dia 11, o convite formal foi feito em 14 de dezembro e a confirmação aconteceu de fato apenas no último domingo (18), mas os trâmites foram mantidos em segredo até que o portal de notícias americano Punchbowl News revelou a viagem na terça. A expectativa é de que ele volte ainda nesta quarta ou na madrugada de quinta-feira para a Ucrânia.

Foi o segundo encontro do ucraniano com Biden. O primeiro ocorreu em setembro de 2021, antes da guerra. Dias antes da invasão russa, Zelenski também havia se encontrado com a vice, Kamala Harris, na Alemanha, em sua última viagem oficial antes do começo da guerra.

Logo no começo do conflito, os Estados Unidos chegaram a oferecer a Zelenski a possibilidade de retirá-lo do país, o que o presidente negou, dizendo que precisava "de munição, não de uma carona".

Zelenski e Biden se falam com frequência por telefone, e o ucraniano já havia discursado ao Congresso dos EUA, por vídeo, no começo da guerra, assim como em dezenas de outros parlamentos pelo mundo, como parte da empreitada midiática que o projetou globalmente.

Yahoo notícias

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