sexta-feira, 17 de outubro de 2008

A porcaria que custa ouro



Preocupada com as questões ambientais, a sociedade civil se organiza, se mobiliza, faz das tripas coração para assegurar um planeta mais limpo e saudável para as futuras gerações. Movimenta mundos e fundos, mas quando chega o instante da aferição, os resultados que emergem da ponta do lápis enfatizam contas que nunca fecham, sempre distantes dos números positivos.

E se assim ocorre, a responsabilidade é quase sempre dos governos e das grandes empresas e corporações. É que os objetivos destes muito dificilmente convergem para os da sociedade, a não ser na propaganda e no proselitismo fácil e enganador.
Tomemos o caso da Petrobrás como exemplo.

Empresa governamental, deveria ser a primeira a dar exemplo de sustentabilidade ambiental, e de fato o faz... nas peças publicitárias; setor onde gasta jazidas e mais jazidas de dinheiro vivo... ou – melhor dizendo – de dinheiro imantado pelo viscoso óleo negro.

Utilizando modelos matemáticos sobre dados obtidos com farto material colhido na atmosfera de São Paulo, a pesquisadora do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP, professora Leila Martins, chegou à conclusão que a gasolina nacional gera muito mais ozônio do que o necessário, pior, do que o fartamente propagado.

Quando compara o combustível produzido pela Petrobrás com a gasolina fabricada na Califórnia, nos Estados Unidos, a pesquisadora conclui que a produção do poluente em São Paulo cairia 43% se os automóveis utilizassem combustível com padrão californiano de refino.

Ou seja, falando francamente e sem rodeios: os brasileiros pagam muito mais caro que os californianos para encher o tanque de seus veículos, mas, em contrapartida, são obrigados a receber um produto de muito pior qualidade. Não bastasse a gasolina suja e batizada com água, benzeno, e ‘otras cositas mas’ que polui o ambiente e funde o motor dos nossos carros, temos ainda que pagar pela porcaria, preço de gasolina de primeiro mundo.

Enquanto o meio ambiente padece e o povo lamenta o prejuízo no bolso e na qualidade de vida, a Petrobrás (com ‘p’ minúsculo, mesmo!) exulta.