Desde o princípio, o hip-hop não era somente um gênero musical, mas via a si mesmo como uma forma de cultura que libera a criatividadeFoto: Leo Vals/Hulton Archive/Getty Images |
Em 11 de agosto de 1973, Cindy e seu irmão Clive, mais conhecido como DJ Kool Herc, organizaram uma festa num prédio de apartamentos de Nova York. Foi o nascimento de um gênero musical que conquistou o mundo.
Em 1973, o Bronx era um dos bairros mais perigosos dos
Estados Unidos. Roubos, furtos e assassinatos eram parte do tristonha
quotidiano dos moradores. Os jovens se organizavam entre gangues de rua que
controlavam os quarteirões e brigavam entre si.
O Bronx pegava fogo – literalmente. O Corpo de Bombeiros
ia com frequência apagar incêndios em blocos de apartamentos, enquanto os
senhorios tentavam fraudar as seguradoras.
As ruas eram cobertas de lixo e entulho; os parques,
imundos, atraíam traficantes, prostitutas e cafetões. A infraestrutura local
estava em ruínas, diversos edifícios residenciais estavam vazios e depredados.
O Bronx e outras partes de Nova York, como Lower East
Side, Bedford-Stuyvesant ou o Harlem, chegavam a evocar algumas cidades alemãs
após a Segunda Guerra Mundial, afirmou certa vez o fotojornalista Allan
Tannenbaum.
Tempos difíceis no Bronx
A pobreza era grande, devido ao grande número de
desempregados – não por falta de vontade de
trabalhar, mas simplesmente porque não havia emprego. Quem tinha
condições, deixavam o bairro, se conseguisse encontrar em outro lugar um
senhorio que o aceitasse.
Mesmo após oficializado o fim da segregação racial nos
EUA no início dos anos 1970 boa parte da população branca não queria viver ao
lado dos negros, e continuava a discriminá-los – por exemplo, quando eles
procuravam um apartamento para morar.
O racismo estrutural também contribuía para que
afro-americanos e latinos, em especial, fossem relegados aos bairros
socialmente desfavorecidos e, de certa forma, abandonados a seus próprios meios
para subsistirem. Os cofres da cidade estavam vazios. Muitos dos policiais eram
corruptos e racistas.
Festa de adolescentes vira mito
"Na época, Nova York estava quase falida. Não havia
realmente nada para os jovens fazerem", lembra Cindy Campbell num vídeo da
casa de leilões Christie's, que em 2023 ofereceu objetos da época da fundação
do hip-hop. Em 1973, ela cursava o ensino médio e resolveu fazer uma festa no
início do ano escolar, de modo a juntar dinheiro para comprar roupas antes de
começarem as aulas.
Os ingressos custavam 0,50 dólar para os meninos e 0,25
dólar para as meninas, segundo consta no panfleto que Cindy usou para convidar
os amigos para sua "DJ Kool Herc Party".
Em 11 de agosto de 1973, DJ em questão – que era o irmão
dela, Clive Campbell, de 18 anos – levou seu sistema de som até a sala de
recreação de um prédio de apartamentos na avenida Sedgwick nº 1520, no Bronx:
duas picapes, um mixer, um amplificador e um conjunto de alto-falantes.
Pouco depois, o ar estava impregnado do cheiro de
maconha. Os graves ribombavam, animando o público que suava e dançava na sala
escurecida. Coke La Rock, amigo do DJ Herc, pegou o microfone, saudou os amigos
e começou a rimar. Isso acabaria lhe rendendo a reputação de ser o primeiro MC,
mestre de cerimônias. Ele também conseguiu um bom dinheiro vendendo maconha na
festa.
Em torno de 50 jovens e moradores do bairro estiveram no
evento. Eles presenciaram a primeira festa de hip-hop da história, antes mesmo
de os termos "hip-hop" ou "rap" sequer serem inventados.
As novas sonoridades do DJ Kool Herc
Um rapaz que colocava discos para tocar não era novidade,
e rimar sobre uma música tampouco era algo revolucionário. O comediante
americano Pigmeat Markham já havia lançado uma forma de canto ritmado em 1968,
com o single Here domes the judge. A inovação era a técnica que o DJ Kool Herc
utilizou para criar uma sonoridade que não se ouvia em nenhuma outra parte.
Ele usava só a parte instrumental de músicas, em que se
ouvia o baixo e a bateria. Como esses breaks eram bastante curtos, o DJ Kool
Herc simplesmente colocava a mesma faixa nas picapes e repetia esses trechos
nas duas, alternadamente, aumentado sua duração.
Essa técnica, que ele chamou de merry-go-round
(carrossel), criava um som novo e extremamente dançante. As meninas e meninos
que dançavam a música criada através desses breaks eram chamados breakdancers.
Em seus shows, DJ Kool Herc mixava estilos musicais
diferentes, mas mantinha em segredo os nomes dos discos com que trabalhava,
para forçar quem quisesse ouvir sua música a ir às festas onde ele se
apresentava.
A paixão pela música ele herdara de seu pai, um ávido
colecionador de discos de jazz, gospel e country. DJ Herc se interessava por
soul, mas também pela música disco moderna, e estava sempre à procura de sons
com que pudesse criar uma batida – que é a base de uma boa faixa de hip-hop.
Festas cada vez maiores
A notícia sobre a música que saía como fogos de artifício
das picapes do DJ Kool Herc se espalhou rapidamente pelo Bronx. Cada vez mais
gente queria ir às festas, lembra Coke La Rock no documentário da Netflix
Hip-Hop evolution.
Assassinos, ladrões, dançarinos e gente comum ia às block
parties, as festas de quarteirão ao ar livre, instituídas quando a sala de
recreação ficou pequena demais. Elas se tornaram comuns nos bairros
nova-iorquinos nos anos 1970.
Os postes de luz costumavam ser a fonte de eletricidade
clandestina para os sistemas de som. Para um DJ se destacar, era preciso chamar
a atenção. e o DJ Kool Herc tinha as caixas de som maiores e mais barulhentas
da vizinhança.
Mais do que só música
Desde o princípio, o hip-hop não era só um gênero
musical, mas se viacomo uma forma de cultura que libera a criatividade,
consistindo em cinco elementos: DJ, rap, breakdance, grafite e conhecimento. Os
eventos do DJ Kool Herc reuniam tudo isso: mais um motivo por que a lendária
festa da avenida Sedgwick é considerada o nascimento do hip-hop.
Quem quisesse ouvir hip-hop tinha que que ir às block
parties, já que em meados da década de 1970 ainda não se vendiam discos do
estilo, e as músicas não tocavam no rádio. Foi só em 1979 que a música Rapper's
delight, do grupo Sugarhill Gang, se tornou a primeira faixa de hip-hop a
entrar nas paradas americanas.
Hoje em dia, essa faixa é considerada um clássico, assim
como The message, do grupo Grandmaster Flash & The Furious Five, surgido em
1982, que narra a vida nos guetos de Nova York.
"O hip-hop tem sido a voz dos sem voz, as histórias
das comunidades marginalizadas, onde as pessoas podem contar sobre as
desigualdades sociais nessas comunidades negras e pardas. Não só aqui na
América, mas ao redor do mundo", afirma Rocky Bucano, diretor do Museu
Universal do Hip-hop de Nova York, que será inaugurado em 2024.
Num vídeo da série História negra em dois minutos, a
cineasta Ava DuVernay diz que o hip-hop é a "CNN da comunidade
negra", por relatar poeticamente tudo o que os negros vivenciam na vida
cotidiana, assim como os problemas sociais, comunitários e econômicos que
enfrentam. Muitos dos rappers americanos que chegaram ao topo não vieram da
classe média, mas sim, das regiões mais pobres onde o hip-hop surgiu.
Do nicho ao "mainstream"
O hip-hop é atualmente um dos gêneros musicais mais
populares. A partir do nicho, aquilo que era somente uma subcultura chegou ao
mainstream, gerando estrelas como Tupac, Notorious B.I.G., LL Cool J, Public
Enemy, the Beastie Boys, Wu-Tang Clan, Ice Cube, Ice T, Timbaland, Jay-Z, Dr.
Dre, Nas, Eminem, Nicki Minaj, Lil Wayne, Drake, Missy Elliott, Snoop Dogg e
Kendrick Lamar – para citar alguns.
A partir dos Estados Unidos, a cultura hip-hop se
espalhou pelo mundo, influenciando a moda, cinema, publicidade e arte. O gênero
se tornou também uma área de estudo.
Na Alemanha, onde a cena hip-hop se desenvolveu com algum
atraso em diferentes correntes, pode-se até votar nesse gênero musical. O
Partido do Hip-hop já existe desde 2017, mas ainda não conseguiu eleger
representantes para o parlamento federal.
DW
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XI – Coleção Ciência e espiritualidade para crianças Livro 1: Panda Zen e a menina azeda Livro 2: Panda Zen e o verdadeiro valor Livro 3: Panda Zen e as mudanças Livro 4: Panda Zen e a Maria vai com as outras Livro 5: Panda Zen e a estrelinha cintilante Livro 6: Panda Zen e a verdade absoluta Livro 7: Panda Zen e o teste das 3 peneiras Livro 8: Panda Zen e os ensinamentos da vovó Livro 9: Panda Zen e os cabelos penteados Livro 10: Panda Zen e a magia da vida feliz Livro 11: Panda Zen e as paixões enganosas Livro 12: Panda Zen entre a reflexão e a ação Livro 13: Panda Zen e o mais importante Livro 14: Panda Zen, a gota e o oceano Livro 15: Panda Zen e a indecisão Livro 16: Panda Zen e o vaga-lume Livro 17: Panda Zen e a busca da identidade Livro 18: Panda Zen entre o arbítrio e a omissão Livro 19: Panda Zen e o trabalho Livro 20: Panda Zen e a falsa realidade
XII – Coleção Ensinando as crianças e seus papais a pensar Livro 1: O segredo da felicidade Livro 2: A gentileza pode tudo Livro 3: A mulher bela e rica e sua irmã feia e pobre Livro 4: O pequeno cachorro zen Livro 5: O pequeno gato zen Livro 6: O pequeno panda zen Livro 7: O pequeno sapo zen Livro 8: É melhor pensar antes de falar Livro 9: Os desafios são necessários Livro 10: A paz é a base de tudo
XIII – Amazon collection: the green paradise Book 1 - The amazon rainforest Book 2 - The jaguar (A onça pintada) Book 3 - Macaw (Arara-canindé) Book 4 - Golden Lion Tamarin Book 5 - The button (O boto) Book 6 - Frogs Book 7 - Heron (Garça-real) Book 8 - Swallowtail (Saí-andorinha) Book 9 - Jacaretinga Book 10 - Harpy Book 11 - Tapir (Anta) Book 12 - Snakes Book 13 - Puma Book 14 - Sloth (Bicho Preguiça) Book 15 - Toucan (Tucano-toco) Book 16 - Amazonian Caburé Book 17 - Pisces Book 18 - White-faced spider monkey Book 19 - Irara Book 20 - Red macaw Book 21 - Otter (Ariranha)
XIV – The cutest pets on the planet collection Book 1 - Black Eyes, the panda bear Book 2 - The happy kitten Book 3 - The aquarium fish Book 4 - Doggy, man's best friend Book 5 - The feneco Book 6 - The rabbit Book 7 - The chinchilla Book 8 - The Greenland Seal Book 9 - The dolphin Book 10 - The owl
B - TEORIA TEATRAL, DRAMATURGIA E OUTROS XV – ThM-Theater Movement: Livro 1. O teatro popular de bonecos Mané Beiçudo: 1.385 exercícios e laboratórios de teatro Livro 2. 555 exercícios, jogos e laboratórios para aprimorar a redação da peça teatral: a arte da dramaturgia Livro 3. Amor de elefante Livro 4. Gravata vermelha Livro 5. Santa Dica de Goiás Livro 6. Quando o homem engole a lua Livro 7: Estrela vermelha: à sombra de Maiakovski Livro 8: Tiradentes, o Mazombo – 20 contos dramáticos Livro 9: Teatro total: a metodologia ThM-Theater Movement Livro 10: Respiração, voz e dicção: para professores, atores, cantores, profissionais da fala e para os que aspiram a boa emissão vocal - teoria e mais de 200 exercícios Livro 11: Lampião e Prestes em busca do reino divino - o dia em que o bandido promovido a homem da lei guerreou com o coronel tornado um fora da lei Livro 12: Giordano Bruno: a fogueira que incendeia é a mesma que ilumina Livro 13: Amor e ódio: não esqueçamos de Aylan Kurdi Livro 14: Pitágoras: tortura, magia e matemática na escola de filosofia que mudou o mundo Livro 15: Irena Sendler, minha Irena Livro 16: O juiz, a comédia Livro 17: A comédia do mundo perfeito Livro 18: O dia do abutre Livro 19: A chibata Livro 20: O inspetor geral, de Nikolai Gogol – accountability pública, fiscalização e controle Livro 21: A noite mais escura: o hospício de Barbacena, uma Auschwitz no coração do Brasil
XVI – Shakespeare & accountability Livro 1: Medida por medida, ensaios sobre a corrupção, a administração pública e a distribuição da justiça Livro 2: Macbeth, de Shakespeare: entre a ambição e a cobiça, o sucesso ou o ocaso de profissionais e organizações Livro 3: A liderança e a oratória em Shakespeare Livro 4: Otelo, de Shakespeare: a inveja destroi pessoas, famílias e organizações Livro 5: Macbeth, de Shakespeare: entre a ambição e a cobiça, o sucesso ou o ocaso de profissionais e organizações Livro 6: Ética & Governança à luz de Shakespeare
C - PLANEJAMENTO XVII – Planejamento estratégico e administração Livro 1: Quasar K+ planejamento estratégico Livro2: Ouvidoria pública: instrumento de participação e aprofundamento da democracia Livro 3: Pregão: economia e eficácia na administração pública Livro 4: Comunicação estratégica: da interlocução às palestras exitosas – como falar bem em ambientes controláveis e em situações de extrema pressão Livro 5: As máximas do empreendedor Livro 6: Vivendo e aprendendo a amar segundo Rodoux Faugh
D – OUTROS XVIII – A pena e o amor como espada Livro 1: Os anjos esquecidos por Deus – romance Livro 2: Moving Letters – a arte de escrever bem Livro 3: Sobre flores e amores – poemas Livro 4: 300 maneiras corajosas de dizer bom dia Livro 5: Revolucione amando incondicionalmente Livro 6: Sobre homens e lobos, o conto Livro 7. A coroa de mil espinhos - poemas
Sobre o autor Antônio Carlos dos Santos é escritor e criador das seguintes metodologias: ©Planejamento Estratégico Quasar K+; ©ThM – Theater Movement; e ©Teatro popular de bonecos Mané Beiçudo.
Acompanhe o autor no facebook e nos blogs: 1. Cultura e educação: culturaeducacao.blogspot.com/ 2. Teatro popular: teatromanebeicudo.blogspot.com/ 3. Planejamento: https://planejamentoestrategicoquasark.blogspot.com/ |