segunda-feira, 7 de março de 2022

Novo relatório do IPCC é 'atlas do sofrimento humano' pelas mudanças climáticas, diz chefe da ONU

Na foto de arquivo, em 20 de julho de 2021, um voluntário com uma motosserra fica em frente a árvores arrancadas em Kreuzberg, estado da Renânia-Palatinado, no oeste da Alemanha, após inundações devastadoras atingirem a região.  — Foto: Christof Stache/AFP

Especialistas alertam para necessidade de adaptação e redução de emissão gases de efeito estufa; ações adotadas até agora são insuficientes, segundo relatório.

 

Metade da população mundial é "muito vulnerável" aos impactos cruéis e crescentes das mudanças climática – e a inação "criminal" dos governantes ameaça reduzir as poucas possibilidades de um "futuro habitável" na Terra, alertou o Painel Intergovernamental de Especialistas sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU nesta segunda-feira (28).

Em seu novo relatório, a entidade, que reúne 270 cientistas de 67 países, alerta para secas, inundações, ondas de calor, incêndios, insegurança alimentar, escassez de água, doenças, aumento do nível das águas e mais.

 “O relatório do IPCC de hoje é um atlas do sofrimento humano e uma acusação condenatória de liderança climática fracassada”, disse o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, em comunicado".

Com fatos e mais fatos, este relatório revela como as pessoas e o planeta estão sendo atingidos pelas mudanças climáticas. Eu vi muitos relatórios científicos durante minha carreira, mas nenhum como este", completou.

O relatório é o segundo capítulo de três sobre as ações humanas e as mudanças climáticas. O primeiro foi publicado em agosto do ano passado; o segundo está previsto para abril.

O texto foi negociado linha a linha, palavra por palavra, pelos 195 Estados-membros da ONU. Segundo o resumo do documento para tomadores de decisão – como parlamentares e chefes de Estado –, entre 3,3 e 3,6 bilhões de pessoas já são "muito vulneráveis" às mudanças climáticas.

O chefe da diplomacia dos Estados Unidos, Antony Blinken, afirmou que o relatório é um "recordação de que a crise climática ameaça a todos".

"Também demonstra por que a comunidade internacional deve continuar adotando medidas climáticas ambiciosas, mesmo quando enfrentamos outros desafios globais urgentes", acrescentou o secretário de Estado em um comunicado.

Para Blinken, "se as decisões políticas e econômicas são os principais fatores de conflito, a mudança climática aumentará a ameaça à estabilidade local e mundial".

"Os relatórios do IPCC são como sinos de alarme para a crise climática", alertou a especialista Christiana Figueres, ex-secretária-executiva da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática (UNFCCC, na sigla em inglês), e cofundadora da "Global Optimism".

"Este último relatório é um lembrete sóbrio de que nosso fracasso global em reduzir as emissões está levando a impactos devastadores na saúde, econômicos e sociais em todo o mundo. Mas o relatório também é um lembrete de que temos o poder de mudar isso", ressaltou.

"Podemos prevenir e nos proteger de eventos climáticos extremos, fome, problemas de saúde e muito mais, cortando as emissões e investindo em estratégias de adaptação. A ciência (e as soluções) são claras. Depende de como moldamos o futuro", completou Figueres.

Mais pobres sofrem mais

O sofrimento é ainda maior para as populações mais frágeis, como os povos autóctones ou pobres, afirmou o IPCC, mas também afeta os países ricos – como ocorreu no ano passado, com as inundações na Alemanha e os incêndios devastadores nos Estados Unidos.

"É muito claro para nós que nenhuma quantidade de adaptação pode compensar a falha em limitar o aquecimento a 1,5°C [meta estabelecida pelo Acordo de Paris em 2015]", afirmou a presidente do grupo dos Países Menos Desenvolvidos (LDCs) nas negociações climáticas da ONU, Madeleine Diouf Sarr.

A temperatura do planeta aumentou, em média, 1,1 °C desde a era pré-industrial. Em 2015, o mundo se comprometeu, com o Acordo de Paris, a limitar o aquecimento a 2 °C, com esforços para mantê-lo abaixo de 1,5 °C.

Na primeira parte de seu relatório, publicado em agosto do ano passado, os especialistas do IPCC estimaram que, até 2030 – dez anos antes do que se pensava –, o aumento da temperatura atingiria o limite de 1,5°C.

O texto desta segunda (28) destaca que ultrapassar os 1,5ºC de aquecimento – ainda que de maneira temporária, antes de tentativas de esfriar o planeta depois – poderia provocar danos "irreversíveis" a ecossistemas frágeis como os polos, as costas e as montanhas, com efeitos em cascata para as comunidades que vivem nestas áreas.

"O relatório confirma o que já estamos vendo e experimentando – a mudança climática está causando perdas e danos devastadores, e afetando desproporcionalmente nossa população vulnerável", disse Sarr."

"De acordo com este relatório, o financiamento acessível é uma barreira fundamental, e buscaremos finanças públicas dedicadas nas negociações internacionais, tanto para a adaptação, como para enfrentar perdas e danos", completou.

O financiamento para enfrentar as mudanças climáticas é uma grande questão para países menos desenvolvidos. Em 2009, países ricos prometeram pagar aos mais pobres U$S 100 bilhões (cerca de R$ 516 bilhões) por ano, até 2020, para ajudá-los a se adaptar às mudanças e mitigar os efeitos dela. Isso não foi alcançado.

O copresidente do grupo do IPCC que preparou o documento, .Hans-Otto Pörtner, lembrou que o relatório não pode ser ofuscado pela invasão russa da Ucrânia. O aquecimento do planeta "nos persegue, ignorá-lo não é uma alternativa", declarou à AFP.

O que é o IPCC e por que os alertas dele são preocupantes?

As consequências desastrosas aumentarão com "cada décimo adicional de aquecimento".

O relatório também prevê o desaparecimento de 3% a 14% das espécies terrestres e alerta que, até 2050, quase um bilhão de pessoas viverão em áreas costeiras de risco.

"A adaptação é crucial para nossa sobrevivência", disse em um comunicado o primeiro-ministro de Antígua e Barbuda, Gaston Browne, que preside a Aliança de Pequenos Estados Insulares (AOSIS).

Brown fez um apelo para que os países desenvolvidos respeitem o compromisso de aumentar a ajuda climática aos países pobres – para permitir que se preparem para as catástrofes previstas.

Esforços de adaptação insuficientes

O relatório constata que, apesar de alguns progressos, os esforços de adaptação são em sua maioria "fragmentados, de pequena escala" e que, sem uma mudança de estratégia, a lacuna entre o que é necessário e o que precisa ser feito pode aumentar.

Mas, em um determinado ponto, adaptar-se não será possível, de acordo com o documento. Alguns ecossistemas já foram pressionados "além de sua capacidade de adaptação" e outros se enfrentarão o problema caso o aquecimento global continue, adverte o IPCC, enfatizando que a adaptação e a redução das emissões de C02 devem caminhar juntas.

"À luz dos compromissos atuais, as emissões globais vão aumentar quase 14% na década atual. Isto representará uma catástrofe. Vai destruir qualquer chance de manter viva a meta de 1,5ºC", denunciou António Guterres, que apontou como "culpados" os grandes países emissores.

No fim do ano passado, na COP26 em Glasgow, o mundo prometeu acelerar a luta contra o aquecimento global e reforçar as ambições para a COP27 – programada para ocorrer no Egito em novembro.

"Não esqueçamos de uma coisa: estamos todos no mesmo barco", afirmou o ex-primeiro-ministro de Tuvalu, Enele Sopoaga. "Ou conseguimos flutuar ou afundamos e todos nos afogamos", acrescentou o ex-governante da pequena ilha no Oceano Pacífico.

France Presse




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