terça-feira, 8 de março de 2022

Guerra na Ucrânia: “O pior está por vir”

Criança em campo para refugiados temporários em Przemyśl, na Polônia - Foto: Reprodução/Vaticano News

Enquanto mais de milhão de ucranianos já deixaram o país, Putin diz que “vai até o fim”

 

Crianças, crianças, muitas crianças. Algumas escolhendo ursinhos, bonecas, jogos, brinquedos caridosamente oferecidos em cestos espalhados à sua volta. Algumas bebendo um copo de leite, sorvendo uma mamadeira, mordendo um sanduíche. Todas bem agasalhadas, gorrinhos na cabeça, um olhar inocente, curioso, dirigido às câmaras, certamente sem compreender o que se passava em volta. Acompanhadas por mães e avós, já que os pais não podiam acompanhá-las, obrigados, por decreto ou vontade própria, a enfrentar a invasão russa de sua Ucrânia. Recepcionadas pela solidariedade dos vizinhos de seu país, que assim como os ucranianos vivenciam a experiência histórica de terem sido parte do Império Russo, da União Soviética ou simples vizinhos desta Rússia, cujo comandante, Putin, não esconde sua nostalgia do passado imperial de seu país e quer, declaradamente, reconstruí-lo.

Imagens que chocam, comovem, mobilizam um sentimento de solidariedade em torno do mais de milhão de ucranianos que já deixaram seu país natal em busca de abrigo seguro. Captadas em todo o mundo, provavelmente não em países simpatizantes da Rússia, mostram famílias precariamente refugiadas nas garagens de seus prédios, com móveis e colchões que retiraram de seus apartamentos, estações de metrô repletas de pessoas deitadas pelo chão, estações de trem lotadas por ucranianos que esperam trens que os levem para algum lugar, de preferência perto de alguma fronteira. Mais dramáticas ainda são as imagens que mostram jovens tentando obstaculizar o caminho de tanques e carros de combate russos. Lembram as dos civis húngaros e tchecoslovacos rebelados resistindo às invasões pela União Soviética nas décadas de 50 e 60 do século passado. Com a diferença que são instantâneas, imediatas, assim como as de enormes grupos de ucranianos com bandeiras azul e amarelas postando-se nas estradas para impedir o avanço de comboios russos. Conseguiriam?

Guerra pela internet

As transmissões diretas das guerras foram dificultadas depois do conflito do Vietnã, quando o sangrento noticiário de TV apresentado às famílias norte-americanas na hora de seu jantar criou o clima que minou o governo Johnson e acelerou a debacle do exército norte-americano diante dos vietnamitas. Mas nestes tempos globais de internet, mídias sociais, smartphones e satélites, que fortaleceram e reinventaram os tradicionais rádio e TV e transcenderam a mídia impressa, a informação ganhou sete vidas, para o bem e para o mal. A guerra se desenrola dramática e quase instantaneamente diante de nossos olhos. Os chefes de Estado ou de governo fazem diplomacia, ameaças ou prestam contas à sua sociedade a intervalos cada vez mais curtos para manter vivo o apoio às suas decisões. É a guerra via comunicação, que universaliza os fronts dos combates.

Ninguém melhor que o presidente da Ucrânia, o ator Volodymyr Zelensky, utiliza a gama de possibilidades oferecida por essa parafernália tecnológica. Depois de vencer as eleições locais por cerca de 70% dos votos, graças ao descrédito acumulado pelos políticos tradicionais e aos embates que devoravam a sociedade, sua popularidade desabava, consumida pelos problemas do país, até que… Putin invadiu o país. Como um personagem shakespeariano, usando todo o seu talento de ator e capacidade de comunicação, Zelensky tornou-se o líder inconteste da população ucraniana e enorme respeito internacional ao liderar a resistência militar e popular à invasão russa. Ainda não na Otan, mas Zelensky já pediu a aceitação de seu país na União Europeia, que alavancou a economia de todos os países da ex-União Soviética que já tiveram acesso ao organismo.

Do seu lado, Putin mantinha-se ao longo da semana na sua rota de derrotar, desarmar e neutralizar a Ucrânia, mantendo as ameaças de lançar mão de seu arsenal nuclear e recrudescendo os ataques militares em inúmeras regiões e cidades importantes, especialmente nas cercanias do litoral que dá acesso aos mares de Azov e Negro. Seu país está sofrendo sanções econômicas duríssimas, inéditas contra um país das dimensões da Rússia, que envolvem o sistema internacional de pagamentos SWIFT, o seu banco central, que teve bloqueadas metade dos mais de US$ 600 bilhões em reservas que acumulara em anos recentes, e fortunas e propriedades dos oligarcas russos seus aliados que exibem sua riqueza mundo afora. São sanções cujos efeitos não são imediatos, mas devem fragilizar a situação econômica do país, dos apoiadores de Putin, e a população, pois 80 importantes empresas multinacionais anunciaram a saída do país, inclusive de serviços como cartões de crédito, entre outros, que foram encerrados. Nem por isso Putin mudou uma palavra de seu discurso.

A pressão do Ocidente

Os presidentes dos EUA, Joe Biden, e da França, Emmanuel Macron e o primeiro-ministro, Boris Johnson, do Reino Unidos mantém em fogo alto a pressão contra a Rússia. Impossibilitados legalmente de agir via a Otan, os membros da aliança reforçam o arsenal militar dos países próximos da Rússia como a Polônia, Lituânia, Letônia, Estônia e, certamente, fazem chegar armamentos aos militares ucranianos via caminhos evidentemente não revelados.

Guerra na Ucrânia

A guerra ocupou os dez minutos iniciais do discurso sobre o Estado da União feito pelo presidente Biden na última terça-feira, o primeiro de seu mandato, fortemente aplaudidos por democratas e republicanos. É importante lembrar que Biden enfrentará eleições parlamentares este ano e registra uma popularidade muito baixa nas pesquisas, no momento, influenciada, entre outras coisas, pela recente e desastrada retirada dos militares norte-americanos do Afeganistão.

Macron, em conversa telefônica com Putin, ouviu-o dizer “que vai até o fim” e que “o pior ainda está por vir” e respondeu que ele estava cometendo “um grande erro”. Macron é candidato a um segundo mandato presidencial nas eleições francesas agora em abril e se empenha em se distinguir como o porta voz da Europa junto a Putin.

Já o primeiro-ministro Boris Johnson também desenvolve pressões, tentando fazer os britânicos esquecerem as festas em que participou durantes as medidas sanitárias implantadas em seu país durante a pandemia. Até o presidente Jair Bolsonaro, que, alegando neutralidade, não critica as ações russas, foi alvo de telefonema de Johnson para convencê-lo a mudar de posição.

Enquanto Putin prometia que “vai até o fim” e que “o pior está por vir” as conversas de paz entre ucranianos e russos não iam além de estabelecer corredores de segurança para a saída da população do país, sinal de que o conflito vai continuar no solo da Ucrânia, cuja imagem mais forte foi o ataque à usina nuclear de Zaporizhzhia, a maior da Europa, que tomou o centro do noticiário na última sexta-feira.

Luiz Roberto Serrano, Jornal da USP



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