domingo, 16 de julho de 2017

Índia censura palavra "vaca" em documentário sobre Nobel de Economia

                                       EFE/Moncho Torres


O Conselho Central de Certificação de Cinema (CBFC, sigla em inglês) da Índia determinou que quatro palavras, uma delas "vaca", fossem censuradas em um documentário sobre o filósofo indiano e ganhador do prêmio Nobel de Economia, Amartya Sen, como requisito para que a obra obtenha permissão para ser exibida no país.
"O documentário estrearia nesta sexta-feira, mas, na última terça-feira, o escritório do CBFC em Calicute me intimou pessoalmente e me disse que havia quatro palavras que deveriam ser censuradas com um 'bip', entre elas 'vaca', para que o filme pudesse estrear", disse à Agência Efe o diretor do documentário, Suman Ghosh.
Além do termo "vaca", o escritório de Calicute do CBFC ordenou que as palavras "Gujarat" (nome desse estado da Índia), "Hindu" e "Hindutva" (concepção extremista que considera que a nacionalidade indiana está ligada à religião hindu), também fossem censuradas com um "bip".
"Tentei perguntar as razões, mas não entendi a explicação que me deram, não fazia nenhum sentido", explicou Ghosh.
O diretor disse que não vai modificar o filme e que recorrerá da decisão a instâncias superiores.
O escritório do CBFC em Calicute, por sua vez, se recusou a responder à Efe e explicou que "não falará com os meios de comunicação sobre este assunto".
O documentário "The Argumentative Indian" está baseado no livro homônimo de Amartya Sen e conta com a presença do próprio intelectual analisando a Índia contemporânea e episódios controversos de sua história recente, como os conflitos comunais e os religiosos entre muçulmanos e hindus.
Segundo a imprensa local, o escritório de Calicute do CBFC remeteu um relatório à sede central em Mumbai (antiga Bombaim) explicando que as palavras censuradas "poderiam ofender os sentimentos de certas comunidades" e "poderia colocar em perigo a segurança de Gujarat", que é citado no documentário ao falar da violência contra a minoria muçulmana em 2002.
Para Ghosh, esta explicação parece "irônica", sobretudo levando em consideração que o livro em que se baseia o documentário fala sobre "o pluralismo de ideias e a importância do debate" como marcas da Índia.
"Vamos recorrer e esperar para ver como o problema se desenvolve, mas, aconteça o que acontecer, não vou censurar um dos intelectuais mais importantes da Índia", esclareceu Ghosh.
Amartya Sen, professor da Universidade de Harvard e ganhador do prêmio Nobel de Economia em 1998 "por sua contribuição à economia do bem-estar", é um dos intelectuais mais importantes da atualidade.
O CBFC é fonte habitual de manchetes nos jornais da Índia, seja por censurar o nome Bombaim em uma canção alegando que o denominação oficial da cidade é "Mumbai", como por proibir os longos beijos nos filmes de James Bond e impedir a projeção de "Cinquenta Tons de Cinza" nos cinemas.

EFE

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