sábado, 2 de abril de 2016

'Sensacionalista' concorre com a realidade e ri à toa em tempos de crise

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Stefano MartiniImage copyrightStefano Martini
Image captionLanna (esquerda), Mendonça e Fernandes: três das quatro cabeças do "Sensacionalista"
Em meio ao clima de polarização política e social no Brasil, é difícil encontrar denominadores comuns. Um deles parece ser o compartilhamento de piadas do Sensacionalista.
Embora tenha sido fundado em 2009, o site satírico viu sua popularidade disparar com a crise política e hoje se transformou em uma rara razão para risadas dos dois lados do espectro político. Manchetes fictícias não poupam autoridades. Vão de críticas à presidente: "Com Lula no governo, Dilma pede dicas a Temer de como ser vice decorativo". E também à oposição: "PSDB e PMDB encomendam novos armários para engavetar tudo".

Polarização

"Nunca foi a intenção da gente confundir as pessoas. O site surgiu justamente para fazer humor, uma coisa de moleque, inspirado pela (revista satírica americana) The Onion. E certamente a gente não tinha qualquer intenção de fazer algum tipo de protesto. Fiquei extremamente surpreso com o volume que a coisa tomou", diz em entrevista à BBC Brasil, o jornalista e escritor Nelito Fernandes, criador do Sensacionalista.
Agência BrasilImage copyrightAGB
Image captionFeliciano (à direita) não viu muita graça em piada do site
Fernandes lembra exatamente de como a sorte do site começou a mudar. Durante a campanha eleitoral de 2014, a TV Globo entrevistou os candidatos. Após uma dura entrevista do apresentador do Jornal Nacional, William Bonner, com a presidente Dilma Rousseff, o site publicou a manchete irônica: "Após entrevista com Dilma, Bonner aparece com 20% das intenções de voto".
"Naquele momento, a gente tinha no máximo 4 mil visitas por dia, mas durante a campanha isso saltou para 30, 40 mil. Hoje, está na casa de 300 mil. Essa crise é péssima para o Brasil, mas foi ótima para a gente."
SensacionalistaImage copyrightSensacionalista
Image captionManchete "lançando" candidatura de apresentador alavancou popularidade do site
Hoje, o Sensacionalista conta 2,3 milhões de seguidores no Facebook. O site tem, segundo Fernandes, 11 milhões de visitantes únicos por mês e 25 milhões de visualizações. Números que impressionam até em comparação com veículos "reais" de mídia brasileiros. Além do momento propício, o criador do site acredita que o sucesso é resultado de uma política "todo mundo é um alvo e ninguém está a salvo". Especialmente no campo político.
"Temos a preocupação de sermos imparciais nas piadas. Gosto de dizer que oSensacionalista é contra todos, só não sabemos quem. Quando atingimos um milhão de seguidores, a gente fingiu que iria fechar o site para se aposentar em alta e pediu a várias celebridades que gravassem um vídeo sobre a gente. Umas das pessoas que toparam foi o (prefeito do Rio) Eduardo Paes, que criou uma notícia falsa de que o site seria declarado patrimônio da cidade. A gente adorou, mas imediatamente começou a bater nele", conta o fundador.
Mas o foco não é só político. Entre os posts mais bem-sucedidos do site, estão uma piada com a inflação: "Real terá novo animal estampado na cédula: Ja vali" e outra com a menor atenção dada à crise na saúde: "Aedes aegypti pede para ser citado em delação para voltar ao noticiário".
ReutersImage copyrightReuters
Image captionO presidente Lula foi alvo de uma das mais populares piadas da história do site
Além de Fernandes, outras três pessoas se encarregam da produção de conteúdo para o Sensacionalista: Leonardo Lanna e Martha Mendonça, que assim como Fernandes trabalham como roteiristas de programas humorísticos da TV Globo, e o jornalista Marcelo Zorzanelli – este, o único que trabalha exclusivamente para o site. Apesar da popularidade, as receitas do Sensacionalista, segundo Fernandes, vêm apenas da venda de anúncios via Google e a produção de editoriais bem-humorados para clientes corporativos.
"Preciso levar uma vida de hábitos frugais, mas ao menos tenho prazer com o que faço. Se a gente focasse em uma pegada mais comercial, o site perderia a graça. Hoje, temos uma liberdade editorial que não existe em lugar nenhum do Brasil. Não precisamos beijar a mão de ninguém ou nos preocupar com o lucro", diz Zorzanelli.
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Image captionPiada com acusações a senador foi a segunda mais curtida da história do site
No entanto, a turma do Sensacionalista percebeu uma chance de capitalização e, no dia 1º de abril, lançará em livro uma antologia das melhores piadas do site. Bem ao estilo da trupe, o livro se chama Pagar por um Livro que Está na Internet É Sinal de Genialidade, Dizem Especialistas (editora Belas-Letras).
Fernandes e Zorzanelli admitem que o sucesso trouxe o que se pode chamar de um pouco mais de responsabilidade para o site. Mas Fernandes afirma que o acirramento dos ânimos no Brasil serve como estímulo para mais piadas.
"O momento é de muito estresse e tensão e isso faz com que as pessoas às vezes não enxerguem as bobagens de cada lado. E, como muita gente está com a guarda levantada, a mensagem chega mais fácil se vier na forma de humor. Queremos provocar uma reflexão, mas também somos extremamente bobos", conta.
"A gente tem que concorrer com a realidade, está ficando mais difícil fazer piada", acrescentou Zorzanelli ressaltando o bom humor com que observa a crise política atual.
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Image captionIronia com participação do senador em manifestações contra o governo também fez sucesso
Diante do teor pouco politicamente correto de algumas postagens, é de se imaginar que alvos do Sensacionalista por vezes expressem sua insatisfação publicamente, inclusive com processos na justiça. Não parece ser o caso na prática. Segundo a equipe, o site foi processado uma única vez, depois de um post em que ironizaram o deputado federal Marco Feliciano (PSP-SP), líder evangélico conhecido por posições polêmicas em questões como os direitos dos homossexuais.
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Image captionVídeo com o presidente lula teve 246 mil "curtidas" no Facebook
"Quando o casamento gay foi aprovado nos Estados Unidos, escrevemos que o Feliciano, em protesto, deixaria de importar cosméticos dos EUA. Ele tinha sido personagem de algumas piadas bem mais fortes da gente, mas ficou extremamente irritado com uma que a gente nem tinha achado tão engraçada assim. Mas ele perdeu o processo em todas as instâncias", conta Zorzanelli.
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Image captionCelebridades também não escapam do "Sensacionalista"
O conteúdo do site obedece ao que a equipe chama de "esquema de assembleia": as piadas precisam ser aprovadas por maioria simples para entrar no site. E nem sempre a unanimidade é garantia da popularidade de uma manchete. Na verdade, Fernandes & cia continuam se surpreendendo: no ano passado, uma paródia dos vídeos produzidos pelo Facebook para o Dia do Amigo, montada em "homenagem" ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi compartilhada 246 mil vezes na rede social.
"A melhor evidência de que estamos fazendo a coisa certa é que gente de todas as tendências políticas acusa a gente de pertencer ao outro lado. E a gente não parece que vai sofrer tão cedo com falta de material para as piadas", finaliza Fernandes.
Por Fernando Duarte, da BBC Brasil em Londres
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