sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Jonas, infrator,17 anos: cursou até a 7ª série e não aprendeu a ler

Do UOL-Educação



O pedido do jovem infrator ao chegar na Fundação Casa foi incomum: `senhora, eu queria aprender a ler`. Era seu `sonho`, contam as professoras. Sua apreensão também foi pouco usual: ao achar que havia cometido um erro muito grave, Jonas*, 17, resolveu se entregar e cumprir sua pena.

Ele perdeu a liberdade, mas realizou o sonho: prestes a completar 18 anos, após quase um ano de internação, ele começa a ler e a escrever. Até chegar à fundação, Jonas havia estudado até a 7ª série em uma escola pública de São Paulo. Anos na sala de aula, no entanto, não lhe garantiram sequer a leitura e a escrita.

Sem conseguir acompanhar às aulas, ouviu de uma professora que deveria `sentar e apenas copiar`. `Os professores não tinham tempo`, diz. Passava de ano com a aprovação do conselho de classe. Passava, mas não aprendia. `Pegava ônibus só pelo número, não pela letra`.

O histórico escolar registra ainda duas reprovações. Sem aprender e prestes a terminar o ensino fundamental, decidiu abandonar a escola. Cometeu um ato infracional e procurou o fórum da cidade para se entregar. Perdeu a companhia dos amigos, da namorada e o abrigo na casa da mãe.



Na 8ª série sem saber ler

Quando as grades se fecharam, ele `adotou` um novo corte de cabelo (igual para todos os internos), passou a usar o uniforme e percebeu uma chance de realizar o seu maior sonho. Seu histórico escolar lhe garantiu matrícula na 8ª série, atual 9º ano, do ensino fundamental.

Na sala, sentou na primeira fila e começou a fazer reforços de alfabetização. Os outros meninos zombaram dele, mas ele não ligou. Aos poucos, quem só sabia desenhar umas letras passou também a juntar sílabas: pato, vaca, faca, coelho, foram algumas das primeiras palavras que leu sozinho.

`Eu não sabia nada quando entrei aqui. Minha mãe até chorou quando eu ganhei diploma de melhor aluno`, conta o interno. Fez também cursos de corte de cabelo, artes cênicas, artes plásticas, biojóias e aprendeu a fazer sabonetes e salgados. Também é destaque no time de basquete na unidade.

Mario Volpi, representante da Unicef, afirma que as medidas com mais êxito estão relacionadas a estruturas que não necessitam da internação, mas dependem da articulação entre a escola, a comunidade e o sistema de atendimento socioeducativo. `O ideal é que a instituição não precise prender para ele descobrir suas habilidades`, diz.

Logo que entrou na Fundação Casa, Jonas descobriu que seria pai. Perdeu os nove meses de gravidez, o nascimento do bebê e só conheceu a filha quando ela completou três meses. `Agora eu quero trabalhar e cuidar da minha filha. Quero estudar, fazer supletivo e depois fazer uma faculdade, quero ser professor de educação física`, diz.