No ano de 2.000, Dacar sediou a Conferência Mundial de Educação, evento que deu origem ao importante documento Educação para Todos.
O documento aglutina um conjunto de compromissos mais que importante para países que se encontram em posição semelhante ou pior que o Brasil. E mais, estabelece um ousado cronograma para o cumprimento das metas pactuadas. A data abençoada é 2.015, ano em que todos os países deverão ter realizado a lição de casa.
Entre as metas acordadas estão a qualificação do ensino, a ampliação da oferta de educação - sobretudo na primeira infância - e a substancial elevação das taxas de alfabetização de adultos.
Passados oito anos da aprovação do documento, a Organização das Nações Unidas, através da UNESCO, divulgou o Relatório de Monitoramento Global de Educação para Todos, onde apresenta os resultados das avaliações realizadas quanto ao cumprimento das metas.
A análise das informações resultou num ranking dos países, destacando os que efetivamente têm investido no setor, qualificando o ensino e melhorando a educação. E, de igual modo, os que não estão. Como num samba de uma nota só, a situação do Brasil, continua a mesma, de mal a pior.
Dentre os 129 países pesquisados, o Brasil ficou com a 80ª posição. Atrás de nações ‘poderosíssimas’ como Paraguai, Venezuela, Azerbaijão, dentre outros. Nada menos que 10 países latino-americanos estão na frente do Brasil quanto ao cumprimento de metas para melhoria da educação. O mais grave é que o país ao invés de avançar e conquistar melhor posicionamento no ranking, despencou quatro posições em relação ao levantamento anterior.
O Relatório cuida de detalhar os aspectos que mais contribuíram para a medíocre performance brasileira: o vergonhoso índice de analfabetismo, o raquítico desempenho dos nossos estudantes nas avaliações internacionais, as altas e insanas taxas de reprovação e a conseqüente evasão.
Tomando como objeto de análise a repetência, é curioso observar que a taxa de reprovação verificada no Brasil nos remete ao penúltimo lugar dentre os piores países do mundo. Só ganhamos do Suriname. Enquanto na América Latina e no Caribe a taxa de reprovação é de 4,1%, em Pindorama este indicador chega a 18,7%, inacreditavelmente quatro vezes maior.
Os números enfatizam que o Brasil tem que apertar o passo se, verdadeiramente, deseja chegar em 2.015 com as metas cumpridas de forma satisfatória. O próprio Relatório não condena o país ao fracasso frente aos objetivos traçados na distante Dacar. Ao contrário, afirma com todas as letras que os problemas identificados, caso equacionados e solucionados, não impedirão o país de corresponder aos compromissos firmados.
Mas para isto, os brasileiros devem tencionar políticos e autoridades, exigindo posicionamento claro e afirmativo quanto aos objetivos do Educação para Todos, acompanhando mais amiúde o desenrolar dos acontecimentos e colocando a boca no trombone quando os responsáveis se fizerem de bobinhos e desentendidos.
Afinal, quando políticos e autoridades se fazem de bobinhos e desentendidos é sinal de que o circo já está em labaredas. Como naquela fábula, de anos atrás, do estancieiro confiando na raposa para cuidar do galinheiro, lembram-se? Portanto, olho vivo.