sexta-feira, 11 de julho de 2008

Quem quer passar além do Bojador, Tem que passar além da dor

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Humilhas, avanças, provocas, agrides, espancas, torturas, aprisionas indefesos – e quem bate e violenta é a tropa de choque?
Te tornaste carne, sexo e prostituta de incubo de Saturno –
e ensandecidamente acusas o outro de estupro? (...)

Leia o poema Uma oração para canalhas clicando aqui.

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Quem quer passar além do Bojador, Tem que passar além da dor

Quando o sapato aperta, o bolso morde e a esperança fica rarefeita, a solução para muitos se restringe à porta de saída. Literalmente.

Para responder aos ininterruptos períodos de crise institucional e financeira, para fugir do desenvolvimento marginal, dos indomáveis índices de desemprego, de uma torpe realidade inimiga dos sonhos, não poucos brasileiros se vêem na contingência de buscar outros destinos, singrar mares distantes, mirar rincões onde a vida não refugue as possibilidades da existência.

Houve tempo em que o espírito aventureiro era o grande motor capaz de promover uma mobilidade social dessa envergadura – verdadeiro processo social que nada deve a qualquer outro, posto que o número de brasileiros que emigram cresce vertiginosamente. Mas nos atuais dias de tormenta e borrasca, a força propulsora atende pelo nome de sustentabilidade econômica. É uma peleja derradeira para escapar da mediocridade, da vida vegetativa, insossa e miserável. Se é para embalar e perseguir os sonhos e os projetos de vida, então qualquer sacrifício vale a pena, até mesmo o de se deparar com a discriminação hedionda e a insana repressão das polícias-cães de fronteira. A lição aprendemos com Fernando Pessoa:

“Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu”.

Até chegar ao destino e se estabelecer há que se encarar um espelho em que a imagem refletida é a da via crucis, “(...) Tem que passar além da dor”. É como ser tragado por um buraco negro, atravessar um campo de guerra, ser lançado no olho do furacão. O que seria pior que atravessar um campo minado, permanentemente bombardeado com bombas incendiárias, rajadas de vento e metralhadora disputando o que restou do espaço milimétrico?

Mas tão logo se estabelece, a primeira ação do desterrado é encaminhar os dólares do sacrifício para os que ficaram. E fazem o dinheiro percorrer o caminho inverso para aliviar as agruras e sofrimentos dos familiares. A moeda conquistada chega para irrigar uma economia moribunda criada para servir aos interesses da corrupção e do clientelismo.

Enganam-se os que imaginam que os recursos enviados pelos conterrâneos a terra brasilis é coisa de pouca monta, tesouro de latão e velhacarias.

O Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID - e o Fundo Internacional da ONU para o Desenvolvimento Agrícola – FIDA – juntaram-se para produzir, pouco tempo atrás, o relatório Sending Money Home (Mandando Dinheiro para Casa). As estimativas que constam neste documento dão conta de que, apenas no ano passado, os brasileiros que residem no exterior enviaram para o Brasil remessas equivalentes a um total de US$ 7,4 bilhões, algo em torno de R$ 13,5 bilhões. Os valores representam um incremento de 13,5% quando cotejados com os verificados no ano anterior. É um volume de recursos que representa mais de 1/3 de tudo o que o governo esperava arrecadar com a CPMF, no ultimo ano de vigência do malfadado tributo.

No mundo, os países que mais receberam remessas de seus exilados foram a Índia, US$ 24,5 bilhões, seguido do México, US$ 24,2 bilhões e da China, US$ 21 bilhões.

Na América do Sul, o Brasil ostenta a mais elevada taxa de remessas.

O mais curioso é que, segundo o BID e o FIDA, as remessas mundiais - correspondentes a US$ 300 bilhões - excedem substancialmente o total de doações e investimentos efetuados por bancos de fomento e instituições de desenvolvimento que investem em países de economia periférica. As doações materializadas por essas entidades em 2.006 mal chegaram à casa dos US$ 104 bilhões.

É o próprio diretor geral do Fundo de Investimento do BID, Donald Terry, quem reconhece a fragilidade das políticas de apoio levadas a efeito pelos bancos e agências de desenvolvimento. Quando questionado sobre o fato do valor das remessas sistematicamente exceder o de investimentos, é categórico: ''o que quer que nós tenhamos feito por esses países, isso não foi suficiente''. E complementa: “as remessas hoje em dia atuam não somente como uma forma de atenuar a pobreza, mas como um fator de desenvolvimento que deverá indicar novas formas de ação para bancos de fomento e organizações assistenciais.

Portanto, não nos esqueçamos de agradecer aos familiares dos desterrados que, não obstante distantes da terra-mãe, fazem mais pelo Brasil do que muitos demagogos e oportunistas que se arvoram patriotas defensores dos interesses nacionais.

Antônio Carlos dos Santos - criador da metodologia de Planejamento Estratégico Quasar K+ e da tecnologia de produção de Teatro Popular de Bonecos Mané Beiçudo. acs@ueg.br

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Sobre a ‘doce língua’ e aleivosias

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Humilhas, avanças, provocas, agrides, espancas, torturas, aprisionas indefesos – e quem bate e violenta é a tropa de choque?
Te tornaste carne, sexo e prostituta de incubo de Saturno –
e ensandecidamente acusas o outro de estupro? (...)

Leia o poema Uma oração para canalhas clicando aqui.

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Sobre a ‘doce língua’ e aleivosias

Após 16 anos de idas e vindas, Portugal aprovou o acordo ortográfico que unifica o português em sua forma escrita, de modo que os países lusófonos começam a estabelecer as condições para a internacionalização da língua.

No Brasil, as editoras têm até 2.010 para providenciar as adequações necessárias.

Computando as alterações acordadas, Portugal deverá trocar cerca de 1,5% das palavras enquanto no Brasil as alterações ficarão em torno de 0,43%.

Em que pese a iniciativa da unificação, não serão eliminadas todas as diferenças. No berço de Camões, polémica e génesis continuarão ostentando acento agudo, enquanto por aqui, as palavras manterão o acento circunflexo.

Outras interessantes mudanças que ocorrerão em Portugal: como o “p” da palavra recepção não é pronunciada, a letra será simplesmente suprimida. Por outro lado, os portugueses manterão a letra “c” na palavra facto – que no país do Fernando Pessoa, significa roupa.

As questões lingüísticas preocupam todos os povos do mundo. Na Alemanha, por exemplo, uma pesquisa encomendada pela Sociedade da língua Alemã registra o grande receio de dois terços dos conterrâneos de Goethe e Haendel: a decadência lingüística originada principalmente da enorme incidência de estrangeirismos, abreviaturas e palavrões.

Na Espanha, a preocupação é com a “ameaça das línguas regionais”, que podem levar à completa desfiguração do castelhano.

Hoje, a última flor do Lácio é a 5ª língua mais falada no mundo. Se considerarmos apenas a parte ocidental do planeta, passa à 3ª posição no ranking das mais utilizadas. São mais de 215 milhões de pessoas, a maioria delas brasileiros. E o objetivo maior da reforma ortográfica é uniformizar o uso da língua.

A busca pela unificação da língua vem de longo tempo. Em 1911, Portugal promoveu - de forma unilateral - uma reforma que resultou em duas ortografias diferentes.

Em 1931, 1943 e 1971, novos acordos foram formalizados na tentativa de dar unidade à língua. Em 1975 e 1986 ocorreram tentativas que não se sustentaram devido às reações contrárias, ocorridas tanto no Brasil como em Portugal.

Com o novo acordo, começa a se consolidar o processo de internacionalização da língua. No Brasil, em Portugal, Angola, São Tomé e Príncipe e Moçambique o português é a primeira língua.

Cabo Verde e Guiné-Bissau também adotam a língua portuguesa como língua oficial. Já Guiné Equatorial, Timor-Leste e Macau adotam-na, mas de forma conjunta com outros idiomas.

Apesar de não ser língua oficial, o português é muito usual em Luxemburgo, Andorra, Namíbia e Paraguai.

As mudanças, desde já, apresentam-se como novos desafios para os educadores. Boa parte dos estudantes que concluem o ensino médio não conseguem lidar com a gramática e sequer interpretar um texto elementar. Também não conseguem resolver problemas da aritmética básica. E se não conseguimos ensinar para nossa juventude o que estava consolidado, como ensinar as novidades?

Garantir que nossas crianças concluam os ciclos escolares sabendo a doce língua e matemática já seria uma vitória e tanto! Mas não parece ser o objetivo de tantos que as pretendem doutoras em “inclusão social”, em “cidadania & politicamente correto”, em “sexo sustentável” (eis que o MEC está dotando nossas escolas de máquinas de distribuição de camisinhas) e outras aleivosias mais.

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BOX – O que muda?

HÍFEN
Não se usará mais:
1. quando o segundo elemento começa com s ou r, devendo estas consoantes ser duplicadas, como em "antirreligioso", "antissemita", "contrarregra", "infrassom". Exceção: será mantido o hífen quando os prefixos terminam com r -ou seja, "hiper-", "inter-" e "super-"- como em "hiper-requintado", "inter-resistente" e "super-revista"
2. quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa com uma vogal diferente. Exemplos: "extraescolar", "aeroespacial", "autoestrada"

TREMA
Deixará de existir, a não ser em nomes próprios e seus derivados

ACENTO DIFERENCIAL
Não se usará mais para diferenciar:
1. "pára" (flexão do verbo parar) de "para" (preposição)
2. "péla" (flexão do verbo pelar) de "pela" (combinação da preposição com o artigo)
3. "pólo" (substantivo) de "polo" (combinação antiga e popular de "por" e "lo")
4. "pélo" (flexão do verbo pelar), "pêlo" (substantivo) e "pelo" (combinação da preposição com o artigo)
5. "pêra" (substantivo - fruta), "péra" (substantivo arcaico - pedra) e "pera" (preposição arcaica)
ALFABETO
Passará a ter 26 letras, ao incorporar as letras "k", "w" e "y"

ACENTO CIRCUNFLEXO
Não se usará mais:
1. nas terceiras pessoas do plural do presente do indicativo ou do subjuntivo dos verbos "crer", "dar", "ler", "ver" e seus derivados. A grafia correta será "creem", "deem", "leem" e "veem"
2. em palavras terminados em hiato "oo", como "enjôo" ou "vôo" -que se tornam "enjoo" e "voo"

ACENTO AGUDO
Não se usará mais:
1. nos ditongos abertos "ei" e "oi" de palavras paroxítonas, como "assembléia", "idéia", "heróica" e "jibóia"
2. nas palavras paroxítonas, com "i" e "u" tônicos, quando precedidos de ditongo. Exemplos: "feiúra" e "baiúca" passam a ser grafadas "feiura" e "baiuca"
3. nas formas verbais que têm o acento tônico na raiz, com "u" tônico precedido de "g" ou "q" e seguido de "e" ou "i". Com isso, algumas poucas formas de verbos, como averigúe (averiguar), apazigúe (apaziguar) e argúem (arg(ü/u)ir), passam a ser grafadas averigue, apazigue, arguem

GRAFIA
No português lusitano:
1. desaparecerão o "c" e o "p" de palavras em que essas letras não são pronunciadas, como "acção", "acto", "adopção", "óptimo" -que se tornam "ação", "ato", "adoção" e "ótimo"
2. será eliminado o "h" de palavras como "herva" e "húmido", que serão grafadas como no Brasil -"erva" e "úmido"

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Antônio Carlos dos Santos – professor da UEG, criador da metodologia de Planejamento Estratégico Quasar K+ e da tecnologia de produção de Teatro Popular de Bonecos Mané Beiçudo. acs@ueg.br