sexta-feira, 4 de julho de 2008

Sobre a ‘doce língua’ e aleivosias

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Humilhas, avanças, provocas, agrides, espancas, torturas, aprisionas indefesos – e quem bate e violenta é a tropa de choque?
Te tornaste carne, sexo e prostituta de incubo de Saturno –
e ensandecidamente acusas o outro de estupro? (...)

Leia o poema Uma oração para canalhas clicando aqui.

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Sobre a ‘doce língua’ e aleivosias

Após 16 anos de idas e vindas, Portugal aprovou o acordo ortográfico que unifica o português em sua forma escrita, de modo que os países lusófonos começam a estabelecer as condições para a internacionalização da língua.

No Brasil, as editoras têm até 2.010 para providenciar as adequações necessárias.

Computando as alterações acordadas, Portugal deverá trocar cerca de 1,5% das palavras enquanto no Brasil as alterações ficarão em torno de 0,43%.

Em que pese a iniciativa da unificação, não serão eliminadas todas as diferenças. No berço de Camões, polémica e génesis continuarão ostentando acento agudo, enquanto por aqui, as palavras manterão o acento circunflexo.

Outras interessantes mudanças que ocorrerão em Portugal: como o “p” da palavra recepção não é pronunciada, a letra será simplesmente suprimida. Por outro lado, os portugueses manterão a letra “c” na palavra facto – que no país do Fernando Pessoa, significa roupa.

As questões lingüísticas preocupam todos os povos do mundo. Na Alemanha, por exemplo, uma pesquisa encomendada pela Sociedade da língua Alemã registra o grande receio de dois terços dos conterrâneos de Goethe e Haendel: a decadência lingüística originada principalmente da enorme incidência de estrangeirismos, abreviaturas e palavrões.

Na Espanha, a preocupação é com a “ameaça das línguas regionais”, que podem levar à completa desfiguração do castelhano.

Hoje, a última flor do Lácio é a 5ª língua mais falada no mundo. Se considerarmos apenas a parte ocidental do planeta, passa à 3ª posição no ranking das mais utilizadas. São mais de 215 milhões de pessoas, a maioria delas brasileiros. E o objetivo maior da reforma ortográfica é uniformizar o uso da língua.

A busca pela unificação da língua vem de longo tempo. Em 1911, Portugal promoveu - de forma unilateral - uma reforma que resultou em duas ortografias diferentes.

Em 1931, 1943 e 1971, novos acordos foram formalizados na tentativa de dar unidade à língua. Em 1975 e 1986 ocorreram tentativas que não se sustentaram devido às reações contrárias, ocorridas tanto no Brasil como em Portugal.

Com o novo acordo, começa a se consolidar o processo de internacionalização da língua. No Brasil, em Portugal, Angola, São Tomé e Príncipe e Moçambique o português é a primeira língua.

Cabo Verde e Guiné-Bissau também adotam a língua portuguesa como língua oficial. Já Guiné Equatorial, Timor-Leste e Macau adotam-na, mas de forma conjunta com outros idiomas.

Apesar de não ser língua oficial, o português é muito usual em Luxemburgo, Andorra, Namíbia e Paraguai.

As mudanças, desde já, apresentam-se como novos desafios para os educadores. Boa parte dos estudantes que concluem o ensino médio não conseguem lidar com a gramática e sequer interpretar um texto elementar. Também não conseguem resolver problemas da aritmética básica. E se não conseguimos ensinar para nossa juventude o que estava consolidado, como ensinar as novidades?

Garantir que nossas crianças concluam os ciclos escolares sabendo a doce língua e matemática já seria uma vitória e tanto! Mas não parece ser o objetivo de tantos que as pretendem doutoras em “inclusão social”, em “cidadania & politicamente correto”, em “sexo sustentável” (eis que o MEC está dotando nossas escolas de máquinas de distribuição de camisinhas) e outras aleivosias mais.

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BOX – O que muda?

HÍFEN
Não se usará mais:
1. quando o segundo elemento começa com s ou r, devendo estas consoantes ser duplicadas, como em "antirreligioso", "antissemita", "contrarregra", "infrassom". Exceção: será mantido o hífen quando os prefixos terminam com r -ou seja, "hiper-", "inter-" e "super-"- como em "hiper-requintado", "inter-resistente" e "super-revista"
2. quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa com uma vogal diferente. Exemplos: "extraescolar", "aeroespacial", "autoestrada"

TREMA
Deixará de existir, a não ser em nomes próprios e seus derivados

ACENTO DIFERENCIAL
Não se usará mais para diferenciar:
1. "pára" (flexão do verbo parar) de "para" (preposição)
2. "péla" (flexão do verbo pelar) de "pela" (combinação da preposição com o artigo)
3. "pólo" (substantivo) de "polo" (combinação antiga e popular de "por" e "lo")
4. "pélo" (flexão do verbo pelar), "pêlo" (substantivo) e "pelo" (combinação da preposição com o artigo)
5. "pêra" (substantivo - fruta), "péra" (substantivo arcaico - pedra) e "pera" (preposição arcaica)
ALFABETO
Passará a ter 26 letras, ao incorporar as letras "k", "w" e "y"

ACENTO CIRCUNFLEXO
Não se usará mais:
1. nas terceiras pessoas do plural do presente do indicativo ou do subjuntivo dos verbos "crer", "dar", "ler", "ver" e seus derivados. A grafia correta será "creem", "deem", "leem" e "veem"
2. em palavras terminados em hiato "oo", como "enjôo" ou "vôo" -que se tornam "enjoo" e "voo"

ACENTO AGUDO
Não se usará mais:
1. nos ditongos abertos "ei" e "oi" de palavras paroxítonas, como "assembléia", "idéia", "heróica" e "jibóia"
2. nas palavras paroxítonas, com "i" e "u" tônicos, quando precedidos de ditongo. Exemplos: "feiúra" e "baiúca" passam a ser grafadas "feiura" e "baiuca"
3. nas formas verbais que têm o acento tônico na raiz, com "u" tônico precedido de "g" ou "q" e seguido de "e" ou "i". Com isso, algumas poucas formas de verbos, como averigúe (averiguar), apazigúe (apaziguar) e argúem (arg(ü/u)ir), passam a ser grafadas averigue, apazigue, arguem

GRAFIA
No português lusitano:
1. desaparecerão o "c" e o "p" de palavras em que essas letras não são pronunciadas, como "acção", "acto", "adopção", "óptimo" -que se tornam "ação", "ato", "adoção" e "ótimo"
2. será eliminado o "h" de palavras como "herva" e "húmido", que serão grafadas como no Brasil -"erva" e "úmido"

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Antônio Carlos dos Santos – professor da UEG, criador da metodologia de Planejamento Estratégico Quasar K+ e da tecnologia de produção de Teatro Popular de Bonecos Mané Beiçudo. acs@ueg.br