sábado, 8 de abril de 2023

Em parceria excepcional, França exibe sarcófago de Ramsés II

 

Sarcófago ficará em exposição em Paris até 6 de setembroFoto: Aurelien Morissard/AP/picture alliance

Empréstimo do Egito é um agradecimento ao trabalho de cientistas franceses que nos anos 1970 salvaram a múmia do faraó da deterioração - uma história pouco conhecida da egiptologia.

 

O sarcófago do antigo faraó egípcio Ramsés II começou a ser exibido nesta sexta-feira (07/04) em Paris, na França, em uma parceria única.

Benedicte Lhoyer, assessor científico da exposição no Grande Halle de la Villette, disse que o empréstimo foi "excepcional", graças a uma "cooperação sem precedentes entre a França e o Egito".

A exposição Ramsés II está em uma turnê que inclui os Estados Unidos e a Austrália, mas apenas a França receberá o sarcófago, em reconhecimento à ajuda de cientistas franceses que salvaram a múmia do antigo faraó da deterioração, em 1976, em Paris.

Desta vez, no entanto, a múmia em si permaneceu no Egito, já que a atual lei do país proíbe o transporte de múmias reais ao exterior.

O Faraó construtor

Ramsés II, também conhecido como Ramsés, o Grande, governou por mais de 60 anos durante o século 13 a.C.

Ele supervisionou grandes conquistas militares e projetos de construção monumentais – e ainda teve mais de 100 filhos.

"Em suma, ele era um rei extraordinário", disse Lhoyer.

O sarcófago de madeira de cedro pintado de amarelo, representando o rei em cores brilhantes com os braços cruzados sobre o peito segurando um cetro e um chicote, não foi o primeiro a armazenar a múmia de Ramsés II.

Inscrições nas laterais do sarcófago detalham como o corpo do faraó foi movido três vezes a partir de 1070 a. C., depois que ladrões invadiram seu túmulo no Vale dos Reis em Luxor. Seu local de descanso final foi descoberto quase três milênios depois, em 1881.

A exposição em Paris também conta com mais de 180 objetos, entre eles estátuas, máscaras e joias, bem como uma recriação 3D de uma das batalhas do rei contra o império hitita.

Sucesso de público

As relíquias egípcias provaram ser um sucesso de público no passado: há quatro anos, cerca de 1,4 milhão de pessoas visitaram em Paris uma exposição sobre Tutancâmon.

Agora, a nova exposição no Grande Halle de la Villette promete ser ainda mais popular, disseram os organizadores na quinta-feira: já foram vendidos 145 mil ingressos, significativamente mais do que os números que antecederam a abertura da exibição sobre e Tutancâmon. A exposição segue até 6 de setembro.

"Ramsés II derrotou o tempo. Como Tutancâmon, ele se tornou imortal", disse Lhoyer.

Uma história pouco conhecida

O empréstimo do sarcófago é um agradecimento aos franceses pelo trabalho de recuperação da múmia de Ramsés II, com mais de 3 mil anos, enquanto hospedava uma grande exposição sobre seu lendário reinado no museu Grand Palais, nos anos 1970. A história, porém, é um dos capítulos pouco conhecidos da egiptologia.

Em 1976, o então presidente francês Valery Giscard d'Estaing convenceu seu homólogo egípcio Anwar Sadat a autorizar a viagem da múmia a Paris, prometendo uma recepção "adequada para um rei".

E cumpriu a promessa: quando o avião de transporte militar francês com os restos mortais do venerável líder egípcio pousou no aeroporto de Le Bourget, em Paris, em 26 de setembro de 1976, o tapete vermelho foi estendido, a Guarda Republicana estava em posição de sentido e um ministro de governo esperava. A cerimônia de boas-vindas foi transmitida ao vivo pela televisão.

A bordo do avião com Ramsés estava a arqueóloga francesa Christiane Desroches Noblecourt, do museu do Louvre, que viajou ao Cairo para acompanhar o faraó na viagem, submergindo a múmia em bolas de plástico para protegê-la de qualquer pancada.

Na capital francesa, a múmia não foi para exposição, mas sim para restauração urgente. Os restos mortais do faraó, que estava na casa dos 90 anos quando morreu em 1213 a.C, começavam a se deteriorar.

Quando a múmia de Ramsés II foi descoberta em 1881 ela estava em excelentes condições. Mas o contato com o ar fresco trouxe danos causados ​​por parasitas e fungos.

O alarme soou pela primeira vez em 1975, quando um arqueólogo francês que fazia pesquisas no Museu Egípcio do Cairo descobriu a afecção fúngica da múmia. Quando a exposição de Ramsés II foi inaugurada em Paris, Sadat finalmente aceitou a oferta de restauração feita pela França.

O delicado trabalho foi confiado aos conservacionistas do Museu do Homem (Musee de l'Homme), na capital francesa. Depois de radiografar o corpo frágil e submetê-lo a uma bateria de testes biológicos e químicos, eles começaram a trabalhar, restaurando tecidos e criando novas faixas antes de enviar Ramsés para tratamento de radiação na Comissão Francesa de Energia Atômica.

Após oito meses, Ramsés II estava pronto para "uma nova rodada de imortalidade". Em 10 de abril de 1977, a múmia do faraó foi levada de volta ao Cairo e colocada em exibição ao lado de outras múmias reais no Museu Egípcio.

Deutsche Welle