A questão salarial é uma das que mais impactam a educação brasileira.
Não são poucos os que desdenham a questão, atribuindo quase nenhuma importância a este quesito, considerado mais reflexo das pressões oriundas das organizações corporativistas e sindicais.
Os que assim argumentam miram-se tão somente nas demandas associativas o que, inexoravelmente, os remetem a equívocos de formulação e avaliação.
Para tratar deste assunto é necessário mergulhar num universo mais amplo, adotando uma visão mais profunda e mais larga, que não esteja deslocada do contexto.
Em qualquer categoria profissional, a política salarial é apenas um dos componentes dos processos de qualificação. Mas, sem dúvidas, um dos que mais impactam na eficaz conquista das metas, um dos que mais contribuem para os sucessos individual, coletivo e institucional.
Os trabalhadores se preparam ao longo de toda a vida para que possam exercer, com competência e dignidade, a profissão escolhida. E nos dias que correm, a educação profissional não se esgota com a conclusão do ensino formal. O incontido e avassalador avanço das tecnologias, a ininterrupta modernização dos sistemas de produção, o advento dos novos e desafiadores paradigmas garroteando as antigas formas de fazer e pensar fez emergir um novo mundo a exigir que os indivíduos se atualizem permanentemente, estudando não apenas no período regulamentar, mas do nascimento ao encantamento, num processo de formação perene, continuada. No mundo interligado pelos revolucionários meios de comunicação, a educação deixou de se constituir numa mera etapa da existência para perpassar todo o ciclo de vida dos cidadãos. É contingência não somente do aprimoramento profissional, mas, sobretudo, da obstinação com que a sociedade persegue qualidade de vida.
E quando na lida diária, as pessoas necessitam de respeito, o que implica qualificar o ambiente de trabalho, as relações em que se processa a produção, tornando imperativo também a adoção de políticas sustentáveis para a remuneração do trabalho. Como poderia ser diferente? Qualquer que seja a área de atuação, o profissional precisa ser valorizado, ter reconhecido seu papel, sentir-se recompensado pelos estudos, dedicação e esforços despendidos. E responde a esse reconhecimento se aprimorando, progredindo, agregando qualidade ao seu modus operandi, aos seus produtos e resultados.
E, mais uma vez, enganam-se os que imaginam que no ensino privado a realidade seja diferente.
Pesquisa recente realizada pelo Sindicato dos Professores de São Paulo revela que 1 em cada 3 docentes da rede privada deixaria a profissão caso surgisse a oportunidade. Esses dados referem-se ao universo do sistema, tomando da educação infantil à superior. Todavia, quando o extrato se restringe ao ensino fundamental, o percentual dos que sonham abandonar a profissão de professor quase chega à metade, exatos 44,7%.
A pesquisa também identificou as razões que levaram os docentes do ensino privado a apresentar resultados tão surpreendentes, haja vista que o pensamento dominante era que esse tipo de insatisfação se restringia quase que exclusivamente aos professores do sistema público.
Do universo pesquisado, 31,8% expressaram a intenção de trocar de profissão identificando como causa o excessivo desgaste emocional. Mas nada menos que 59,7% manifestaram o desejo de procurar outra ocupação em decorrência das insatisfações salariais.
Não importa a profissão enfocada. Engenheiros, médicos, policiais, artistas, metalúrgicos, seja qual for a categoria profissional, não se obtém êxito prescindindo de políticas salariais sustentáveis, determinantes para a qualificação de qualquer processo. Porque então dentre os professores deveria ser diferente?
Evidentemente, de per si, aumentos salariais mais prejudicam que auxiliam. Adotado de forma isolada, se dilui no emaranhado da crise que historicamente tem acometido a educação nacional. Como também não conduz a bons resultados promover ações estanques, compartimentadas, nos demais setores, como o de infra-estrutura física, da informatização, da terceirização ou o que seja. Para alcançar a tão cobiçada qualidade do ensino urge incorporar uma visão do conjunto, uma visão que possibilite investir e atuar nos múltiplos setores buscando a eficácia e a harmonia, sem naturalmente abrir mão das necessárias medidas de recuperação salarial dos servidores. O que implica em firmar compromissos, estabelecer metas individuais e coletivas, valorizar e gratificar mais os que mais se destacam sob o ponto de vista do mérito, do compromisso e da dedicação. Vinculando enfim salário a desempenho.
A questão salarial - tão relevante para a qualificação do ensino - tem muito sentido, tem todo o sentido quando conseqüência do cumprimento de metas, do estabelecimento de compromissos, da adoção de sistemas com indicadores objetivos – plenamente conhecidos – e que consigam distinguir e premiar os professores com bom desempenho acadêmico. Fora deste contexto, não passa de panacéia: os professores continuarão fingindo que ensinam, os alunos que aprendem, os pais que se preocupam, e o governo que administra.
A metodologia de Planejamento Estratégico Quasar K+ e a tecnologia de produção de Teatro Popular de Bonecos Mané Beiçudo são criações originais de Antônio Carlos dos Santos.
segunda-feira, 19 de janeiro de 2009
segunda-feira, 5 de janeiro de 2009
Sova até do Suriname
No ano de 2.000, Dacar sediou a Conferência Mundial de Educação, evento que deu origem ao importante documento Educação para Todos.
O documento aglutina um conjunto de compromissos mais que importante para países que se encontram em posição semelhante ou pior que o Brasil. E mais, estabelece um ousado cronograma para o cumprimento das metas pactuadas. A data abençoada é 2.015, ano em que todos os países deverão ter realizado a lição de casa.
Entre as metas acordadas estão a qualificação do ensino, a ampliação da oferta de educação - sobretudo na primeira infância - e a substancial elevação das taxas de alfabetização de adultos.
Passados oito anos da aprovação do documento, a Organização das Nações Unidas, através da UNESCO, divulgou o Relatório de Monitoramento Global de Educação para Todos, onde apresenta os resultados das avaliações realizadas quanto ao cumprimento das metas.
A análise das informações resultou num ranking dos países, destacando os que efetivamente têm investido no setor, qualificando o ensino e melhorando a educação. E, de igual modo, os que não estão. Como num samba de uma nota só, a situação do Brasil, continua a mesma, de mal a pior.
Dentre os 129 países pesquisados, o Brasil ficou com a 80ª posição. Atrás de nações ‘poderosíssimas’ como Paraguai, Venezuela, Azerbaijão, dentre outros. Nada menos que 10 países latino-americanos estão na frente do Brasil quanto ao cumprimento de metas para melhoria da educação. O mais grave é que o país ao invés de avançar e conquistar melhor posicionamento no ranking, despencou quatro posições em relação ao levantamento anterior.
O Relatório cuida de detalhar os aspectos que mais contribuíram para a medíocre performance brasileira: o vergonhoso índice de analfabetismo, o raquítico desempenho dos nossos estudantes nas avaliações internacionais, as altas e insanas taxas de reprovação e a conseqüente evasão.
Tomando como objeto de análise a repetência, é curioso observar que a taxa de reprovação verificada no Brasil nos remete ao penúltimo lugar dentre os piores países do mundo. Só ganhamos do Suriname. Enquanto na América Latina e no Caribe a taxa de reprovação é de 4,1%, em Pindorama este indicador chega a 18,7%, inacreditavelmente quatro vezes maior.
Os números enfatizam que o Brasil tem que apertar o passo se, verdadeiramente, deseja chegar em 2.015 com as metas cumpridas de forma satisfatória. O próprio Relatório não condena o país ao fracasso frente aos objetivos traçados na distante Dacar. Ao contrário, afirma com todas as letras que os problemas identificados, caso equacionados e solucionados, não impedirão o país de corresponder aos compromissos firmados.
Mas para isto, os brasileiros devem tencionar políticos e autoridades, exigindo posicionamento claro e afirmativo quanto aos objetivos do Educação para Todos, acompanhando mais amiúde o desenrolar dos acontecimentos e colocando a boca no trombone quando os responsáveis se fizerem de bobinhos e desentendidos.
Afinal, quando políticos e autoridades se fazem de bobinhos e desentendidos é sinal de que o circo já está em labaredas. Como naquela fábula, de anos atrás, do estancieiro confiando na raposa para cuidar do galinheiro, lembram-se? Portanto, olho vivo.
O documento aglutina um conjunto de compromissos mais que importante para países que se encontram em posição semelhante ou pior que o Brasil. E mais, estabelece um ousado cronograma para o cumprimento das metas pactuadas. A data abençoada é 2.015, ano em que todos os países deverão ter realizado a lição de casa.
Entre as metas acordadas estão a qualificação do ensino, a ampliação da oferta de educação - sobretudo na primeira infância - e a substancial elevação das taxas de alfabetização de adultos.
Passados oito anos da aprovação do documento, a Organização das Nações Unidas, através da UNESCO, divulgou o Relatório de Monitoramento Global de Educação para Todos, onde apresenta os resultados das avaliações realizadas quanto ao cumprimento das metas.
A análise das informações resultou num ranking dos países, destacando os que efetivamente têm investido no setor, qualificando o ensino e melhorando a educação. E, de igual modo, os que não estão. Como num samba de uma nota só, a situação do Brasil, continua a mesma, de mal a pior.
Dentre os 129 países pesquisados, o Brasil ficou com a 80ª posição. Atrás de nações ‘poderosíssimas’ como Paraguai, Venezuela, Azerbaijão, dentre outros. Nada menos que 10 países latino-americanos estão na frente do Brasil quanto ao cumprimento de metas para melhoria da educação. O mais grave é que o país ao invés de avançar e conquistar melhor posicionamento no ranking, despencou quatro posições em relação ao levantamento anterior.
O Relatório cuida de detalhar os aspectos que mais contribuíram para a medíocre performance brasileira: o vergonhoso índice de analfabetismo, o raquítico desempenho dos nossos estudantes nas avaliações internacionais, as altas e insanas taxas de reprovação e a conseqüente evasão.
Tomando como objeto de análise a repetência, é curioso observar que a taxa de reprovação verificada no Brasil nos remete ao penúltimo lugar dentre os piores países do mundo. Só ganhamos do Suriname. Enquanto na América Latina e no Caribe a taxa de reprovação é de 4,1%, em Pindorama este indicador chega a 18,7%, inacreditavelmente quatro vezes maior.
Os números enfatizam que o Brasil tem que apertar o passo se, verdadeiramente, deseja chegar em 2.015 com as metas cumpridas de forma satisfatória. O próprio Relatório não condena o país ao fracasso frente aos objetivos traçados na distante Dacar. Ao contrário, afirma com todas as letras que os problemas identificados, caso equacionados e solucionados, não impedirão o país de corresponder aos compromissos firmados.
Mas para isto, os brasileiros devem tencionar políticos e autoridades, exigindo posicionamento claro e afirmativo quanto aos objetivos do Educação para Todos, acompanhando mais amiúde o desenrolar dos acontecimentos e colocando a boca no trombone quando os responsáveis se fizerem de bobinhos e desentendidos.
Afinal, quando políticos e autoridades se fazem de bobinhos e desentendidos é sinal de que o circo já está em labaredas. Como naquela fábula, de anos atrás, do estancieiro confiando na raposa para cuidar do galinheiro, lembram-se? Portanto, olho vivo.
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