segunda-feira, 23 de maio de 2016

Encheu o saco? Reprova


Quando, utilizando uma fita métrica, verificamos que o quadro negro mede oito metros de comprimento por um e meio de largura, estamos efetuando uma medida. Mas quando informamos que o quadro negro não passa pela porta da sala de aula, já estamos avaliando. A avaliação deve ser um processo importante para o aluno, mas também para o professor, os gestores educacionais e para a comunidade. A todo este conjunto permite verificar se as metas estão sendo adequadamente atingidas, estimulando ou refreando o ritmo da caminhada.

No caso específico dos alunos, o professor deve trabalhar o conceito de avaliação não como tem sido entendido até aqui, como uma mera e reles medida, um instrumento de punição, um açoite na mão de feitor. O conceito de avaliação compartilhado por alunos e professor deve ser aquele que defina o instrumento como um processo maior, em que a nota, a medida, faça parte de um conjunto de componentes e referências outras, que se complementam umas às outras. Deve propiciar ao aluno a oportunidade de verificar, com absoluta clareza, o quanto tem assimilado de conteúdos pedagógicos, de conhecimentos, e se deve se esforçar mais, e em que direção, prazo, intensidade e profundidade, conforme sua condição específica.

Mas para que isto ocorra, o aluno deve ser chamado à participação em setores antes reservados exclusivamente aos educadores. O professor e os gestores educacionais sempre avocaram a si a tarefa de definir o que o aluno deve aprender, como, quando e com quem. Hoje isto não é mais aceitável. A sociedade avançou no sentido de assegurar direitos às crianças e a juventude. Além do mais, se o aluno percebe abertos os canais de participação, se vê componente importante do processo, aprofunda seus vínculos e compromissos com a aprendizagem, com seus agentes e com a instituição. É uma educação diferenciada, de qualidade.

Isso nada tem a ver com o democratismo, a falta de autoridade, a completa ausência de limites e parâmetros, a mais pura libertinagem que tem assolado grande número de centros de ensino, enxovalhando a relação educador-aluno, trazendo prejuízos dificilmente reparáveis a todas as partes.

A educação que me refiro tem a ver tão somente com a busca por melhores resultados, com a qualificação da educação, com a necessidade de satisfazer os atores envolvidos, de responder às expectativas dos educadores, mas também dos alunos, pais e da sociedade.

Enganam-se os professores que, conformando-se com uma mera medida – a nota – imaginam que seus alunos não são capazes. O fato de não dominarem o saber acadêmico, não os tornam cegos e néscios. É preciso atentar para o conhecimento específico que só eles possuem, fruto dos valores compartilhados por sua geração e da cultura familiar e da comunidade em que vivem e atuam. Esses elementos, apropriados pelo mestre, podem emprestar às aulas a dinâmica e o interesse perdidos em algum lugar do caminho entre a casa e a escola.

Neste contexto, os alunos com menor índice de aproveitamento, devem receber, por parte do professor, um acompanhamento mais amiúde, mais específico, mais solidário, de modo que se sinta em condições de acompanhar o ritmo dos colegas de sala.

Para o educador, a avaliação deve ser um instrumento que possibilite a permanente simbiose avaliação-ação-reflexão-avaliação-ação-reflexão .... É esta dinâmica o elo capaz de manter os agentes da educação em correspondência com o que dele se espera.

E aqui importa ressaltar a diferenciação entre eficiência e eficácia.

O professor que rigorosamente observa as regras e procedimentos, deixando atualizado o livro de ponto; observando os horários de início e término das aulas; ministrando religiosamente todas as aulas; recolhendo à secretaria no período estipulado as notas, avaliações e diários; participando de todas as reuniões pedagógicas, estará sendo deveras eficiente. Mas só estará sendo eficaz se conseguir, de fato, ensinar e transmitir os conteúdos, se conseguir encantar os alunos, despertar neles a curiosidade pelo conhecimento, a volúpia pelo saber, o interesse pelo estudo, pela investigação, se conseguir fazer com que interajam o que aprenderam na escola com o que vivenciam fora dela.

É óbvio ululante que boa parte dos nossos educadores e de nossas instituições não se pautam pela eficácia. Conformam com a eficiência esterilizada dos cemitérios. Como os túmulos caiados de que falam as escrituras sagradas. Alvos e límpidos por fora, mas putrefatos por dentro.

Também a comunidade deve ser chamada à participar com maior intensidade, envolvendo-se neste rico processo de avaliação. Porque a escola não deve se voltar para o umbigo, mas para o aprofundamento das interações com a comunidade em que está inserida.

Uma avaliação precisa e criteriosa é um bom instrumento para mudarmos ou adequarmos o rumo, a direção. A embarcação em que navega a educação brasileira adornou e está fazendo água. Cuidar para que ela não vá a pique é uma responsabilidade premente de cada um de nós.

Antônio Carlos dos Santos - criador da metodologia de Planejamento Estratégico Quasar K+ e da tecnologia de produção de Teatro Popular de Bonecos Mané Beiçudo. acs@ueg.br