terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

Pensamento computacional é disciplina indispensável na educação

Processo aumenta o interesse dos jovens pela área (Getty Images/Carol Yepes)

Com a tecnologia em forte evolução pelo mundo, certas disciplinas precisam entrar na área comum da educação

Nos últimos anos, o pensamento computacional vem revolucionando a educação no Brasil e no mundo. Não por modismo ou pelo falho consenso de que todos os empregos do futuro estarão voltados à tecnologia. As ciências exatas e as ciências humanas — sejam elas digitam ou analógicas — conviverão em harmonia no mercado de trabalho por muitas décadas ou séculos. Este padrão de aprendizagem quando aplicado na educação é revolucionário porque foge dos padrões engessados de ensino. Em vez de ensinar ao aluno qual a solução para todos os problemas, ele encoraja o aluno a buscar sua própria forma de equacionar o problema.

Para falar deste assunto, gosto muito de me usar como exemplo. Quando estava na escola, tinha muita curiosidade — traço de personalidade que ainda carrego comigo — em entender o desenrolar das coisas que aprendia, assistia na TV ou falava com pessoas mais velhas e ao questionar os professores, recebia respostas como "você vai aprender isso só na 6ª série" e "isso é só mais para frente". Depois de muito ouvir frases assim, comecei a usar o pensamento computacional para pesquisar, aprender e estudar por mim mesmo — eu só não sabia disso, na época.

Não por acaso, o pensamento computacional tem se tornado uma ferramenta onipresente nas principais instituições de ensino voltadas à formação de profissionais para o mundo da tecnologia e das carreiras que passam por uma revolução digital, pois com a adoção desse modelo mental, as pessoas passam a aprender, ao invés de se ater a velha 'decoreba'. É mais fácil entender como as coisas funcionam e, porque foram criadas, para ser possível gastar menos tempo para aprender, construir e melhorar o que já existe daí para frente. Mas, vamos aterrizar essa conversa e deixar menos abstrato: modelar o pensamento computacional demanda mais tempo para identificar padrões e entender como as coisas funcionam, do que de fato colocá-las em prática e isso é muito legal, pois permite a aplicação de uma solução em diferentes situações com padrão similar. É a eficiência e otimização em sua forma mais pura.

O pensamento computacional aplicado ao ensino nada mais é do que a incorporação de formas de pensar e buscar conhecimento que incentivam a curiosidade e o pragmatismo para solução de problemas. Qual a vantagem? Simples. Esse processo, quando apresentado a crianças e adolescentes, faz com que as aulas se tornem mais interativas, mais atrativas e, principalmente, mais divertidas. É o incentivo à criatividade no lugar da descoberta. O pensamento computacional é uma poderosa ferramenta de ensino e uma parceira de educadores, escolas e responsáveis. É pouco provável que os grandes profissionais de tecnologia do futuro se tornem aptos às novas demandas da sociedade sem que hoje tenha experienciado o pensamento computacional.

A explicação para isso está mais que evidente. É por meio desse processo que os alunos despertam e cultivam o interesse pela busca do saber, usam a criatividade para resolver problemas e se colocam como protagonistas no processo de aprendizagem. Gosto de evidenciar que todo esse processo não precisa ser aplicado somente em modelos matemáticos, mas também nas interações com as pessoas, afinal, existem padrões de comportamento que podem ser mapeados.

Muitos podem se questionar se esse é um método muito abstrato e distante da realidade da maioria dos alunos no Brasil. Mas não é. No ensino básico, pode ser chamado também de método de aprendizagem focado em pesquisa, na descoberta de soluções e na construção de conhecimentos. Na jornada criativa de planejamento e desenvolvimento de máquinas, alunos e professores aprimoram suas habilidades de trabalho em grupo, buscando soluções e sistemas de respostas precisas a comandos. Apenas por essas qualidades, o pensamento computacional já é um método de ensino que merece espaço em qualquer grade educacional.

Exame, Ivan Seidel


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segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

Trinta anos do fim do apartheid, regime de segregação racial na África do Sul


Ha 30 anos, a África do Sul acabava com o apartheid, regime político de segregacionismo racial que durou quase meio século.

 

- Separação racial -

Ignorando a maioria negra, a África do Sul contemporânea nasceu "entre brancos" em 1910, resultado da união dos colonos britânicos e dos 'afrikaners' ou boeres, de origem holandesa.

O apartheid ou "desenvolvimento separado das raças" em afrikaner, sistematizou a partir de 1948 a segregação praticada desde o século XVII pelos primeiros colonos holandeses.

O sistema, instaurado pelo Partido Nacional (PN), que dominou a vida política do país de 1948 a 1994, se apoiava em três pilares: a lei sobre a classificação da população, a lei da habitação separada e a lei sobre a terra.

Os habitantes eram classificados desde seu nascimento em quatro categorias: brancos, negros, mestiços e indianos.

Na vida cotidiana havia placas para reservar ônibus, restaurantes, bilheterias e até praias para a população branca. Os casamentos mistos e as relações sexuais entre interraciais eram proibidas. Os negros tinham acesso à educação e à saúde de menor qualidade.

Quase todo o território (87%) era reservado aos brancos. Cerca de 3,5 milhões de pessoas foram expulsas à força e os negros foram relegados às "townships", cidades-dormitório, e "bantoustans", reservas étnicas.

Até 1986, os negros eram obrigados a viajar com uma carteira de identidade que informava para onde tinham permissão de ir, arriscando-se em caso contrário à prisão ou multas.

- Resistência -

O estabelecimento do apartheid provocou resistência. O Congresso Nacional Africano (ANC) primeiro adotou métodos não violentos, como greves, boicotes e campanhas de desobediência civil.

Em 1960, a polícia abriu fogo contra manifestantes em Sharpeville e matou 69 negros. O ANC e o Partido Comunista foram proibidos e o governo estabeleceu o estado de emergência.

Na clandestinidade, o ANC optou pela luta armada. Em 1964, seu líder, Nelson Mandela, foi condenado à prisão perpétua por sabotagem. Em 1977, Steve Biko, fundador do Movimento da Consciência Negra, morreu na prisão depois de ser espancado pela política. Ele virou um símbolo mundial da luta contra o apartheid.

As sanções internacionais contra a África do Sul foram se acumulando: exclusão dos Jogos Olímpicos, expulsão dos órgãos da ONU, embargo sobre armas. Várias estrelas mundiais se comprometeram contra o regime em um grande show no estádio de Wembley (Londres), em 1990.

- As primeiras eleições livres -

Em fevereiro de 1990, o presidente Frederik de Klerk, que estava há cinco meses no poder, surpreendeu a todos ao legalizar a oposição negra. Nelson Mandela foi libertado em 11 de fevereiro, depois de passar 27 anos na prisão. Um ano e meio depois, o apartheid foi abolido.

A transição democrática foi trabalhosa. O processo foi interrompido por pessoas contrárias a mudanças dentro dos serviços de segurança brancos e pela sangrenta rivalidade entre os militantes do ANC e do partido zulu Inkhata (IFP).

A pressão também foi exercida pelos extremistas brancos (especialmente do Movimento da Resistência Afrikaner) e negros (os africanistas do Exército de Libertação do Povo de Azânia), que cometeram atentados.

Em abril de 1993, o país se aproximou de uma guerra civil, quando um ativista da extrema-direita branca assassinou Chris Hani, secretário-geral do Partido Comunista, um aliado do ANC.

Em abril de 1994, a África do Sul organizou as primeiras eleições multirraciais e virou a página do apartheid. "Finalmente livres", afirmou Nelson Mandela quando foi eleito presidente.

Por Andrea Graells Tempel, AFP


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