quarta-feira, 22 de abril de 2009
Acredite se quiser!
Acredite se quiser
Nova Iguaçu, Baixada Fluminense do Rio de Janeiro, está fazendo o que toda prefeitura que se preze deveria fazer. O município está investindo em educação. E pra valer.
Quatro anos atrás, o município adotou nova sistemática de planejamento cujo principal mérito talvez tenha sido incorporar ousadas metas educacionais. Dentre elas, destaca-se a arrojada expansão do ensino integral.
Dada a alardeada escassez de recursos, conjugada às sempre crescentes pressões das demais áreas sociais, onde e como viabilizar o arcabouço orçamentário-financeiro para a necessária expansão?
Eis que todos se viram reféns do dilema permanente, a pulga atrás da orelha de todo gestor.
Mas, no instante do impasse, da angústia e aflição, quando a realidade nua e crua verga a maioria dos prefeitos e gestores, fazendo-os desistir e se conformar com a administração tacanha, medíocre e mesquinha, Nova Iguaçu apostou na criatividade e seguiu em frente, optando por ousar.
E começou construindo uma rede de equipamentos comunitários, colocando-a a disposição da educação e do ensino. Denominado Bairro-Escola, o projeto explora os espaços comunitários que, em boa parte do tempo, encontram-se completamente sem ocupação. Dessa forma, sindicatos, associações, sedes de organizações não-governamentais, clubes, quadras esportivas e igrejas passaram, de espaços obsoletos e ociosos, a importantes anexos das unidades educacionais, equacionando um dos principais gargalos da implantação da educação em tempo integral.
Os frutos da boa iniciativa municipal não demoraram a aparecer. E chegaram, com pompa e circunstância, ancorados nos resultados da Prova Brasil, a avaliação nacional realizada pelo Inep do Ministério da Educação. Os alunos beneficiados pelo projeto aprenderam mais, e o rendimento cresceu 25% em relação à edição anterior da Prova Brasil.
O ciclo, assim, se fecha satisfatoriamente: a prefeitura investe - com criatividade e qualidade - na educação, os alunos se apropriam do conhecimento e do saber. Enquanto na maioria dos municípios a juventude se perde na delinqüência das ruas, em Nova Iguaçu, as crianças permanecem envoltas em atividades pedagógicas, culturais, esportivas, fazendo teatro, debatendo filmes, aprendendo a pintar e compor, praticando capoeira, jogando xadrez e futebol...
E com o parágrafo acima gostaria de por termo a este artigo, uma conclusão ‘pra cima’ e em ‘alto astral’, registrando uma experiência exitosa, de sucesso, coisa rara num cenário tão inóspito e desértico como o que vinga em terra-brasilis quando o assunto é educação.
Mas as coisas estavam indo bem demais para ser verdade. Algo semelhante a “quando a esmola é demais até o Santo desconfia”.
E, infelizmente, em Nova Iguaçu, o ciclo não tem se fechado satisfatoriamente como o enfatizado no parágrafo que desejaria derradeiro. E por que não é satisfatório se a prefeitura investe com qualidade e os alunos aprendem efetivamente?
Seria em decorrência da falta de professores? O leitor apostaria na falta de vagas?
Nada disso! Por incrível que pareça, a resposta está na reação dos pais, contrária ao projeto.
Sim, isso mesmo, querido leitor, nada mais, nada menos que a reação contrária dos pais.
A baixa adesão familiar tem sido o principal entrave para a implantação da escola de tempo integral em Nova Iguaçu. Preocupada com o absurdo que ocorria à vista de todos, a Secretaria de Educação do município resolveu pesquisar as razões e os resultados se mostraram avassaladores.
Tão somente 27% dos pais permitem que os filhos fiquem o dia inteiro na escola.
Dá para acreditar? A experiência do município fluminense não daria um bom episódio para o antigo seriado televisivo “Acredite se quiser”? Pois, por inacreditável que seja, a maioria dos pais de Nova Iguaçu acredita que mais tempo na escola e atividades extracurriculares não trazem benefícios. Não poucos procuram se justificar acusando cansaço dos filhos. Outros, que os pequenos precisam ajudar em casa.
Um tanto decepcionado, Jailson de Souza, Secretário de Educação do município desabafa: "As famílias pobres precisam ver a educação do mesmo ponto de vista da classe média, como algo essencial para a liberdade individual e a construção de perspectivas”. E completa: "Todo pai deseja que o filho seja doutor. Só que desejo é diferente de necessidade. A classe média transformou a escola em necessidade", define.
Sobre o Hades em que se encontra mergulhada a educação brasileira, os que já se acostumaram a acusar, lançar pedras & culpas sobre o poder público, eis aqui um caso evidenciando a consistência da velha lei: não é que toda regra tem mesmo a sua exceção?!
A metodologia de Planejamento Estratégico Quasar K+ e a tecnologia de produção de Teatro Popular de Bonecos Mané Beiçudo são criações originais de Antônio Carlos dos Santos. vilatetra@gmail.com
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