(...) O local era de dificílimo acesso,
habitado por descendentes de escravos, os quilombolas. Se o inacessível lugar viabilizou
liberdade aos negros, por outro lado, assegurou também - aos remanescentes de
escravos - completo isolamento. Foi como congelar o tempo. Os negros
quilombolas, descendentes dos primeiros africanos que aqui aportaram,
adentraram o século XXI vivendo como se em 1746.
Os quilombolas, de início, estranharam aquela gente de olho puxado que
se mantinha arredia a qualquer tentativa de aproximação. Mas souberam
compreendê-los e não criaram desnecessários constrangimentos. Sabiam que só estavam
ali - naquela terra inóspita e inacessível – por serem vítimas de implacável
perseguição. E essa realidade conheciam como ninguém. Por isso os
afro-descendentes respeitaram a dor de seus únicos vizinhos permitindo-os
curtir em paz o isolamento escolhido.
No seio das 50 famílias que agora dividiam com os quilombolas as serras
inóspitas havia mais de 30 cientistas. Eram pesquisadores renomados no Japão,
respeitados e venerados pelo número e qualidade das descobertas e invenções,
sobretudo nas áreas da engenharia militar, da genética e da biomedicina.
Cinco desses cientistas foram os que desenvolveram o avião de caça Zero
que tantas baixas cominou aos aliados nas homéricas batalhas aéreas travadas nos
céus do Pacífico. Mas a parte mais significativa dos cientistas migrantes orientava
suas pesquisas para a área da engenharia genética.
Na China, quando o país estava subjugado pelo Japão, esses cientistas
integraram o grupo que perpetrou todo o tipo de experimentações utilizando
seres humanos como cobaias, notadamente crianças e mulheres chinesas. Como
receberam carta branca do imperador e do alto comando militar japonês, não
havia impedimento ou limitação - fosse ético, moral ou religioso – à experimentação
científica. A completa inexistência de limites levou ao sacrifício de 600 mil
mulheres e de 1 milhão de crianças tragadas por experiências genéticas malsucedidas.
Quando o grupo chegou a São Paulo trazia expertise suficiente para abrir
uma nova frente no campo da pesquisa embrionária. Deram origem à partenogênese,
técnica científica através da qual um ser vivo nasce a partir de um óvulo sem
que haja fecundação.
O objetivo traçado consistia em conquistar o absoluto controle sobre a
reprodução humana de modo a gerar tão somente seres plenamente saudáveis, com
biótipos pré-determinados e já com o ordenamento cerebral estabelecido para a
obtenção da máxima performance, do máximo fator de inteligência. Os cientistas
não mais toleravam a casualidade dos relacionamentos do homem com a mulher que
gerava filhos imprevisíveis, às vezes com ótima desenvoltura física, mas
inadequado desempenho cerebral; outras vezes com alto desempenho mental, mas
capacidade física comprometida. Muitos marginais e criminosos foram criados em
berço de ouro, tiveram formação rígida, pais devotados, relacionamentos seguros
e confiáveis – condenavam os pesquisadores de olhos horizontais.
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