O pai de Santo Cleomar Patrício, indignado com o sofrimento e a dor da gente simples do lugar, resolveu radicalizar. Já não conseguia confortar milhares de pessoas que acorriam de todos os rincões do planeta, em busca de cura para os males do corpo e da alma. Era uma gente simples, mas angustiada, carente de paz, carinho, conforto e guarida.
Por isso, o médium amado por todos era um poço de revolta e inquietação.
Indignava-se com o tratamento fleumático que as entidades dispensavam à sua
gente. Inicialmente, queixava-se a elas na intimidade das orações mais
reclusas. Como permanecessem insensíveis aos seus clamores, passou aos
questionamentos e, depois, encetou ásperas discussões – não importando que
fosse em público - se valendo de palavras ácidas, impropérios, insultos,
tratamento incompatível com seu temperamento sempre afetuoso e fraterno. Foi
quando decidiu se impor de forma categórica. Nas sessões espíritas, só
permitiria em seu corpo incorporar entidades comprometidas socialmente, que
ostentassem um passado de lutas revolucionárias, que as vidas tivessem sacrificado
em virtude de causas nobres e populares. Preferencialmente, que as pelejas
travadas as tivessem projetado para além mar. Chegou ao extremo: daria as
costas às sondagens de personalidades cuja importância não fosse categórica,
peremptória na história revolucionária.
Esperava assim corresponder, com maior apreço, às expectativas daquela
gente abandonada, cujos sonhos fragmentavam-se no dia a dia entrecortado por
aflições e agonia.
Para enfrentar o novo desafio mergulhou com intensidade nas pesquisas,
aprofundou as investigações científicas, perscrutou as biografias das
personalidades que concederam suas vidas à defesa dos fracos e oprimidos. Esquadrinhou a história dos povos, a formação
das nacionalidades, o perfil dos justiceiros leais ao ideário libertário.
Investigou todos os movimentos brasileiros se detendo com especial interesse na
Guerra de Antônio Conselheiro e no movimento de Zumbi dos Palmares. Adentrou as
revoluções francesa e mexicana; a norte americana e a francesa; reviveu, de
1917, a esperança soviética; cerrou fileiras com Solano Lopes nas suas
incursões pela América Latina. Padeceu com árabes e indianos o domínio
colonialista inglês e sorveu o cálice da amargura com os judeus e ciganos,
vítimas preferenciais da hedionda repressão nazista. Aliou-se com bravura aos
povos vítimas da insanidade dos países imperialistas. Desnudou os meandros das
ciências políticas e pode compreender os ardis e a teia de armadilhas que
certas elites, invariavelmente, lançam mão para manter o povo, por todo o
sempre, na medonha escravidão da ignorância, ao largo do conhecimento e do
saber.
O Pai de Santo Cleomar Patrício transformou-se, empreendeu uma completa
metamorfose. Emergiu dos livros e das investigações como um homem renovado,
renascido das cinzas, estuário da virtude e dignidade humanas, depositário do
que a humanidade reproduzira de mais nobre e justo sobre a face da terra.
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