A elaboração da Base Nacional
Curricular Comum do Ensino Infantil e Fundamental está em sua fase final. A
terceira versão elaborada pelo Ministério da Educação (MEC) está sendo
analisada pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), que ainda poderá fazer
modificações antes de devolvê-lo à pasta para a homologação. Ao fim desse
processo, o documento será referência obrigatória no país para que as escolas
desenvolvam seus projetos pedagógicos e elaborem currículos para o ensino
infantil e fundamental.
Uma das diretrizes que as
instituições deverão obervar será a promoção do desenvolvimento de habilidades
socioemocionais. O tema esteve em discussão nessa quinta-feira (17), durante a
terceira reunião ordinária de 2017 do Conselho Nacional de Secretários de
Educação (Consed).
A terceira versão da Base Nacional
Curricular Comum do Ensino Infantil e Fundamental lista dez competências gerais
que os estudantes terão que desenvolver. Elas não dizem respeito apenas a
conhecimentos cognitivos, mas também ao que vem sendo chamado de habilidades
socioemocionais. "Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e
emocional, reconhecendo as emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade
para lidar com elas e com a pressão do grupo", registra uma delas.
O assunto foi abordado em palestra
ministrada, durante a reunião do Consed, pela psicóloga Viviane Senna,
presidente do Instituto Ayrton Senna. "Uma educação integral, como a base
se propõe a oferecer, deve ir além das competências cognitivas clássicas. É
preciso trazer uma nova fronteira que envolve outro grupo de habilidades que
podem ser chamadas sociemocionais, não cognitivas, soft
skills. Elas dizem respeito à capacidade de
estar com outro, de respeitar diferenças, de ter autonomia, flexibilidade,
criatividade, determinação, disciplina", diz.
De acordo com Viviane, o modelo de
escola existente hoje foi concebido no fim do século 18, na época do Iluminismo
e da Revolução Industrial, quando a grande lacuna na humanidade era a falta de
conhecimento e de desenvolvimento de habilidades cognitivas clássicas, como
ler, escrever, calcular. Mas, diante da realidade do mundo contemporâneo, esse
modelo precisaria ser repensado.
"As pessoas precisam desenvolver
habilidades para se relacionar consigo mesmo e com o outro. A evidência
científica, baseada em indicadores como notas e desempenho, mostra que essas
competências são tão importantes quanto as cognitivas para o sucesso
escolar", diz Viviane. Segundo ela, a habilidade da determinação e da
persistência pode fazer, por exemplo, com que o aprendizado de conteúdos de
matemática evolua de forma mais rápida.
A psicóloga afirma ainda que também
há evidências científicas, baseadas em indicadores como renda, saúde e
bem-estar social, mostrando que as competências socioemocionais são até mais
importantes que os conhecimentos cognitivas para o sucesso futuro da pessoa. O
desenvolvimento de determinadas habilidades socioemocionais reduziria, por
exemplo, as chances de depressão ou de envolvimento com drogas e comportamentos
ilícitos.
"Para facilitar o entendimento,
podemos exemplificar com aqueles meninos que os colegas classificam como nerds, que dão muito certo na escola,
mas muitas vezes depois não conseguem emprego, não conseguem se relacionar e
formar família. Pessoas muito capazes cognitivamente, mas pouco capazes
socioemocionalmente, e isso traz consequências ao longo da vida",
acrescenta.
Interdiciplinar
Promover essas habilidades, de acordo
com Viviane Senna, não é algo a ser feito em uma disciplina isolada e sim no
curso das atividades desenvolvidas pela escola. Seguindo as diretrizes da Base
Nacional Curricular Comum do Ensino Infantil e Fundamental, o professor deverá
avaliar e escolher a melhor forma de desenvolver esse trabalho.
"Imagine uma atividade que
proponha uma intervenção sobre o meio-ambiente do bairro da escola. Os
estudantes poderão trabalhar conceitos de biologia e química. Mas, ao mesmo
tempo, precisarão fomentar relações em trabalhos de grupo, colaborar um com o
outro, respeitar diferentes pontos de vista e aprender a acessar informações.
Também deverão trabalhar habilidades voltadas para a autogestão, estabelecer
metas, ter foco e persistência".
Por Leo Rodrigues, da Agência Brasil
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