Há seis anos, Diones Gonçalves da
Silva, de 29 anos, trabalha em um hospital como auxiliar de hotelaria. Ele tem
deficiência intelectual e dificuldade de aprender a ler e escrever. “Têm
algumas pessoas que não tratam a gente muito bem por causa da deficiência, não
tratam a gente como outro ser humano”, disse Diones. “Mas isso está melhorando
muito, as pessoas estão cada vez mais conscientes de nos tratar com mais
respeito e apoio”.
Quase
24% dos brasileiros (45 milhões de pessoas) possuem algum tipo de deficiência,
segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Assim como
Diones, muitos enfrentam dificuldades de inserção social, e exercer uma função
profissional pode ajudar a ultrapassar essas dificuldades. Apesar da
importância e da obrigatoriedade legal, a inclusão de pessoas com deficiência
no mercado de trabalho formal ainda é pequena. Apenas 403.255 estão empregados,
o que corresponde a menos de 1% das 45 milhões de pessoas com deficiência no
país.
Considerando-se
apenas a participação de pessoas com deficiência intelectual, vem crescendo no
mercado de trabalho formal. De 25.332 trabalhadores em 2013 passou para 32.144
em 2015, último período de dados disponíveis da Relação Anual de Informações
Sociais (Rais).
Diones
já desempenhou várias funções dentro do hospital e, antes disso, já havia
trabalhado em dois supermercados. Ela por oito anos na Associação de Pais e Amigos
dos Excepcionais do Distrito Federal (Apae-DF) e está muito feliz com o
acompanhamento que ainda recebe da associação e com o bom tratamento que recebe
dos colegas do hospital. “Na Apae aprendi a fazer meu nome e já sei ler algumas
palavras”, disse ele, que reforçou os estudos para conseguir ser promovido no
trabalho.
A coordenadora do Setor de Inserção
no Mercado de Trabalho da Apae-DF, Adriana Lotti, explica que as pessoas com
deficiência estão mostrando sua capacidade, mas que poucos empregadores dão
oportunidade de trabalho pensando na função social. Grande parte ainda o faz
apenas para cumprir a cota. “De qualquer forma, é uma maneira de irem para o
trabalho e mostrar que são profissionais, são bons trabalhadores”, disse.
Segundo
a Lei de Cotas (Lei
nº 8213/1991), se a empresa tem entre 100 e 200 empregados, 2% das vagas devem
ser garantidas a beneficiários reabilitados e pessoas com deficiência. A
porcentagem varia de acordo com o número total de contratados, chegando a um
máximo de 5% caso haja mais de 1.001 funcionários. A Lei Brasileira de Inclusão da
Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146/2005), segundo Adriana,
pode ajudar a mudar essa cultura, mas no longo prazo.
“Às
vezes, acho que as pessoas têm medo por que não sabem lidar com a pessoa com
deficiência intelectual, sendo que é muito simples, não tem uma fórmula, é só
tratá-la como um funcionário como outro qualquer. Só que ela têm de ser
respeitada, às vezes, na lentidão ou em alguma atividade, mas ela vai conseguir
fazer o trabalho”, disse a coordenadora.
Ela
explica, inclusive, que as pessoas com deficiência precisam ser cobradas no
cumprimento da função da mesma forma, em relação a pontualidade, por exemplo.
“Eles não são coitadinhos, são pessoas como nós que precisam de uma chance para
mostrar que são excelentes profissionais, que são produtivos”, disse.
Hoje,
a Apae-DF faz o acompanhamento de 216 pessoas que estão no mercado competitivo,
distribuídas em 52 empresas. Durante o tempo que a pessoa passa na instituição,
recebe capacitação para ser um bom profissional, aprende as normas, direitos e
deveres e respeito à hierarquia, por exemplo. A capacitação para atividade fim
que vai desempenhar é feita, em geral, na própria empresa.
Além do acompanhamento, a associação
encaminha as pessoas para o trabalho apoiado, aquelas que têm uma deficiência
mais severa e que necessitam de outra pessoa durante o trabalho. Nesse caso, a
qualificação acontece dentro da Apae-DF e os profissionais são encaminhados,
geralmente, para órgãos públicos.
Fiscalização e multa
Segundo
a secretária de Inspeção do Trabalho do Ministério do Trabalho, Maria Teresa
Pacheco Jensen, caso as empresas cumprissem a lei, o número de pessoas com
deficiência que estão empregadas seria maior. Os auditores-fiscais atuam na
fiscalização e, para ela, existe mesmo uma resistência ou dificuldade das
empresas contratarem pessoas com deficiência, porque muitas, inicialmente,
preferem pagar as multas, que vão de R$ de 2,2 mil a R$ 228 mil.
Ela
conta, no entanto, que o Ministério do Trabalho celebra acordos de compromisso
e orienta e acompanha as empresas na contratação de pessoas com deficiência e
no desenvolvimento de programas de aprendizagem.
“É
mais uma questão de conscientização. A pessoa com deficiência tem o direito a
exercer todas as funções, cabe ao empregador fazer os ajustes necessários”,
explicou Maria Teresa. “Não é um favor, é uma função social. Queremos mudar
essa visão e tirar a ideia que a pessoa com deficiência deve receber tratamento
assistencial. Ela não quer isso e não seria bom para a sociedade. Não queremos
o modelo de assistencialismo, queremos o modelo de inclusão”.
Participação da família
A
procuradora do Trabalho, Maria Aparecida Gurgel, explicou que alguns
dispositivos da lei de inclusão poderiam ser regulamentados e melhor explorados,
como o trabalho apoiado e a capacitação pelas próprias empresas, a exemplo do
que é feito pela Apae-DF. Para ela, as empresas também devem abrir
oportunidades para as pessoas com deficiência intelectual em todas as funções.
“Nós
estamos em um processo de mudança de cultura e como temos jovens e adultos com
deficiência intelectual empregados, temos que aprender com esse sistema. O que
foi feito para que essa pessoas estejam no mercado de trabalho?”, questionou,
argumentando que Estado e sociedade civil têm seu papel nessa inserção.
Ela
ressalta, entretanto que a família também é extremamente importante para o
desenvolvimento profissional da pessoa com deficiência intelectual. “A família
tem que acreditar nas suas potencialidades. Todos os pais e mães querem
proteger o seu filho, e na área da deficiência intelectual, há uma proteção
necessária, mas não há uma crença nas potencialidades de aprendizagem para o
desempenho de funções”, disse Maria Aparecida. “Temos que quebrar essa cultura
de que a pessoa com déficit cognitivo não aprende e não pode trabalhar ou que
vai trabalhar somente em cargos de menores”, disse.
A
coordenadora da Apae-DF, Adriana Lotti, explica que a família também é
essencial após a inserção no mercado, porque é ela quem vai observar se a
pessoa com deficiência relatar alguma dificuldade e ainda se ela está cumprindo
suas obrigações, como os horários e os uniformes, por exemplo.
Semana nacional
Para
promover ações de inclusão social e de combate ao preconceito e à discriminação
contra as pessoas com deficiência, a Federação Nacional das Apaes (Fenapaes)
está promovendo a Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e
Múltipla, de 21 a 28 de agosto. A primeira semana nacional foi celebrada em
1964, como Semana Nacional do Excepcional, homenageando o trabalho das Apaes
O
objetivo da federação é sensibilizar governos e comunidades em relação às
potencialidades das pessoas com deficiência e chamar a atenção para suas
necessidades, tanto para a definição de políticas públicas quanto para o
combate ao preconceito. “A lógica de que o deficiente pode aprender direcionou
o olhar de que o deficiente pode se integrar na sociedade. Aí começa o
reconhecimento dos direitos do cidadão e, com seus direitos, surgem as
necessidades”, disse a presidente da Fenapaes, Aracy Maria da Silva Lêdo, em
mensagem pela semana.
Agência Brasil
O livro com a peça teatral Irena Sendler, minha Irena:
A história registra as ações de um grande herói, o espião e membro do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, Oskar Schindler, que salvou cerca de 1.200 judeus durante o genocídio perpetrado pelos nazistas. O industrial alemão empregava os judeus em suas fábricas de esmaltes e munições, localizadas na Polónia e na, então, Tchecoslováquia.
Irena Sendler, utilizando-se, tão somente, de sua posição profissional – assistente social do Departamento de Bem-estar Social de Varsóvia – e se valendo de muita coragem, criatividade e altruísmo, conseguiu salvar mais de 2.500 crianças judias.
"O Anjo do Gueto de Varsóvia", como ficou conhecida Irena Sendlerowa, conseguiu salvar milhares de vidas ao convencer famílias cristãs polonesas a esconder, abrigando em seus lares, os pequeninos cujo pecado capital – sob a ótica do führer – consistia em serem filhos de pais judeus.
Período: 2ª Guerra Mundial, Polônia ocupada pela Alemanha nazista. A ideologia de extrema-direita que sistematizou o racismo científico e levou o antissemitismo ao extremo com a Solução Final, implementava a eliminação dos judeus do continente europeu.
A guerra desencadeada pelos nazistas – a maior deflagração do planeta – mobilizou 100 milhões de militares, provocando a maior carnificina já experimentada pela humanidade, entre 50 e 70 milhões de mortes, incluindo a barbárie absoluta, o Holocausto, o genocídio, o assassinato em massa de 6 milhões de judeus.
Este é o contexto que inspirou o autor a escrever a peça teatral “Irena Sendler, minha Irena”.
Para dar sustentação à trama dramática, Antônio Carlos mergulhou fundo na pesquisa histórica, promovendo a vasta investigação que conferiu à peça um realismo que inquieta, suscitando reflexões sobre as razões que levam o homem a entranhar tão exageradamente no infesto, no sinistro, no maléfico. Por outro lado, como se desanuviando o anverso da mesma moeda, destaca personagens da vida real como Irena Sendler, seres que, mesmo diante das adversidades, da brutalidade mais atroz, invariavelmente optam pelo altruísmo, pela caridade, pela luz.
É quando o autor interage a realidade à ficção que desponta o rico e insólito universo com personagens intensos – de complexa construção psicológica - maquinações ardilosas, intrigas e conspirações maquiavélicas, complôs e subterfúgios delineados para brindar o leitor – não com a catarse, o êxtase, o enlevo – e sim com a reflexão crítica e a oxigenação do pensamento.
Dividida em oito atos, a peça traz à tona o processo de desumanização construído pelas diferentes correntes políticas. Sob o regime nazista, Irena Sandler foi presa e torturada – só não executada porque conseguiu fugir. O término da guerra, em 1945, que deveria levar à liberdade, lancinou o “Anjo do Gueto” com novas violências, novas intolerâncias, novas repressões. Um novo autoritarismo dominava a Polônia e o leste Europeu. Tão obscuro e cruel quanto o de Hitler, Heydrich, Goebbels, Hess e Menguele, surgia o sistema que prometia a sociedade igualitária, sem classes sociais, assentada na propriedade comum dos meios de produção. Como a fascista, a ditadura comunista, também, planejava erigir o novo homem, o novo mundo. Além de continuar perseguindo Irena, apagou-a dos livros e da historiografia oficial, situação que só cessaria com o debacle do império vermelho e a ascensão da democracia, na Polônia, em 1989.
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