sábado, 17 de junho de 2017

Projeto que facilita comunicação de surdos é lançado no Rio


O projeto Giulia – Mãos que Falam idealizado para facilitar a comunicação de surdos com seus ouvintes foi lançado hoje (13) no Instituto Nacional de Educação de Surdos (Ines), no Rio de Janeiro.
O projeto é do professor da Faculdade de Tecnologia da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) Manuel Cardoso que priorizou as necessidades de melhoria de comunicação em ambientes específicos como hospitais, escolas, delegacias de polícia, fábricas e escritórios. “Desde o início, eu tive a preocupação de ouvi-los e entender a melhor forma que essa tecnologia poderia agregar valor para eles”, disse o professor destacando que consultou pessoas surdas até eleger 42 ambientes prioritários.
Para usar o sistema, é necessário ter um celular ou smartphone fixado no pulso. Além dos sensores comuns aos celulares, o aparelho tem um outro sensor conhecido como magnetômetro (usado para medir a intensidade, direção e sentido de campos magnéticos em sua proximidade), que permite que o celular funcione como uma bússola.
“Quando o surdo faz os gestos da língua de sinais, que é Libras, no caso do Brasil, quando ele movimenta o braço, o aplicativo fica lendo os sensores que definem esses movimentos. Ele reconhece nesses movimentos o sinal e o equivalente em português daquele sinal. O celular sintetiza em voz eletrônica o correspondente em português do sinal que o surdo fez”, explicou.
Inteligência artificial
Um algoritmo baseado em inteligência artificial interpreta e sintetiza em voz eletrônica, em português, aquilo que corresponde ao sinal feito pelo surdo. Esse tipo de tecnologia é necessária, disse Cardoso, porque cada pessoa tem seu jeito de se expressar e uma mesma pessoa pode fazer o mesmo sinal em posições diferentes. O algoritmo do Giulia  vai aprendendo com as características da pessoa que faz os sinais. “Quanto mais você aprender, mais ele vai saber reconhecer rapidamente os sinais que você está fazendo”.
Cardoso destacou que o projeto facilita a comunicação do surdo em áreas prioritárias, porque muitos surdos não conhecem o idioma português. Em caso de necessidade de ir para um hospital, por exemplo, o surdo não precisa ter um tradutor de Libras. O sistema faz esse trabalho, facilitando o atendimento e o diagnóstico médico.
De acordo com o último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2010, o Brasil tinha 9,5 milhões de surdos. Esse número evoluiu para 12,5 milhões, pela projeção atual, e há o registro de vários níveis de surdez, segundo o professor. Desse total, cerca de 5 milhões apresentam alta severidade, dos quais a maioria nasceu com a característica. Segundo Manuel Cardoso, esses são os que têm mais dificuldade de se educar em língua portuguesa. “Essas pessoas não se comunicam”, destacou.
Na avaliação de Cardoso, o projeto Giulia vem preencher essa lacuna, na medida em que um surdo que não saiba português pode fazer os gestos que o aplicativo reconhece e traduz para o português. Ainda segundo ele, o aplicativo pode, inclusive, mandar mensagens pelo WhatsApp.
Testes
Antes do lançamento do projeto para todo o Brasil, testes foram realizados inicialmente em Manaus para avaliar não só a parte tecnológica, mas também a habilidade das pessoas que vão usar o sistema. Os resultados, segundo o professor, mostram “uma revolução”. Em empresas como a Honda e a Whirlpool, instaladas na capital do Amazonas, as pessoas surdas estão mudando seu comportamento dentro das fábricas, na medida em que interagem com os colegas e chefes. “É uma acessibilidade que, com certeza, vai mudar a vida dos surdos porque o problema do surdo é que é uma deficiência invisível para a sociedade”.
O sistema já está disponível na PlayStore (loja virtual do Google para celulares com o sistema Android). O projeto Giulia conta com apoio da operadora de telefonia TIM na divulgação e na oferta de pacotes de dados diferenciados para que os surdos possam ter acesso a essa tecnologia, com o menor custo possível.
O ideal, segundo Manuel Cardoso, seria que os surdos pudessem usar um dispositivo semelhante ao smartwatch (relógio que usa a internet e é capaz de receber aplicativos para mostrar informações e operar recursos do telefone), devido ao seu tamanho menor. Ele reconheceu, entretanto, que a maioria desses equipamentos não tem todos os sensores necessários.
Por Alana Gandra, da Agência Brasil


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