Presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Gilmar Mendes sorri durante a sessão de julgamento da chapa Dilma-Temer eleita em 2014 - 09/06/2017 (Ueslei Marcelino/Reuters) |
Gilmar Mendes faria um favor a si
mesmo e, sobretudo, ao país se tratasse de marcar encontros com princípios
abandonados em algum lugar do passado
“Recuso
o papel de coveiro de prova viva”, resumiu o ministro Herman Benjamin no fecho
da monumento à verdade que ergueu em meio às ruínas da Justiça. “Posso até
participar do velório, mas não carrego o caixão”, completou o relator do
julgamento da chapa Dilma-Temer no Tribunal Superior Eleitoral.
Com o apoio de dois
ministros do Supremo Tribunal Federal, indiferente a provocações, apartes
impertinentes, risos debochados e sussurros cafajestes, Benjamin acabara de
devassar com comovente altivez a catacumba repleta de canalhices protagonizadas
pela dupla que fez o diabo para ganhar a eleição de 2014.
Ele
soube desde a primeira linha da surdez obscena do trio de súditos afinado com o
solista no comando. Mas entendeu que precisava mostrar a milhões de brasileiros
o que seria enterrado nesta sexta-feira. E deixar claro que ainda há juízes
mesmo em tribunais infestados de espertalhões e sabujos trajando togas puídas
nos fundilhos.
O que falta é mais
gente decidida a avisar nas ruas, aos berros, que o Brasil decente não se
deixará intimidar pelos poderosos patifes que teimam em obstruir os caminhos da
Lava Jato. Refiro-me à verdadeira Lava Jato, representada por Sérgio Moro, não
à caricatura parida em Brasília por Rodrigo Janot.
A gargalhada de
Gilmar Mendes na primeira página da Folha deste sábado comunica que o nada santo
padroeiro de amigos em apuros continuará tentando marcar encontros com o que
chama de “prisões alongadas ocorridas em Curitiba”. Faria um favor a si mesmo
e, sobretudo, ao país se marcasse encontros com princípios e valores
abandonados em algum lugar do passado. Quase todos podem ser localizados no
histórico voto de Herman Benjamin.
Não será difícil ao
atarefado Gilmar Mendes achar tempo para a tentativa de reencontrar a Lei, a
Verdade e a Justiça. Basta suspender por algumas semanas encontros com bandidos
de estimação e com agentes funerários especializados no sepultamento de provas
do crime.
Por Augusto Nunes,
da Veja.com
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O livro com a peça teatral Irena Sendler, minha Irena:
A história registra as ações de um grande herói, o espião e membro do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, Oskar Schindler, que salvou cerca de 1.200 judeus durante o genocídio perpetrado pelos nazistas. O industrial alemão empregava os judeus em suas fábricas de esmaltes e munições, localizadas na Polónia e na, então, Tchecoslováquia.
Irena Sendler, utilizando-se, tão somente, de sua posição profissional – assistente social do Departamento de Bem-estar Social de Varsóvia – e se valendo de muita coragem, criatividade e altruísmo, conseguiu salvar mais de 2.500 crianças judias.
"O Anjo do Gueto de Varsóvia", como ficou conhecida Irena Sendlerowa, conseguiu salvar milhares de vidas ao convencer famílias cristãs polonesas a esconder, abrigando em seus lares, os pequeninos cujo pecado capital – sob a ótica do führer – consistia em serem filhos de pais judeus.
Período: 2ª Guerra Mundial, Polônia ocupada pela Alemanha nazista. A ideologia de extrema-direita que sistematizou o racismo científico e levou o antissemitismo ao extremo com a Solução Final, implementava a eliminação dos judeus do continente europeu.
A guerra desencadeada pelos nazistas – a maior deflagração do planeta – mobilizou 100 milhões de militares, provocando a maior carnificina já experimentada pela humanidade, entre 50 e 70 milhões de mortes, incluindo a barbárie absoluta, o Holocausto, o genocídio, o assassinato em massa de 6 milhões de judeus.
Este é o contexto que inspirou o autor a escrever a peça teatral “Irena Sendler, minha Irena”.
Para dar sustentação à trama dramática, Antônio Carlos mergulhou fundo na pesquisa histórica, promovendo a vasta investigação que conferiu à peça um realismo que inquieta, suscitando reflexões sobre as razões que levam o homem a entranhar tão exageradamente no infesto, no sinistro, no maléfico. Por outro lado, como se desanuviando o anverso da mesma moeda, destaca personagens da vida real como Irena Sendler, seres que, mesmo diante das adversidades, da brutalidade mais atroz, invariavelmente optam pelo altruísmo, pela caridade, pela luz.
É quando o autor interage a realidade à ficção que desponta o rico e insólito universo com personagens intensos – de complexa construção psicológica - maquinações ardilosas, intrigas e conspirações maquiavélicas, complôs e subterfúgios delineados para brindar o leitor – não com a catarse, o êxtase, o enlevo – e sim com a reflexão crítica e a oxigenação do pensamento.
Dividida em oito atos, a peça traz à tona o processo de desumanização construído pelas diferentes correntes políticas. Sob o regime nazista, Irena Sandler foi presa e torturada – só não executada porque conseguiu fugir. O término da guerra, em 1945, que deveria levar à liberdade, lancinou o “Anjo do Gueto” com novas violências, novas intolerâncias, novas repressões. Um novo autoritarismo dominava a Polônia e o leste Europeu. Tão obscuro e cruel quanto o de Hitler, Heydrich, Goebbels, Hess e Menguele, surgia o sistema que prometia a sociedade igualitária, sem classes sociais, assentada na propriedade comum dos meios de produção. Como a fascista, a ditadura comunista, também, planejava erigir o novo homem, o novo mundo. Além de continuar perseguindo Irena, apagou-a dos livros e da historiografia oficial, situação que só cessaria com o debacle do império vermelho e a ascensão da democracia, na Polônia, em 1989.
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