sexta-feira, 2 de junho de 2017

Maior leniência do mundo


Controladora da JBS fecha acordo com o Ministério Público Federal para cessar investigação da PF contra o grupo e pagará multa de R$ 10,3 bilhões em 25 anos
A J&F, controladora do frigorífico JBS, fechou acordo de leniência com o Ministério Público Federal (MPF) que prevê o pagamento de uma multa de R$ 10,3 bilhões ao longo dos próximos 25 anos. Segundo os procuradores essa é, em termos absolutos, a maior multa já aplicada no mundo por meio de acordo de leniência. A maior parte desse montante – R$ 4 bilhões – será destinada aos fundos de pensão da Caixa Econômica Federal e da Petrobras, empresas que, junto com o BNDES, foram consideradas as maios prejudicadas pelo esquema de corrupção.
As negociações entre os procuradores e os executivos da empresa começaram em fevereiro e foram acertadas na noite de segunda-feira, mas ainda é preciso assinar os termos nos próximos dias, após a conclusão de discussões de cláusulas do acordo.
A negociação bilionária assegurará o fim das investigações da Polícia Federal (PF) e do MPF contra as empresas do grupo J&F nas operações Greenfield, Sepsis, Cui Bono, Bullish e Carne Fraca. Com o acerto, as empresas do grupo garantem o direito de continuar sendo contratadas pelo poder público e retiram entraves para obter empréstimos com instituições financeiras.
De acordo com o MPF, o primeiro pagamento será feito até dezembro. Do valor total a ser pago, R$ 8 bilhões serão destinados aos fundos de pensão da Caixa, o Funcef (25%), da Petrobras, o Petros (25%), BNDES (25%), União (12,5%), FGTS (6,25%) e Caixa Econômica Federal (6,25%). O percentual destinado a cada instituição foi definido pelos procuradores que atuam nos casos e avaliaram quais empresas tiveram os maiores prejuízos por causa dos esquemas ilegais da J&F.
Outros R$ 2,3 bilhões serão pagos por meio de projetos sociais voltados para as áreas de educação, saúde e prevenção da corrupção. O prazo de pagamento foi fixado em 25 anos, sendo que, neste período, os valores serão corrigidos pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Considerando a correção, a projeção é que o total da multa chegue a R$ 20 bilhões.
Antes de chegar a esse consenso, a J&F fez cinco ofertas que foram recusadas pelo Ministério Público. Os valores acertados foram baseados no faturamento das empresas do grupo em 2016 livre de impostos, que foi de R$ 183,244 bilhões, segundo a própria holding.
O montante firmado representa 5,62% do faturamento livre de impostos registrado pelas empresas do grupo em 2016. O percentual de multa equivale à média verificada em outros quatro acordos firmados na Lava-Jato. O valor que será pago pela J&F representa mais que a soma do que será pago por Odebrecht (R$ 3,28 bilhões), Brasken (R$ 3,1 bilhões), Andrade Gutierrez (R$ 1 bilhão) e Camargo Corrêa (R$ 700 milhões). Todo o valor da multa paga pela J&F ficará no Brasil.
Pela proposta original dos procuradores, a multa seria de R$ 33,6 bilhões. Mas a Lei Anticorrupção prevê descontos de até dois terços do valor para quem é colaborador. A legislação prevê que a multa aplicada possa variar entre 0,1% e 20% do faturamento dependendo da gravidade dos crimes cometidos.
Multas podem chegar a R$ 31 bi
São Paulo - Após as delações que revelaram as fraudes cometidas pelos irmãos Joesley e Wesley Batista, a JBS tem pela frente uma maratona de processos e investigações que pode culminar na cobrança de mais de R$ 31 bilhões da empresa no Brasil - resultado da aplicação de potenciais sanções, multas e ressarcimentos, além de dívidas fiscais. A cifra supera o valor de mercado do frigorífico, de R$ 21 bilhões, e também é três vezes maior que o volume de recursos em caixa, de R$ 10,7 bilhões.
Nessa conta estão os R$ 10,3 bilhões pedidos pelo Ministério Público Federal para fechar o acordo de leniência com a empresa. Há também três casos sob investigação cuja penalidade, entre multas e devoluções aos cofres públicos, pode chegar a R$ 16,9 bilhões.
O frigorífico é investigado por ganhos com a valorização do dólar após a divulgação das delações e também por sonegação fiscal com a suposta geração de ágio artificial na fusão com o grupo Bertin. Além disso, é alvo de investigação do Tribunal de Contas da União (TCU) por empréstimos obtidos no BNDES.
O cálculo toma como base as sanções máximas previstas pelos órgãos responsáveis pelas investigações - Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Receita Federal e TCU. Ficaram de fora dessa conta as possíveis indenizações a investidores que podem entrar com ações coletivas contra a JBS e a fatura a ser entregue pelo Departamento de Justiça dos EUA, onde está a principal operação do grupo.
A cifra pode subir ainda mais, caso outros órgãos da administração pública decidam investigar as fraudes cometidas pelos irmãos Batista. No entendimento de procuradores e advogados consultados, o acordo de leniência em negociação com o MPF ajuda a atenuar, mas não livra a empresa de penalidades por outros órgãos.
Segundo um advogado especializado em direito penal empresarial, caso sejam comprovadas todas as práticas e ilícitos, as novas sanções poderão facilmente duplicar os R$ 10,3 bilhões. Analistas de grandes bancos têm recomendado a seus clientes evitar as ações da JBS, porque ficou praticamente impossível estimar o passivo da companhia. Ontem, as ações do frigorífico caíram 3,9%.
Os passivos em potencial da JBS se estenderam para a esfera estadual. Os executivos admitiram o pagamento de propina a governadores em troca de favores relacionados ao Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Por isso, pelo menos seis estados disseram que estão passando um pente-fino sobre os incentivos fiscais concedidos à empresa.
Outra investigação
A Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados aprovou por unanimidade, ontem, um ato de fiscalização, em conjunto com o Tribunal de Contas da União (TCU), para averiguar irregularidades cometidas pelo grupo J&F, responsável pelos frigoríficos JBS, nos mercados financeiros e de capitais nacionais. A ação, proposta pelo líder do DEM, Efraim Filho (PB), contou com apoio dos líderes do governo, da base aliada e até da oposição. O ato tem como objetivo investigar o lucro obtido pelo grupo por causa de informações privilegiadas. 'Compraram moeda estrangeira e venderam ações da JBS momentos ou dias antes do conteúdo de suas delações premiadas vazarem para a imprensa', diz o texto.

Por Marcelo da Fonseca, no Estado de Minas

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