Num ato de
misericórdia, os condenados, antes de arderem no fogo da santa fogueira, eram
estrangulados e mortos. Mas com Giordano Bruno foi diferente. Suas formulações
representavam uma ameaça de tal dimensão aos alicerces da doutrina católica que
a sentença estabeleceu que morresse diretamente em decorrência das chamas,
línguas de fogo e labaredas originárias da fogueira. Seu pecado? Declarar que a
terra não era o único planeta criado por Deus.
Este é o esteio de
onde emerge a peça teatral “Giordano Bruno, a fogueira que incendeia é a mesma
que ilumina”.
A trama se
desenrola no intervalo entre a condenação do filósofo italiano e a aplicação da
pena de morte. A ficção contextualiza o ambiente de transição entre a baixa
idade média e a idade moderna. O ambiente de ‘caça às bruxas’, o absolutismo e
o autoritarismo políticos, a corrupção endêmica, o feudalismo e a ascensão da
burguesia, a ortodoxia e os paradigmas religiosos, o racionalismo e o iluminismo
compõem o substrato por onde se movimentam as personagens da peça.
O conselheiro do
papa Clemente VIII, o octogenário Giovanni Archetti, comanda - do Palácio do
Vaticano - uma intrincada rede de corrupção e, através dela, planeja desposar a
mais bela jovem da Europa, Donabella de Monferrato. A formosa mulher admira e
integra um grupo de seguidores de Giordano Bruno. Para convencê-la acerca do
matrimônio, o poderoso velhaco tenta ludibriá-la e mente, afirmando que
promoverá a revisão do julgamento do famoso filósofo, anulando a pena de morte
imposta. Sem ser correspondido, o poderoso Giovanni Archetti ama Donabella, que
é amada pelo noviço Enrico Belinazzo, um jovem frade de corpo atlético que, por
sua vez, é amado pelo vetusto padre Lorenzo, o diretor do seminário.
De modo que
conflitos secundários são explorados evidenciando os paradigmas da baixa idade
média, os fundamentos dos novos modelos, dos novos arquétipos que surgiam em
oposição ao poder do imperador do Sacro Império, do Papa e dos reis; o ocaso do
feudalismo, suplantado pela burguesia que emerge como a nova classe dominante;
a degeneração da política e a degradação moral e dos costumes.
Adentre este
universo povoado por conflitos, disputas, cizânias e querelas. Um enredo que,
lançando mão de episódios verídicos da narrativa histórica, ambienta novelos
densos e provocativos instigando os leitores a responder se o autoritarismo e a
corrupção que vincaram o interim entre os séculos XVI e XVII não seriam
equivalentes – em extensão, volume e vilania - aos verificados nos dias de
hoje.
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