Na entrevista, foram abordados temas
como inteligência artificial, internet das coisas, realidade virtual e o fim do
jornalismo impresso
O
convidado do Roda viva desta segunda-feira foi o jornalista Ethevaldo Siqueira.
Nascido em Monte Alto, no interior de São Paulo, ele se tornou um jornalista
especializado em tecnologia digital muito antes que as tecnologias digitais
fossem incorporadas ao cotidiano das redações. Contemplado com
o Prêmio Esso de Jornalismo em 1968 e 1978, cobriu, entre outros assuntos,
o desenvolvimento dos programas espaciais dos Estados Unidos e da extinta União
Soviética, a chegada do homem à Lua, as revolucionárias mudanças
tecnológicas no Brasil e no mundo e o surgimento da Internet das Coisas.
Confira trechos da entrevista:
“O jornalismo impresso como informação diária
já acabou. Nova York, que tinha 10 jornais, hoje tem dois. Não dá para disputar
com a instantaneamente da internet sendo que um jornal diário leva 9, 10 horas
para ser impresso”.
“O New York Times não será publicado em papel
a partir de 2020. Ele já tem 5 milhões de leitores a mais pela internet”.
“Mais de 90% dos acidentes de carro são
causados pelo ser humano. Quando andei num carro elétrico pela primeira vez,
perguntaram se eu tinha medo, mas eu sabia que tinha 93% a menos de chances de
sofrer um acidente”.
“Se não fosse o golpe militar de 1964, eu
seria bancário. Devo tudo a isso. Com a prisão e os processos, eles abriram o
mundo para mim. Fui demitido do Banco do Brasil porque alfabetizava camponeses
pelo método do Paulo Freire. Ensinei mais de 200 a ler e isso foi considerado
crime”.
“A humanidade inteira vai passar por mudanças
tão profundas nos próximos 50 anos que não podemos nem imaginar. Hoje, existem
objetos que se comunicam como se fossem pessoas, máquinas conversando com
máquinas. Essa é a chamada internet das coisas. O risco é grande, mas ao mesmo
tempo é fascinante a possibilidade de podermos fazer coisas até então
impensáveis”.
“O conhecimento vai se tornar muito mais
atraente a cada ano com todas as possibilidades que a tecnologia permite. Pouca
gente imaginava que seria possível fazer um curso à distância, conversando com
os professores. Os jovens desta geração são um pouco dispersivos e não
conseguem construir alicerces, mas isso também será ensinado pelas máquinas”.
“Hoje, 100 milhões de brasileiros têm acesso à
internet graças ao celular e isso só foi possível por causa da privatização. O
que o Brasil não tem é gestão pública estratégica nessa área, assim como nunca
teve na educação. Não falta ao país infraestrutura, falta gestão. Os políticos
têm visão curta, interesses imediatista. Só conseguem pensar na próxima
eleição”.
“Nas eleições, o Brasil usa uma urna
eletrônica que é vulnerável. Os EUA, por exemplo, se recusaram a usar essa
máquina. Mesmo não tendo nenhuma fraude comprovada, ela é facilmente violável.
Precisávamos ter pelo menos um sistema com dupla checagem”.
“Os pais são absolutamente incautos e não têm
ideia do perigo que a internet pode ser para uma criança. Enquanto o filho não
tem discernimento, eles precisam isolá-los de terminados conteúdos. Depois, é
importante vigiar, ter uma atenção permanente”.
A bancada de
entrevistadores reuniu Margarida Krohling Kunsch (professora titular da Escola
de Comunicações e Artes da USP), Fabio Gandour (cientista-chefe da IBM Brasil),
José Luiz Schiavoni (jornalista), Marcelo Zuffo (professor do Departamento de
Engenharia de Sistemas Eletrônicos da Escola Politécnica da USP) e Renato Cruz
(editor do Inova.jor). Com desenhos em tempo real do cartunista Paulo Caruso, o
programa foi transmitido ao vivo pela TV Cultura.
Por
Augusto Nunes, na Veja.com
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