Elenco de "The Square" no tapete vermelho de Cannes. EFE/EPA/Julien Warnand |
Cannes (França), 28 mai (EFE). - O filme "The Square",
dirigido pelo sueco Ruben Ostlund, levou a Palma de Ouro neste domingo do
Festival de Cannes, que na 70ª edição também premiou como melhores
interpretações a alemã Diane Kruger e o americano Joaquin Phoenix.
Foi uma ampla lista anunciada
pelo presidente do júri, Pedro Almodóvar, que incluía um prêmio especial para
Nicole Kidman. Títulos e nomes esperados na maioria dos casos, exceto o prêmio
principal que foi para um filme de humor e ironia, que não aparecia entre os favoritos.
O Grande Prêmio do Júri, o
prêmio da crítica, foi para o francês "120 Beats Per Minute", de
Robin Campillo, que narra a história de um grupo de ativistas durante epidemia
da Aids no anos 80. Segundo Almodóvar, um longa que o emocionou "do início
ao fim".
No campo das atuações se
cumpriram todos os prognósticos. A alemã Diane Kruger levou o prêmio a melhor
atriz pelo drama de uma mulher em busca de vingança, após a morte do marido e
do filho em um atentado terrorista em "In the Fade", de Fatih Akin.
"Não posso aceitar este
prêmio sem pensar em todos os que foram afetados pelo terrorismo, que tentaram
reconstruir suas vidas e seguir adiante", disse a atriz, ao subir ao
palco.
Já a láurea de melhor ator
foi para Joaquin Phoenix, que revelou que não imaginava vencer, pela atuação no
suspense "You Were Never Really Here", da escocesa Lynne Ramsay.
O prêmio de melhor roteiro
teve dois vencedores: "The Killing of a Sacred Deer", do grego Yorgos
Lanthimos; e ou "Were Never Really Here".
Na categoria melhor direção
quem venceu foi Sofia Coppola, por "The Beguiled", um filme de amor
passado na época da Guerra de Secessão e protagonizado por Nicole Kidman.
Apesar de muito aplaudido, a produção não estava entre as apostas dos
especialistas.
A lista de premiados teve
ainda o longa russo "Nelyubov", de Andrey Zvyagintsev, que faz uma
crítica sobre a sociedade atual e que ganhou o Prêmio do Júri.
EFE
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17 de fevereiro de 1.600 é uma data fatídica. Neste dia, um herege foi executado no Campo das Flores, em Roma. Giordano Bruno foi aprisionado, torturado e, após dois julgamentos, condenado a morrer na fogueira do Santo Ofício. Seu crime? Acreditar na ideia de que o universo é infinito, de que ao redor de cada estrela gravitam planetas, e na concepção de que cada planeta irradia vida.
Ex monge dominicano, nos oito anos em que padeceu na prisão se submeteu a todo tipo de violência e opressão para que se retratasse, renegando suas convicções. O brutalizaram em vão. A congregação católica não logrou o êxito que obteria, poucos anos depois, com Galileu Galilei. Este, para não morrer na fogueira, teve que, de joelhos, abjurar toda a sua consistente obra científica e filosófica.
A ortodoxia da Igreja Católica de então concebia a terra como um planeta único no universo, resultado da intervenção direta de Deus. Um axioma que – em hipótese alguma – poderia ser questionado.
Mas, Giordano Bruno descortinou, antes da invenção do telescópio, a infinitude do universo. E que na imensidão do cosmos, existia não um, mas um número infinito de planetas. Sendo assim – questionaram os guardiões da fé – “cada planeta teria o seu próprio Jesus? Heresia! Blasfêmia! Sacrilégio! ”.
Suas ideias, formulações e livros foram proibidos, incinerados e incluídos no Index Librorum Prohibitorum, o Índice dos Livros Proibidos.
Num ato de misericórdia, os condenados, antes de arderem no fogo da santa fogueira, eram estrangulados e mortos. Mas com Giordano Bruno foi diferente. Suas formulações representavam uma ameaça de tal dimensão aos alicerces da doutrina católica que a sentença estabeleceu que morresse diretamente em decorrência das chamas, línguas de fogo e labaredas originárias da fogueira. Seu pecado? Declarar que a terra não era o único planeta criado por Deus.
Este é o esteio de onde emerge a peça teatral “Giordano Bruno, a fogueira que incendeia é a mesma que ilumina”.
A trama se desenrola no intervalo entre a condenação do filósofo italiano e a aplicação da pena de morte. A ficção contextualiza o ambiente de transição entre a baixa idade média e a idade moderna. O ambiente de ‘caça às bruxas’, o absolutismo e o autoritarismo políticos, a corrupção endêmica, o feudalismo e a ascensão da burguesia, a ortodoxia e os paradigmas religiosos, o racionalismo e o iluminismo compõem o substrato por onde se movimentam as personagens da peça.
O conselheiro do papa Clemente VIII, o octogenário Giovanni Archetti, comanda - do Palácio do Vaticano - uma intrincada rede de corrupção e, através dela, planeja desposar a mais bela jovem da Europa, Donabella de Monferrato. A formosa mulher admira e integra um grupo de seguidores de Giordano Bruno. Para convencê-la acerca do matrimônio, o poderoso velhaco tenta ludibriá-la e mente, afirmando que promoverá a revisão do julgamento do famoso filósofo, anulando a pena de morte imposta. Sem ser correspondido, o poderoso Giovanni Archetti ama Donabella, que é amada pelo noviço Enrico Belinazzo, um jovem frade de corpo atlético que, por sua vez, é amado pelo vetusto padre Lorenzo, o diretor do seminário.
De modo que conflitos secundários são explorados evidenciando os paradigmas da baixa idade média, os fundamentos dos novos modelos, dos novos arquétipos que surgiam em oposição ao poder do imperador do Sacro Império, do Papa e dos reis; o ocaso do feudalismo, suplantado pela burguesia que emerge como a nova classe dominante; a degeneração da política e a degradação moral e dos costumes.
Adentre este universo povoado por conflitos, disputas, cizânias e querelas. Um enredo que, lançando mão de episódios verídicos da narrativa histórica, ambienta novelos densos e provocativos instigando os leitores a responder se o autoritarismo e a corrupção que vincaram o interim entre os séculos XVI e XVII não seriam equivalentes – em extensão, volume e grandeza - aos verificados nos dias de hoje.
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