Cairo, 5 mai (EFE). - Escritor e crítico espanhol, Antonio Maura
acredita que Joaquim Maria Machado de Assis, o grande gênio da literatura
brasileira, não foi devidamente valorizado pela crítica e mereceria ser
reconhecido como uma dos melhores escritores do século XIX.
"Acho que Machado é um
dos grandes nomes do século XIX. Não acredito que se compare nem a (Charles)
Dickens, (Honoré de) Balzac, Eça de Queiroz ou ao nosso (Benito Pérez) Galdós.
São grandes escritores, mas estão abaixo nos quesitos riqueza, crítica e análise
da sociedade e versatilidade. Não chegam aos pés", diz.
Sócio correspondente da
Academia Brasileira de Letras, Maura está no Cairo para a conferência " El
autor y sus máscaras: una aproximación a Cervantes y Machado de Assis" (O
autor e suas máscaras: uma aproximação de Cervantes e Machado de Assis), no
Instituto Cervantes, e afirma que, fora de suas fronteiras, o escritor
brasileiro "é um grande desconhecido". Em sua opinião, até mesmo no
Brasil os estudos sobre Machado de Assis "não refletiram bem" sua
faceta de grande crítico do sistema de sua época e da escravidão.
Para ele, o cronista e poeta
teve que recorrer à ironia para falar "na surdina" de um tema que não
podia ser encarado abertamente por ele ser neto de escravos. Um exemplo disso é
"Memórias póstumas de Brás Cubas" (1881). Segundo Maura, a verdadeira
intenção de do autor é "colocar o dedo na ferida" da sociedade e para
isso se serve de uma sutil alegoria para denunciar que o morto é o próprio
Brasil.
A escolha do nome do
protagonista, que coincide com o início do nome do país, "não é à
toa" para um alguém tão "inteligente e cuidadoso com a
linguagem" quanto era Machado de Assis. De acordo com ele, "a crítica
brasileira foge" desta interpretação porque "não é fácil aceitar que
seu país é um país morto ou esteve morto".
Maura defende que as obras
que o romancista e dramaturgo escreveu depois de "Memórias póstumas",
como "Dom Casmurro" ou "Quincas Borba", são dos livros
"mais importantes de sua geração, não apenas do Brasil, mas de todo o
mundo".
Segundo ele, alguns autores
de língua espanhola, como Jorge Edwards, Julián Ríos e Carlos Fuentes,
destacaram a importância de Machado de Assis, mas o mestre brasileiro ainda
carece do merecido reconhecimento mundial.
EFE