JUDICIÁRIO
Todos os males do
Brasil se devem ao nosso sistema jurídico! É ineficiente, os processos levam
anos para serem julgados, muitos recursos e nada se resolve. Uma estrutura
gigantesca, onerosa para apresentar resultados pífios. A população não se
beneficia e, em alguns casos, morre e não vê o resultado da sua demanda. Da 1ª
instância ao STF, passando por STJ, TCU, TCE, TREs, procuradoria, promotoria,
conselho de Justiça, nada funciona de maneira eficiente. Agora, as mordomias e
as vantagens são muitas!
Por JORGE O. S. MC
KENZIE RIO, em O Globo (Dos leitores)
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A expressão latina “castigat mores ridendo” que,
numa tradução livre poderia significar “rindo se corrige a moral” é uma locução
que parece ter sido moldada para justificar a peça teatral “O juiz”.
No texto, o autor utiliza a comédia para desvelar a
farsa em que acabou se constituindo o poder judiciário num país imaginário denominado
Banânia que, evidentemente, nenhuma semelhança guarda com o Brasil de hoje e,
muito menos, com a porção latina do continente americano.
A farsa, no teatro grego antigo, ao contrário do que muitos apregoam,
não é uma forma dramática nova e sim uma variação da comédia. Apenas acentua as
situações onde predominam o ridículo e o cômico, exatamente os eixos
estruturantes sobre os quais Antônio Carlos desenvolveu a trama. Por sua vez, a palavra “comédia” é originária
do grego “komoidia”, e seu sentido lato é folia, divertimento. A comédia grega
está ligada ao inusitado, ao pitoresco, ao excêntrico. É franca e, mesmo,
obscena. A confusão - de não poucos - é identificá-la tão somente com o sorriso
fácil e a alegria despretensiosa. Porque pode despertar reações tão opostas
como o desprezo e a arrogância.
A partir da idade média, com a Commedia dell’Arte,
o gênero passou a se constituir no preferido dos artistas para conduzir a crítica
política e social, de modo a manterem-se protegidos da censura e da repressão
governamental.
Na peça “O juiz”, Antônio Carlos aborda questões latentes em autores
como Aristóteles (Política), John Locke (Segundo Tratado do Governo Civil), e Montesquieu
(O Espírito das Leis) e que alavancaram o estado moderno e a democracia
contemporânea para denunciar – com muito humor e irreverência – a (i) propalada
independência dos poderes, (ii) o sistema de freios e contrapesos e (iii) a
nefasta prevalência do judiciário quando os demais poderes, executivo e
legislativo, estão deliberadamente fragilizados. Uma das personagens da peça
chega a se sublevar contra um dos principais ensinamentos de Rui Barbosa: “A pior ditadura é a ditadura do Poder
Judiciário. Contra ela, não há a quem recorrer”.
Assim é que, na trama teatral, uma múmia ressuscita
de seu milenar sarcófago para transformar um índio no presidente da mais alta
corte judiciária do país. O terrível plano é instituir uma ‘república’ onde tão
somente as corporações e os partidários do poder tenham vez. Nas palavras do
presidente do Supremo Tribunal Nacional, o cacique indígena Morubixaba, um dos
protagonistas da peça, “O império que estamos estruturando
está acima de tudo e de todos. E aqui, no reino deste novo universo do
trabalhadorismo, preside um juiz que potestade alguma poderá corromper, além,
naturalmente, de todas as associações, sindicatos, corporações, grupos de
interesses e organizações civis, políticas e populares comprometidos com os
altos interesses de nosso projeto ideológico
popular-progressista-desenvolvimentista, a mais nova vertente do messianismo
sebastianista”.
Fatos e episódios ridículos e burlescos são
enfocados desnudando a história das autoridades caudilhescas do continente. Cenas
e quadros - de intenso humor e fina ironia – personificam a essência da sátira,
num jogo dramático que corrobora a tese de que a melhor maneira de modificar a
realidade é revelar o quanto ela é absurda, kafkiana, e rir, gargalhar,
divertir-se com a situação, pois que, assim, os costumes políticos e sociais
estarão sendo ‘castigados’.
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