terça-feira, 23 de maio de 2017

O capitalismo de compadrio


A EMPRESA QUE CRESCEU À SOMBRA DO PT
Na carta que divulgou ao fim do dia mais conturbado do ano até agora, Joesley Batista, presidente afastado e controlador da j&F, pede 'desculpas aos brasileiros pela corrupção praticada' e encerra com uma promessa intrigante. O empresário afirma que o grupo, um colosso de R$ 174 bilhões em receitas e 270 mil funcionários, no Brasil menor apenas que a Petrobras, vai virar as inúmeras páginas de corrupção que escreveu 'acordando cedo e trabalhando muito". Não que os irmãos Joesley e Wesley não trabalhem duro. Ainda jovens, abandonaram os estudos para acompanhar na labuta o pai, José Batista Sobrinho, que construiu do zero um pequeno grupo de frigoríficos no Centro-Oeste do país. Antes de completar 20 anos, receberam duas unidades, então chamadas Friboi, nas quais trabalharam arduamente.
Nos últimos dez anos, porém, a dupla se tornou mais apressada e a adotar atalhos para chegar aonde pretendiam.
Os irmãos passaram a usar dois apoios para o crescimento do negócio. Um foi um fenômeno econômico global - o superciclo de valorização de matérias-primas, que impulsionou o Agronegócio brasileiro. Outro foi uma rede de conexões políticas. Os efeitos econômicos do superciclo, que perdurou de 2003 a 2013, foram catalisados pela política do governo do PT de formação de campeões nacionais. No capitalismo de compadrio que orientou a aplicação dessa estratégia, grupos privados foram selecionados para receber apoio de acordo com seu potencial de expansão global - e, fica cada vez mais claro, disposição para financiar o partido.
Quando nada disso bastava, dinheiro não faltava aos Batistas para comprar apoio, por meio legal - em 2014, foi o maior doador de campanhas do país, com R$ 370 milhões - ou, como Joesley admite nas gravações, ilegal. Num dos vídeos, Joesley conta, por exemplo, que chegou a subornar deputados para que votassem a favor de Dilma Rousseff em seu processo de impeachment. Isso se confirma nas investigações sobre o grupo e, agora, na delação premiada que os irmãos acabam de fazer para se livrar do risco de prisão e perda financeira.
Há dez anos, a Friboi já era uma empresa de porte. Fizera algumas aquisições no exterior e acabara de concluir uma bem-sucedida abertura de capital na Bolsa. Com essas credenciais, Joesley e Wesley apresentaram-se ao BNDES pedindo dinheiro para comprar a americana Swiff, então a maior processadora de carnes do mundo. Saíram de lá com muito mais. O BNDESPar decidiu não só financiá-los, mas tornar-se seu sócio. Injetou US$ 750 milhões para a operação e adquiriu fatia do capital. A Friboi parecia a empresa certa para assumir o papel de campeã nacional. Tornouse o caso mais vistoso do modelo, abandonado a partir de 2011, no primeiro mandato de Dilma Rousseff. Com a crise fiscal que se anunciava, ficou difícil defender a torra de R$ 400 bilhões em Recursos Públicos no que ficou conhecido como Bolsa Empresário.
Antes disso, porém, entre 2008 e 2009, a Friboi, já JBS, pediu dinheiro ao banco mais duas vezes para novas aquisições no exterior. O BNDES pressionou para que levassem ativos do concorrente Bertin.
As aquisições, turbinadas por cerca de R$ 10 bilhões do BNDES, em valores atuais, tornaram o JBS o maior processador de carne do mundo. O BNDES, ainda hoje, tem 23% de suas ações.
Encorpada, a JBS começou também a expandir o leque de negócios, sob a empresa guardachuva chamada J&F, iniciais dos nomes de José e Flora, pais de Joesley e Wesley. Comprou marcas de produtos de limpeza e higiene da Hypermarcas. Criou um banco, o Original. Comprou o Canal Rural. Ampliou, com a criação da Eldorado Celulose, um ramo antes insignificante no grupo, graças ao dinheiro de fundos de pensão da Caixa Econômica e do FGTS. Aproveitou as dificuldades da Camargo Corrêa, depois da Lava Jato, e comprou dela a Alpargatas, dona das Havaianas, com empréstimo da Caixa. Entrou no setor de energia. Em 2014, a J&F desbancou a Vale do ranking de maior empresa privada brasileira. A partir daí, a empresa passou a chamar a atenção mais por pendências com a Justiça do que pelos feitos no mundo dos negócios.
No ano seguinte, investigações tocadas por policiais e procuradores começavam a encontrar indícios de corrupção de agentes públicos em diversos órgãos e instâncias. Nos últimos dez meses, empresas e sócios da J&F foram alvos de cinco operações da Polícia Federal. A Sepsis, deflagrada a partir da Lava Jato em julho, investiga uma suspeita de favorecimento à Eldorado na liberação de recursos do FGTS, com pagamento de propina ao ex-deputado Eduardo Cunha, hoje preso. Dois meses depois, na Operação Greenfield, policiais voltaram ao grupo à procura de provas sobre a suspeita liberação de RS 550 milhões pelos fundos de pensão Petros e Funcef, respectivamente da Petrobras e da Caixa, também para a Eldorado. A Justiça afastou os irmãos do comando do grupo e bloqueou seus bens. Eles se comprometeram a não atrapalhar investigações e a pagar fiança para voltar às atividades.
Em janeiro deste ano, o grupo foi alvo da Operação Cui Bono, que investiga fraude em liberação de crédito da Caixa. Em março, a Seara, integrante do grupo, foi abatida na Operação Carne Fraca, sob acusação de corrupção de fiscais do Ministério da Agricultura. O grupo teve de fechar temporariamente 33 dos 36 frigoríficos, devido à queda na importação. Em abril, a Justiça manda, novamente, Joesley deixar o Conselho de Administração da I&F, por suspeita de tentativa de atrapalhar a Greenfield. Atualmente, o Tribunal de Contas da União se debruça sobre as quatro operações de crédito fechadas com o BNDES entre 2007 e 2009, por indícios de irregularidade. A apuração serviu de base à quinta e mais recente operação que alvejou o grupo, a Bullish, no dia 12 de maio.
O cerco havia levado Joesley e mais cinco executivos a acertar delação premiada com a Procuradoria-Geral da República em abril. No cardápio de denúncias, apresentaram os áudios explosivos contra o presidente Mi- chel Temer e o senador Aécio Neves (PSDB-MG) (leia mais nas páginas 32 e 40). Nas gravações, Joesley pede favores para demandas do grupo em órgãos como o Cade (responsável por defender o nível de concorrência no mercado) e a Comissão de Valores Mobiliários (que fiscaliza o mercado de capitais). Isso elimina qualquer dúvida sobre os métodos desleais que levaram a J&F à condição de maior empresa privada brasileira.
A carta de Joesley pede desculpas e promete abandonar as práticas ilegais. O grupo concluiu um acordo de leniência com as autoridades e se compromete a ajudar nas investigações. Ao delatar, os sócios da J&F aceitaram pagar R$ 225 milhões, uma multa irrisória para o tamanho do grupo.
A relativa facilidade com que o grupo se livrou de investigações criminais no Brasil pode não se repetir nos Estados Unidos, onde a empresa tem uma operação grande e planejava uma oferta de ações. A J&F contratou o escritório de advocacia Trench, Rossi & Watanabe para defendê-la junto às autoridades nos Estados Unidos. À frente, estará o ex- procurador da Lava Jato Marcelo Miller, desligado do MPF há apenas dois meses para ingressar no escritório.
Por Samantha Lima, na Revista Época

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