A EMPRESA QUE
CRESCEU À SOMBRA DO PT
Na carta que
divulgou ao fim do dia mais conturbado do ano até agora, Joesley Batista,
presidente afastado e controlador da j&F, pede 'desculpas aos brasileiros
pela corrupção praticada' e encerra com uma promessa intrigante. O empresário
afirma que o grupo, um colosso de R$ 174 bilhões em receitas e 270 mil
funcionários, no Brasil menor apenas que a Petrobras, vai virar as inúmeras
páginas de corrupção que escreveu 'acordando cedo e trabalhando muito".
Não que os irmãos Joesley e Wesley não trabalhem duro. Ainda jovens,
abandonaram os estudos para acompanhar na labuta o pai, José Batista Sobrinho,
que construiu do zero um pequeno grupo de frigoríficos no Centro-Oeste do país.
Antes de completar 20 anos, receberam duas unidades, então chamadas Friboi, nas
quais trabalharam arduamente.
Nos últimos dez
anos, porém, a dupla se tornou mais apressada e a adotar atalhos para chegar
aonde pretendiam.
Os irmãos passaram
a usar dois apoios para o crescimento do negócio. Um foi um fenômeno econômico
global - o superciclo de valorização de matérias-primas, que impulsionou o
Agronegócio brasileiro. Outro foi uma rede de conexões políticas. Os efeitos
econômicos do superciclo, que perdurou de 2003 a 2013, foram catalisados pela política
do governo do PT de formação de campeões nacionais. No capitalismo de compadrio
que orientou a aplicação dessa estratégia, grupos privados foram selecionados
para receber apoio de acordo com seu potencial de expansão global - e, fica
cada vez mais claro, disposição para financiar o partido.
Quando nada disso
bastava, dinheiro não faltava aos Batistas para comprar apoio, por meio legal -
em 2014, foi o maior doador de campanhas do país, com R$ 370 milhões - ou, como
Joesley admite nas gravações, ilegal. Num dos vídeos, Joesley conta, por
exemplo, que chegou a subornar deputados para que votassem a favor de Dilma
Rousseff em seu processo de impeachment. Isso se confirma nas investigações
sobre o grupo e, agora, na delação premiada que os irmãos acabam de fazer para
se livrar do risco de prisão e perda financeira.
Há dez anos, a
Friboi já era uma empresa de porte. Fizera algumas aquisições no exterior e
acabara de concluir uma bem-sucedida abertura de capital na Bolsa. Com essas
credenciais, Joesley e Wesley apresentaram-se ao BNDES pedindo dinheiro para
comprar a americana Swiff, então a maior processadora de carnes do mundo.
Saíram de lá com muito mais. O BNDESPar decidiu não só financiá-los, mas
tornar-se seu sócio. Injetou US$ 750 milhões para a operação e adquiriu fatia
do capital. A Friboi parecia a empresa certa para assumir o papel de campeã
nacional. Tornouse o caso mais vistoso do modelo, abandonado a partir de 2011,
no primeiro mandato de Dilma Rousseff. Com a crise fiscal que se anunciava, ficou
difícil defender a torra de R$ 400 bilhões em Recursos Públicos no que ficou
conhecido como Bolsa Empresário.
Antes disso, porém,
entre 2008 e 2009, a Friboi, já JBS, pediu dinheiro ao banco mais duas vezes
para novas aquisições no exterior. O BNDES pressionou para que levassem ativos
do concorrente Bertin.
As aquisições,
turbinadas por cerca de R$ 10 bilhões do BNDES, em valores atuais, tornaram o
JBS o maior processador de carne do mundo. O BNDES, ainda hoje, tem 23% de suas
ações.
Encorpada, a JBS
começou também a expandir o leque de negócios, sob a empresa guardachuva
chamada J&F, iniciais dos nomes de José e Flora, pais de Joesley e Wesley.
Comprou marcas de produtos de limpeza e higiene da Hypermarcas. Criou um banco,
o Original. Comprou o Canal Rural. Ampliou, com a criação da Eldorado Celulose,
um ramo antes insignificante no grupo, graças ao dinheiro de fundos de pensão
da Caixa Econômica e do FGTS. Aproveitou as dificuldades da Camargo Corrêa,
depois da Lava Jato, e comprou dela a Alpargatas, dona das Havaianas, com
empréstimo da Caixa. Entrou no setor de energia. Em 2014, a J&F desbancou a
Vale do ranking de maior empresa privada brasileira. A partir daí, a empresa
passou a chamar a atenção mais por pendências com a Justiça do que pelos feitos
no mundo dos negócios.
No ano seguinte,
investigações tocadas por policiais e procuradores começavam a encontrar
indícios de corrupção de agentes públicos em diversos órgãos e instâncias. Nos
últimos dez meses, empresas e sócios da J&F foram alvos de cinco operações
da Polícia Federal. A Sepsis, deflagrada a partir da Lava Jato em julho,
investiga uma suspeita de favorecimento à Eldorado na liberação de recursos do
FGTS, com pagamento de propina ao ex-deputado Eduardo Cunha, hoje preso. Dois
meses depois, na Operação Greenfield, policiais voltaram ao grupo à procura de
provas sobre a suspeita liberação de RS 550 milhões pelos fundos de pensão
Petros e Funcef, respectivamente da Petrobras e da Caixa, também para a
Eldorado. A Justiça afastou os irmãos do comando do grupo e bloqueou seus bens.
Eles se comprometeram a não atrapalhar investigações e a pagar fiança para
voltar às atividades.
Em janeiro deste
ano, o grupo foi alvo da Operação Cui Bono, que investiga fraude em liberação
de crédito da Caixa. Em março, a Seara, integrante do grupo, foi abatida na
Operação Carne Fraca, sob acusação de corrupção de fiscais do Ministério da
Agricultura. O grupo teve de fechar temporariamente 33 dos 36 frigoríficos,
devido à queda na importação. Em abril, a Justiça manda, novamente, Joesley
deixar o Conselho de Administração da I&F, por suspeita de tentativa de
atrapalhar a Greenfield. Atualmente, o Tribunal de Contas da União se debruça
sobre as quatro operações de crédito fechadas com o BNDES entre 2007 e 2009, por
indícios de irregularidade. A apuração serviu de base à quinta e mais recente
operação que alvejou o grupo, a Bullish, no dia 12 de maio.
O cerco havia
levado Joesley e mais cinco executivos a acertar delação premiada com a
Procuradoria-Geral da República em abril. No cardápio de denúncias,
apresentaram os áudios explosivos contra o presidente Mi- chel Temer e o
senador Aécio Neves (PSDB-MG) (leia mais nas páginas 32 e 40). Nas gravações,
Joesley pede favores para demandas do grupo em órgãos como o Cade (responsável
por defender o nível de concorrência no mercado) e a Comissão de Valores
Mobiliários (que fiscaliza o mercado de capitais). Isso elimina qualquer dúvida
sobre os métodos desleais que levaram a J&F à condição de maior empresa
privada brasileira.
A carta de Joesley
pede desculpas e promete abandonar as práticas ilegais. O grupo concluiu um
acordo de leniência com as autoridades e se compromete a ajudar nas
investigações. Ao delatar, os sócios da J&F aceitaram pagar R$ 225 milhões,
uma multa irrisória para o tamanho do grupo.
A relativa
facilidade com que o grupo se livrou de investigações criminais no Brasil pode
não se repetir nos Estados Unidos, onde a empresa tem uma operação grande e
planejava uma oferta de ações. A J&F contratou o escritório de advocacia
Trench, Rossi & Watanabe para defendê-la junto às autoridades nos Estados
Unidos. À frente, estará o ex- procurador da Lava Jato Marcelo Miller,
desligado do MPF há apenas dois meses para ingressar no escritório.
Por Samantha Lima,
na Revista Época
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Livro 3 - Lobisomem – O lobo que era homem
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Livro 5 - A Mula sem cabeça
Livro 6 - Iara, a mãe d’água
Livro 7 - Caipora
Livro 8 - O Negrinho pstoreiro
Livro 9 - Romãozinho, o fogo fátuo
Livro 10 - Saci Pererê
Livro 1 - O coronel e o juízo final
Livro 2 - A noite do terror
Livro 3 - Lobisomem – O lobo que era homem
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