sexta-feira, 26 de maio de 2017

“A críticas ao acordo do MPF com os irmãos Batistas provêm de pessoas que antes se achavam intocáveis e agora estão em pânico”


Olhando de perto, a sensação é a de que o crime compensou. Os irmãos empresários que ficaram bilionários com obscuros empréstimos do BNDES e distribuição de propina para agentes políticos, a qual serviu como fermento para os negócios, no final, estão livres, leves e soltos, morando em uma das avenidas mais glamourosas de Nova York.
Mas, quando se abre o ângulo de visão, buscando enxergar mais longe, o quadro que se forma é bem outro.
O que tínhamos antes do acordo do procurador-geral da República com os donos da JBS/Friboi e o que temos hoje? Atualmente, temos uma situação em que o crime compensou para os colaboradores, mas não compensou para as centenas de pessoas, políticos, empresários, advogados e até um membro do MPF delatados. E antes, o que tínhamos? Uma situação de crimes múltiplos e continuados os quais sequer sabíamos de suas existências, em razão do pacto de silêncio que cria ambiente propício para que se alastrem, e que estava compensando para todos: corruptos e corruptores (...).
Quando apenas se olha para a família Batista na 5ª Avenida de Nova York, tem-se a impressão de que o acordo foi ruim para os brasileiros. Porém, quando se analisa o caso de uma maneira mais ampla, inclusive a longo prazo, pode-se enxergar que esse acordo tem potencial para elevar a um novo e bem mais alto patamar o combate às organizações criminosas que assaltam o estado brasileiro.
O instituto da colaboração premiada funciona dessa forma. Damos ao criminoso uma pena muito menor do que ele merece (ou até mesmo o isentamos de qualquer punição) e, em troca, ele nos dá condições de derrubarmos uma boa fatia do crime organizado. Pode não parecer justo, quando se olha só para o crime que o colaborador confessou, mas é efetivamente vantajoso para o combate ao crime que sangra os recursos dos brasileiros e os fazem sofrer, como estamos assistindo ao sofrimento dos cariocas e fluminenses.
Teremos novas Lavajatos a partir desse acordo, maiores até do que a atual Lavajato. Muitas das críticas ao acordo do MPF com os irmãos Batistas provêm de pessoas que antes se achavam intocáveis e agora estão em pânico, sentindo que estão cada vez mais próximas de serem alcançadas pelo braço longo da lei. Imagine quantos corruptos, nesse exato momento, não devem estar pensando ou conversando com seus advogados sobre as vantagens de se adiantarem e procurarem o Ministério Público Federal para contarem o que sabem, antes de serem delatados por comparsas, ou de o camburão da Polícia Federal os acordar ao nascer do sol. O recado está dado: quem chega primeiro, bebe água limpa.
Procurador Helio Telho, em O Estado de São Paulo

______________



17 de fevereiro de 1.600 é uma data fatídica. Neste dia, um herege foi executado no Campo das Flores, em Roma. Giordano Bruno foi aprisionado, torturado e, após dois julgamentos, condenado a morrer na fogueira do Santo Ofício. Seu crime? Acreditar na ideia de que o universo é infinito, de que ao redor de cada estrela gravitam planetas, e na concepção de que cada planeta irradia vida.

Ex monge dominicano, nos oito anos em que padeceu na prisão se submeteu a todo tipo de violência e opressão para que se retratasse, renegando suas convicções. O brutalizaram em vão. A congregação católica não logrou o êxito que obteria, poucos anos depois, com Galileu Galilei. Este, para não morrer na fogueira, teve que, de joelhos, abjurar toda a sua consistente obra científica e filosófica.

A ortodoxia da Igreja Católica de então concebia a terra como um planeta único no universo, resultado da intervenção direta de Deus. Um axioma que – em hipótese alguma – poderia ser questionado.

Mas, Giordano Bruno descortinou, antes da invenção do telescópio, a infinitude do universo. E que na imensidão do cosmos, existia não um, mas um número infinito de planetas. Sendo assim – questionaram os guardiões da fé – “cada planeta teria o seu próprio Jesus? Heresia! Blasfêmia! Sacrilégio! ”.

Suas ideias, formulações e livros foram proibidos, incinerados e incluídos no Index Librorum Prohibitorum, o Índice dos Livros Proibidos. 

Num ato de misericórdia, os condenados, antes de arderem no fogo da santa fogueira, eram estrangulados e mortos. Mas com Giordano Bruno foi diferente. Suas formulações representavam uma ameaça de tal dimensão aos alicerces da doutrina católica que a sentença estabeleceu que morresse diretamente em decorrência das chamas, línguas de fogo e labaredas originárias da fogueira. Seu pecado? Declarar que a terra não era o único planeta criado por Deus.

Este é o esteio de onde emerge a peça teatral “Giordano Bruno, a fogueira que incendeia é a mesma que ilumina”.

A trama se desenrola no intervalo entre a condenação do filósofo italiano e a aplicação da pena de morte. A ficção contextualiza o ambiente de transição entre a baixa idade média e a idade moderna. O ambiente de ‘caça às bruxas’, o absolutismo e o autoritarismo políticos, a corrupção endêmica, o feudalismo e a ascensão da burguesia, a ortodoxia e os paradigmas religiosos, o racionalismo e o iluminismo compõem o substrato por onde se movimentam as personagens da peça.

O conselheiro do papa Clemente VIII, o octogenário Giovanni Archetti, comanda - do Palácio do Vaticano - uma intrincada rede de corrupção e, através dela, planeja desposar a mais bela jovem da Europa, Donabella de Monferrato. A formosa mulher admira e integra um grupo de seguidores de Giordano Bruno. Para convencê-la acerca do matrimônio, o poderoso velhaco tenta ludibriá-la e mente, afirmando que promoverá a revisão do julgamento do famoso filósofo, anulando a pena de morte imposta. Sem ser correspondido, o poderoso Giovanni Archetti ama Donabella, que é amada pelo noviço Enrico Belinazzo, um jovem frade de corpo atlético que, por sua vez, é amado pelo vetusto padre Lorenzo, o diretor do seminário. 

De modo que conflitos secundários são explorados evidenciando os paradigmas da baixa idade média, os fundamentos dos novos modelos, dos novos arquétipos que surgiam em oposição ao poder do imperador do Sacro Império, do Papa e dos reis; o ocaso do feudalismo, suplantado pela burguesia que emerge como a nova classe dominante; a degeneração da política e a degradação moral e dos costumes. 

Adentre este universo povoado por conflitos, disputas, cizânias e querelas. Um enredo que, lançando mão de episódios verídicos da narrativa histórica, ambienta novelos densos e provocativos instigando os leitores a responder se o autoritarismo e a corrupção que vincaram o interim entre os séculos XVI e XVII não seriam equivalentes – em extensão, volume e grandeza - aos verificados nos dias de hoje.


Para comprar o livro, clique aqui.