domingo, 28 de maio de 2017

Homenagem de cineasta brasileiro a amigo morto na África é exibida em Cannes



 
EPA/SEBASTIEN NOGIER
O cineasta brasileiro Fellipe Barbosa levou a Cannes neste domingo o filme com o qual homenageia seu amigo de infância Gabriel Buchmann - que morreu em 2009 ao tentar escalar o Monte Mulanje, no Malawi, na Africa, dispensando um guia local - e que narra os últimos dias do fatídico ano sabático do economista, que tinha 28 anos.
"Gabriel e a Montanha", projetado na Semana da Crítica da 70ª edição do prestigiado festival, conta a passagem do economista por Quênia, Tanzânia, Zâmbia e Malawi, onde tentou chegar ao pico mais alto do país, com mais de 3 mil metros de altitude.
A história em si, como o diretor contou à Agência Efe em Cannes, tinha "muitos mistérios". "Como desapareceu, por que estava sozinho, por que dispensou seu guia. Essas perguntas eram muito cinematográficas. E, depois, havia algo também sobre a alegria de viver, a busca da pureza. Era alguém que queria engolir o mundo", afirmou.
O corpo de Gabriel foi encontrado 19 dias após seu desaparecimento, e é o ponto de partida do longa de Barbosa, que levou à grande tela algumas das pessoas com as quais o amigo se relacionou na vida real.
A mãe e a irmã do jovem economista, assim como amigos comuns com o diretor, estiveram hoje na projeção em Cannes, desafio que este último disse considerar "um sonho".
A família de Gabriel, acrescentou Barbosa, lhe proporcionou material pessoal, e pessoas que ele conheceu lhe relataram os encontros que tiveram, com os quais o cineasta terminou de montar o quebra-cabeça.
"Tentei me ajustar o máximo possível à verdade, o que não significa que não tenha sintetizado muitas coisas em alguma cena. É uma interpretação da verdade, a verdade de cada um que me deu o seu ponto de vista, e quis ser muito fiel ao que me contaram, ainda que às vezes houvesse contradições", disse.
O filme é também uma crítica velada a todos os estrangeiros com um sentimento de superioridade em países pobres, que apesar das advertências assumem riscos desnecessários sem conhecer o local.
"Pode ser que haja certo aspecto colonialista, mas não é o mesmo que em um europeu. Gabriel não se passa por um 'muzungu' (homem branco), e não me parece ridículo. Tem parte de verdade, porque ainda que fosse branco de pele, não acredito que seja normal para muitos viajar assim, de uma forma tão pobre como ele fez", contou.
As gravações duraram 70 dias e foram feitas também nos quatro países pelos quais Gabriel passou nesse último trecho da viagem, em que esteve acompanhado em parte pela namorada, que ajudou o cineasta no relato dos acontecimentos.
Este filme é o quinto de Barbosa na direção, após "Casa Grande" (2014), o documentário "Laura" (2011) e os curtas "Beijo de Sal" (2007) e "La Muerte es Pequeña" (2005).
"Não faço os filmes para mim, mas tampouco só para os outros. É uma combinação. Ao escrever o roteiro, sempre tento pensar no que as pessoas vão sentir. O filtro é tentar sentí-lo, ainda que às vezes, quando se trabalha sete meses na montagem, seja difícil", comentou.
Atualmente, ele está focado em "City of Alex", o primeiro filme em inglês de sua carreira, coproduzido com Estados Unidos e Alemanha, e em outro projeto menor, que será desenvolvido no Brasil.
"O sistema público (brasileiro) de financiamento funciona muito bem na atualidade. Houve uma grande renovação do cinema brasileiro nos últimos 15 anos", opinou Barbosa, que apresentou pela primeira vez um dos seus filmes em Cannes.
EFE - Marta Garde.





 Conforme o momento histórico, Shakespeare foi construindo nuvens com peças dotadas de diferentes características, propriedades específicas para cada fase de sua produção literária. “Medida por Medida” e “Bem está o que bem acaba” integram o que se convencionou denominar “comédias sombrias”, peças onde tensão e situações cômicas as categorizam em desacordo com outras comédias do dramaturgo como “A comédia dos erros”, “As alegres comadres de Windsor” e “Sonho de uma noite de verão”. E a explicação é singela: foram elaboradas no mesmo período em que o autor escreveu Hamlet e Otelo, grandes obras da literatura universal que elevam a tragédia ao ápice do gênero teatral. 

Na peça “Medida por Medida”, com inusitada habilidade, Shakespeare discute administração pública, direito e corrupção de maneira magistral. 

O universo da administração pública adotado na peça é largo e profundo. Entrelaçados às cenas emergem assuntos como

- o autoritarismo oriundo do poder divino do rei, as prerrogativas do monarca e a antecipação do liberalismo;
- a descentralização administrativa;
- o abuso do poder na administração pública;
- os limites da delegação de competência;
- accountability, fiscalização e controle;

Quanto ao direito, lança um forte debate sobre quesitos por demais importantes para a humanidade: 

- a aplicabilidade das leis mesmo quando se apresentam fora de uso por um longo tempo, gerando disfunções de toda ordem;
- a execução da pena quando esta resulta de uma lei extremamente dura;
- a discricionariedade do juiz na aplicação da lei, a subjetividade do magistrado e a fragilidade dos paradigmas que orientam o sistema de decisões no judiciário;
- a distribuição da justiça.

Especial enfoque o Bardo dá ao tema da corrupção, mostrando:

- a moral e a ética corroídas pelos interesses pessoais e pelo tráfico de influência;
- a força do poder para alterar o caráter dos administradores.

Neste aspecto Shakespeare nos faz refletir sobre a utilização do Estado enquanto instrumento de satisfação dos interesses pessoais.

E todo este universo é entrecortado por discussões sobre o amor e o ódio, a moral e o imoral, o sexo e a abstinência, a clausura e a liberdade, a prisão e a salvação, a vida e a morte.

O presente livro, além de disponibilizar a versão original de “Medida por medida” de Shakespeare, apresenta um conjunto de ensaios contextualizando a peça teatral às questões que incendeiam os panoramas contemporâneos brasileiro e latino-americano como corrupção, estado e administração pública; controle e accountability; direito e administração da justiça. 

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