domingo, 17 de julho de 2022

Xi cita progresso e ignora acusações de repressão a uigures em 1ª visita a Xinjiang em 8 anos


Xi Jinping fez nesta quinta (14) a primeira visita em oito anos a Xinjiang, província no extremo oeste da China que representa um dos pontos mais sensíveis de sua administração e onde Pequim é acusada internacionalmente de reprimir a minoria muçulmana dos uigures.

 

Relatos da agência oficial Xinhua indicam que Xi visitou universidades, uma área portuária, um museu e complexos residenciais na capital Urumqi. Ele também esteve com membros do Corpo de Construção e Produção de Xinjiang, entidade empresarial e paramilitar criada na década de 1950 e que controla boa parte da produção local.

Citando o discurso, a agência reportou que o líder do regime afirmou estar satisfeito com o "grande progresso feito na reforma e no desenvolvimento" e pediu que os funcionários sentissem orgulho, "continuassem trabalhando duro e intensificassem esforços para tornar o grupo ainda mais forte".

Já o canal estatal CCTV, em uma reportagem de meia hora, disse que Xi teria pedido aos oficiais que ouvissem as pessoas e, assim, pudessem conquistar seus corações. Ainda de acordo com a emissora, ele afirmou que "práticas islâmicas devem estar em conformidade com questões sensíveis aos chineses" e que "Xinjiang deveria ter uma equipe de representantes religiosos politicamente alinhados".

A visita do líder, a despeito das fotos sorridentes, vem em um momento no qual Xinjiang voltou com peso ao debate internacional após a alta comissária de direitos humanos da ONU, Michelle Bachelet, que em breve deixa o cargo, visitar a região e pedir que Pequim reveja suas políticas antiterrorismo para evitar medidas arbitrárias.

O discurso de Bachelet foi alvo de críticas de organizações de direitos humanos, e sua postura também vinha sendo rejeitada por países como os EUA. A expectativa era de que a chilena fosse mais enfática nas críticas à forma como o regime chinês trata os uigures, mas ela frisou que sua ida não representou uma investigação formal.

Pesou, ainda, o fato de que dias antes haviam sido divulgados vazamentos de milhares de documentos e imagens de distritos policiais de Xinjiang, apelidados de Arquivos da Polícia de Xinjiang.

São mais de 2.800 fotos de uigures detidos, dezenas de documentos, sendo alguns de figuras do alto escalão do regime chinês, e 23 mil arquivos de pessoas presas e colocadas em campos de reeducação. Todos datam de 2017 e 2018, anos iniciais do avanço de Pequim.

A província de 1,6 milhão de km² tem peso econômico expressivo. Corresponde, por exemplo, a 19% da produção global de algodão e a 25% da produção de derivados de tomate, segundo dados do governo local e da organização C4ADS. Cazaquistão, Quirguistão e Rússia são, nesta ordem, os três principais importadores de Xinjiang.

"O objetivo da viagem de Xi é ver os resultados das políticas que ele implementou nos últimos anos para estabilizar Xinjiang e concluir que sua abordagem foi bem-sucedida", disse à agência Reuters Li Mingjiang, da Escola de Estudos Internacionais S. Rajaratnam, de Singapura.

A última visita pública de Xi a Xinjiang foi em 2014, quando pediu que fosse implementada uma "luta total contra o terrorismo e o separatismo". Desde então, autoridades ampliaram a repressão e a prisão de uigures.

A província de 25 milhões de habitantes, mostram dados oficiais, tem 10,9 milhões de pessoas da etnia han a predominante na China e 11,6 milhões de uigures, povo com fortes laços na Ásia Central. Pesquisadores e organizações de direitos humanos projetam que, desde 2017, de 1 milhão a 3 milhões de uigures tenham sido detidos em Xinjiang, tanto em prisões quanto em campos de reeducação.

Esta também é a primeira aparição pública de Xi desde que ele visitou Hong Kong no último dia 1º, que marcou os 25 anos do retorno da ilha, uma ex-colônia britânica, para a China, e participou da posse de John Lee, o novo chefe do Executivo local aliado a Pequim.

Folhapress


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