domingo, 24 de julho de 2022

Energia verde tem de ser mais barata e eficiente

 


Há três décadas, os ativistas do clima lutam para tornar os combustíveis fósseis tão caros que as pessoas sejam forçadas a abandoná-los. No entanto, agora que os preços da energia estão fora de controle, continuamos distantes de soluções para as mudanças climáticas.

 

Embora os países ocidentais coloquem a culpa disso na guerra entre Rússia e Ucrânia, os preços já vinham subindo devido às políticas climáticas projetadas para sufocar os investimentos em combustíveis fósseis.

A abordagem de tentar afastar consumidores e empresas dos combustíveis fósseis por meio de picos de preços tem gerado problemas e trazido poucos benefícios para o clima, por duas razões.

Em primeiro lugar, fontes de energia solar e eólica são capazes de atender a uma fração muito pequena da demanda global. Mesmo com enormes subsídios e amplo apoio político, elas representam apenas 1,8% da oferta mundial de energia.

Em segundo lugar, a subida dos preços tem aumentado a pobreza energética mesmo nas economias industrializadas. A Alemanha está prestes a gastar mais de US$ 500 bilhões em políticas climáticas até 2025, mas só conseguiu reduzir sua dependência de combustíveis fósseis de 84% para 77% desde 2000. A McKinsey estima que alcançar uma taxa zero de carbono custará à Europa 5,3% de seu PIB a cada ano. Para a Alemanha, o custo será superior aos US$ 200 bilhões anuais. Isso é mais do que o país gasta em educação e na manutenção de suas polícias, tribunais de Justiça e presídios.

Os formuladores de políticas públicas não continuarão promovendo iniciativas onerosas sem reações negativas. À medida que os preços da energia disparam, crescem os riscos de ressentimento e conflito, como a França viu com os protestos dos “coletes amarelos”.

Para bilhões de pessoas mais pobres, o aumento nos preços da energia é ainda mais grave porque bloqueia as vias para sair da pobreza e torna os fertilizantes inacessíveis aos agricultores, ameaçando a produção de alimentos. Economias emergentes como Índia e países de baixa renda da África não podem se dar ao luxo de sacrificar a erradicação da pobreza e o desenvolvimento para combater as mudanças climáticas.

Globalmente, a baixa competitividade da energia verde significa que o mundo está fadado a permanecer dependente de combustíveis fósseis. A Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês) acredita que os combustíveis fósseis ainda fornecerão dois terços da energia consumida mundialmente até 2050, uma queda modesta em relação aos 79% atuais.

E as emissões de carbono continuam aumentando devido aos fracassos da energia verde. A política climática está errada. Em vez de elevar o preço dos combustíveis fósseis, precisamos tornar a energia verde muito mais barata e eficaz.

A humanidade tem confiado na inovação como resposta a seus desafios. Não resolvemos a poluição do ar forçando as pessoas a parar de dirigir, mas sim com a invenção do conversor catalítico. Não reduzimos a fome dizendo a todos para comer menos, mas graças à Revolução Verde, que permitiu aos agricultores produzir bem mais alimentos.

No entanto a inovação em energia verde tem sido negligenciada há décadas. Desde 1980, os gastos com pesquisa dos países ricos em tecnologias para reduzir o consumo de carbono caíram pela metade, passando a representar menos de 4 centavos para cada US$ 100 do PIB.

Pesquisadores do Consenso de Copenhague, incluindo três economistas ganhadores do Prêmio Nobel, mostraram que a política climática mais eficaz é um aumento de cinco vezes nos gastos com pesquisa e desenvolvimento, que chegariam assim a US$ 100 bilhões por ano. Isso ainda ficaria muito abaixo dos US$ 755 bilhões que o mundo gastou no ano passado em tecnologia verde atual, normalmente ineficaz.

As mudanças climáticas não serão resolvidas tornando a energia fóssil inacessível, mas sim inovando até tornar o custo das tecnologias verdes mais baixo para todos. 

Jornal O Globo, Bjørn Lomborg é presidente do Consenso de Copenhague


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