quarta-feira, 27 de julho de 2022

A economia a serviço de um mundo verde e sustentável

 


Vivemos a década decisiva para o cumprimento da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU), plano global firmado em 2015 entre as principais nações do mundo visando a integrar as dimensões econômica, social e ambiental.

 

É unânime entre todos os atores envolvidos nesse processo que as instituições financeiras de desenvolvimento têm um papel central na mobilização de recursos no combate às mudanças climáticas e na ampliação de ações visando atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) presentes na Agenda 2030.

O papel dessas instituições não se restringe apenas ao suporte financeiro, mas também técnico, inclusive na estruturação de projetos sustentáveis.

Nesse contexto, os bancos de desenvolvimento, agências de fomento e cooperativas de crédito são a ponte para a transição do modelo atual da economia para um novo paradigma, mais verde e sustentável. Essas instituições têm captado recursos em grande volume com parceiros internacionais, por meio de linhas de crédito criadas para financiar projetos sustentáveis, ou por meio da emissão de títulos verdes e sustentáveis.

Os recursos obtidos junto às instituições financeiras internacionais, como, por exemplo, bancos multilaterais, são de linhas temáticas. Portanto, o uso tem que ser obrigatoriamente aplicado no tema do desenvolvimento sustentável e não pode ser destinado para outra finalidade.

No entanto, temos um desafio colossal pela frente. Até 2030 será preciso investir entre US$ 3 trilhões a 4,5 trilhões por ano se quisermos alcançar as metas previstas na Agenda 2030. O Brasil está equipado com um sistema nacional de fomento robusto e conta com instituições financeiras espalhadas em todas as regiões do país e com grande capacidade de financiamento sustentável, entre elas BNDES, Finep, Banco do Brasil, Sebrae e Desenvolve SP, dentre outras.

Nenhum país do mundo possui instituições financeiras de desenvolvimento com tamanho alcance e capilaridade. Esse cenário faz com que o país tenha potencial para liderar o movimento em direção à agenda sustentável e possa assumir o protagonismo na transformação do modelo econômico vigente.

A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2022 (COP27) será realizada em novembro, em Sharm El-Sheikh, no Egito, e o Brasil terá participação ativa nas discussões. Participei da COP26 realizada no ano passado, em Glasgow, que tornou possível a criação de um regime de comércio estruturado entre países, regulamentando a compra de “autorizações” de emissão de carbono para ajudar a alcançar as metas climáticas.

A expectativa para este ano é fazer as correções de rota, avaliar o que mudou desse então e traçar novas metas para reduzir as emissões de carbono e frear a elevação da temperatura global.

O Painel Internacional de Mudanças Climáticas (IPCC), divulgado em fevereiro deste ano, trouxe dados que atestam os efeitos das mudanças climáticas no planeta. Segundo a The Nature Conservancy (TNC), o documento mostra situações semelhantes ao relatório anterior, mas traz mais informações que descrevem os efeitos das mudanças climáticas com mais exatidão.

Apesar dos visíveis avanços obtidos na COP26, os resultados do relatório deixam claro que os esforços globais para mitigar as mudanças climáticas continuam longe do necessário. Em 2020, a temperatura do planeta ficou 1,2°C acima da era pré-industrial (1880). A Organização Meteorológica Mundial (OMM) prevê 20% de probabilidade de que o aumento da temperatura exceda os 1,5°C já a partir de 2024. Parece pouco, mas essa elevação traz reflexos severos aos recursos naturais disponíveis em todas as regiões do planeta.

Neste quadro preocupante que se desenha, precisaríamos parar de crescer até 2025 para evitar uma trajetória climática de características catastróficas. Cidades costeiras poderão ser invadidas pela água e perder sua orla e os principais portos do mundo correm o risco de serem destruídos.

Precisamos adotar ações mais extremas para caminhar em direção a uma sociedade mais verde e sustentável, com menos emissão de carbono e uso consciente dos recursos naturais. As principais economias do mundo precisam se comprometer a atingir esse objetivo.

Dentre os instrumentos para essa transformação estão a ampliação de linhas de crédito exclusivas e com condições diferenciadas para o financiamento a projetos sustentáveis em áreas como eficiência energética, energia renovável, uso do solo, água e saneamento básico.

Em São Paulo, temos experiências bem-sucedidas nessa direção. Os desembolsos para a Linha ESG do Desenvolve SP triplicaram desde o início da pandemia. Em especial para projetos de eficiência energética e energia renovável, como a implantação de usinas fotovoltaicas para a geração de energia solar.

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Ao contrário dos combustíveis fósseis, que são um dos fatores que mais contribuem para danos na camada de ozônio, em uma usina solar a emissão de gases como o CO² é relativamente baixa na atmosfera. Recentemente financiamos a construção de uma usina em São José do Rio Preto, com capacidade de gerar 1 megawatt (mw) de energia, suficiente para suprir o consumo mensal de 1,5 mil residências.

Outro instrumento que pode ser utilizado para ampliar o financiamento verde é a emissão de green bonds, papéis de dívida emitidos especificamente para financiar projetos com benefícios ambientais. Os recursos captados através de títulos verdes são carimbados. Isto é, só podem ser destinados para o projeto específico que foi declarado pela empresa ou governo no momento da emissão.

Não há mais tempo a perder. Os exemplos estão aí para serem seguidos e ampliados. Os bancos de desenvolvimento podem ser o alicerce para essa transformação, financiando projetos que contribuam para um planeta mais limpo, verde e sustentável, contribuindo para o futuro às próximas gerações.

Jornal O Globo, Sergio Gusmão Suchodolski*

*Sobre o autor- Sergio Gusmão Suchodolski é presidente do Desenvolve SP. Foi diretor do Banco dos Brics na China, é ex-presidente do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) e da Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE).

Este artigo reflete as opiniões do autor, e não do jornal O Globo. O jornal não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso dessas informações.


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