Vivemos a década
decisiva para o cumprimento da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas
(ONU), plano global firmado em 2015 entre as principais nações do mundo visando
a integrar as dimensões econômica, social e ambiental.
É unânime entre todos os
atores envolvidos nesse processo que as instituições financeiras de desenvolvimento
têm um papel central na mobilização de recursos no combate às mudanças
climáticas e na ampliação de ações visando atingir os Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS) presentes na Agenda 2030.
O papel dessas instituições
não se restringe apenas ao suporte financeiro, mas também técnico, inclusive na
estruturação de projetos sustentáveis.
Nesse contexto, os bancos de
desenvolvimento, agências de fomento e cooperativas de crédito são a ponte para
a transição do modelo atual da economia para um novo paradigma, mais verde e
sustentável. Essas instituições têm captado recursos em grande volume com
parceiros internacionais, por meio de linhas de crédito criadas para financiar
projetos sustentáveis, ou por meio da emissão de títulos verdes e sustentáveis.
Os recursos obtidos junto às
instituições financeiras internacionais, como, por exemplo, bancos
multilaterais, são de linhas temáticas. Portanto, o uso tem que ser
obrigatoriamente aplicado no tema do desenvolvimento sustentável e não pode ser
destinado para outra finalidade.
No entanto, temos um desafio
colossal pela frente. Até 2030 será preciso investir entre US$ 3 trilhões a 4,5
trilhões por ano se quisermos alcançar as metas previstas na Agenda 2030. O
Brasil está equipado com um sistema nacional de fomento robusto e conta com
instituições financeiras espalhadas em todas as regiões do país e com grande
capacidade de financiamento sustentável, entre elas BNDES, Finep, Banco do
Brasil, Sebrae e Desenvolve SP, dentre outras.
Nenhum país do mundo possui
instituições financeiras de desenvolvimento com tamanho alcance e capilaridade.
Esse cenário faz com que o país tenha potencial para liderar o movimento em
direção à agenda sustentável e possa assumir o protagonismo na transformação do
modelo econômico vigente.
A Conferência das Nações
Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2022 (COP27) será realizada em novembro, em
Sharm El-Sheikh, no Egito, e o Brasil terá participação ativa nas discussões.
Participei da COP26 realizada no ano passado, em Glasgow, que tornou possível a
criação de um regime de comércio estruturado entre países, regulamentando a
compra de “autorizações” de emissão de carbono para ajudar a alcançar as metas
climáticas.
A expectativa para este ano
é fazer as correções de rota, avaliar o que mudou desse então e traçar novas
metas para reduzir as emissões de carbono e frear a elevação da temperatura
global.
O Painel Internacional de
Mudanças Climáticas (IPCC), divulgado em fevereiro deste ano, trouxe dados que
atestam os efeitos das mudanças climáticas no planeta. Segundo a The Nature
Conservancy (TNC), o documento mostra situações semelhantes ao relatório
anterior, mas traz mais informações que descrevem os efeitos das mudanças
climáticas com mais exatidão.
Apesar dos visíveis avanços
obtidos na COP26, os resultados do relatório deixam claro que os esforços
globais para mitigar as mudanças climáticas continuam longe do necessário. Em
2020, a temperatura do planeta ficou 1,2°C acima da era pré-industrial (1880).
A Organização Meteorológica Mundial (OMM) prevê 20% de probabilidade de que o
aumento da temperatura exceda os 1,5°C já a partir de 2024. Parece pouco, mas
essa elevação traz reflexos severos aos recursos naturais disponíveis em todas
as regiões do planeta.
Neste quadro preocupante que
se desenha, precisaríamos parar de crescer até 2025 para evitar uma trajetória
climática de características catastróficas. Cidades costeiras poderão ser
invadidas pela água e perder sua orla e os principais portos do mundo correm o
risco de serem destruídos.
Precisamos adotar ações mais
extremas para caminhar em direção a uma sociedade mais verde e sustentável, com
menos emissão de carbono e uso consciente dos recursos naturais. As principais
economias do mundo precisam se comprometer a atingir esse objetivo.
Dentre os instrumentos para
essa transformação estão a ampliação de linhas de crédito exclusivas e com
condições diferenciadas para o financiamento a projetos sustentáveis em áreas
como eficiência energética, energia renovável, uso do solo, água e saneamento
básico.
Em São Paulo, temos
experiências bem-sucedidas nessa direção. Os desembolsos para a Linha ESG do
Desenvolve SP triplicaram desde o início da pandemia. Em especial para projetos
de eficiência energética e energia renovável, como a implantação de usinas
fotovoltaicas para a geração de energia solar.
Métricas de
sustentabilidade: Empresas listadas na B3 já fazem inventário de efeito estufa,
mas ainda precisam avançar no tema, diz pesquisa
Ao contrário dos
combustíveis fósseis, que são um dos fatores que mais contribuem para danos na
camada de ozônio, em uma usina solar a emissão de gases como o CO² é
relativamente baixa na atmosfera. Recentemente financiamos a construção de uma
usina em São José do Rio Preto, com capacidade de gerar 1 megawatt (mw) de
energia, suficiente para suprir o consumo mensal de 1,5 mil residências.
Outro instrumento que pode
ser utilizado para ampliar o financiamento verde é a emissão de green bonds,
papéis de dívida emitidos especificamente para financiar projetos com
benefícios ambientais. Os recursos captados através de títulos verdes são
carimbados. Isto é, só podem ser destinados para o projeto específico que foi
declarado pela empresa ou governo no momento da emissão.
Não há mais tempo a perder.
Os exemplos estão aí para serem seguidos e ampliados. Os bancos de
desenvolvimento podem ser o alicerce para essa transformação, financiando
projetos que contribuam para um planeta mais limpo, verde e sustentável,
contribuindo para o futuro às próximas gerações.
Jornal O Globo, Sergio
Gusmão Suchodolski*
*Sobre o autor- Sergio
Gusmão Suchodolski é presidente do Desenvolve SP. Foi diretor do Banco dos Brics
na China, é ex-presidente do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) e
da Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE).
Este artigo reflete as
opiniões do autor, e não do jornal O Globo. O jornal não se responsabiliza e
nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de
qualquer natureza em decorrência do uso dessas informações.
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