Mais de 1.100 peças de bronze do antigo reino africano de Benim retornarão à África. Planejadas ações de restituição também para outras ex-colônias. Até 1ª Guerra, Alemanha foi 3ª maior potência colonialista.
A Alemanha chegou a um
acordo com o governo da Nigériapara a devolução de cerca de 1.130 esculturas e
placas de metal. Os assim chamados "Bronzes de Benim" decoravam o
palácio do reino homônimo, no que é hoje o sudoeste nigeriano, e foram pilhados
durante a época colonial.
A maior parte das elaboradas
peças de bronze que se encontram na Alemanha foi levada pelas tropas britânicas
ao conquistarem, saquearem e incendiarem a cidade de Benim em 1897. Eles serão
restituídos depois de as ministras do Exterior, Annalena Baerbock, e de
Cultura, Claudia Roth, assinarem um memorando de entendimento com seus
homólogos nigerianos, na sexta-feira (30/06).
"A devolução dos
Bronzes de Benim sedimenta nosso comprometimento em encarar nossa história
colonialista", declarou Roth em comunicado. "Ela deve ser o começo de
uma nova cooperação cultural, diferente."
Duas das peças de valor
incalculável serão entregues diretamente à Nigéria após a assinatura do memorando.
Em fevereiro, a França também restituiu ao país africano 26 bronzes pilhados do
antigo reino de Daomé, no sul do atual Benim, por forças coloniais francesas,
em 1892.
Novo capítulo no
processamento do colonialismo
Por muitas décadas, os
museus e líderes políticos da Alemanha – que até a Primeira Guerra Mundial foi
a terceira maior potência colonialista, depois do Reino Unido e da França –
vinham evitando negociações para acordos concretos de transferência ou mesmo
restituição dos bronzes.
Em 2021, porém,
representantes dos governos alemão e nigeriano anunciaram a decisão de
transferir a propriedade dos artefatos. Eles estão espalhados em cerca de 20
museus alemães. Até agora, cinco instituições que possuem as coleções mais
extensas estão envolvidas na transferência de propriedade.
Uma delas é o Museu Linden,
de Stuttgart. "Estou muito confiante de que agora obteremos restituições
abrangentes, em especial do Museu Linden", declarou na terça-feira
Theresia Bauer, secretária de Arte, Ciência e Educação do estado de
Baden-Württemberg.
Assim que a carta de
intenção para a transferência de propriedade estiver assinada, poderá começar a
organização do traslado para os museus na África. "Vamos nos encontrar com
os diversos museus e discutir os aspectos técnicos do retorno físico desses
objetos, assim como outros aspectos da cooperação", explicou à DW Abba Isa
Tijani, diretor da Autoridade dos Museus e Monumentos nigerianos.
Deusa-mãe Ngonnso deve
voltar aos Camarões
No contexto do engajamento
crescente para devolver artefatos saqueados na era colonial, na segunda-feira a
Fundação do Patrimônio Cultural Prussiano anunciou que uma estátua feminina
conhecida como Ngonnso será restituída ao reino de Nso, no noroeste dos Camarões.
Ela foi levada embora pelo
oficial colonial Kurt von Pavel, que a doou ao Museu Etnológico de Berlim em
1903. Há anos a iniciativa da sociedade civil Bring Back Ngonnso realizava uma
campanha para que a figura voltasse a seu lugar de origem, pois o povo Nso
afirma vir sofrendo infortúnio desde que ela foi roubada.
"A Ngonnso tem um papel
central para os Nso, pois é considerada uma divindade-mãe", informou a
fundação alemã em comunicado, acrescentando que a estátua não foi removida por
pilhagem de Kumbo, capital de Nso, mas Pavel teria intimidado o povo local com
soldados armados.
À agência de notícias
Reuters, Mbinglo Gilles Yumo Nyuydzewira, príncipe do reino Nso, louvou a
decisão de restituição: "Depois de mais de 120 anos, só podemos estar felizes,
pois este é o momento de comemorar e de estar mais próximos de nossos laços
ancestrais, com amor e afeição."
A Fundação do Patrimônio
Prussiano também anunciou a devolução à Namíbia de 23 peças e planeja um acordo
de repatriação com a Tanzânia. Segundo o presidente da instituição, Hermann
Parzinger, objetos que não foram necessariamente pilhados também devem ser
restituídos: "O significado especial – sobretudo espiritual – de um objeto
para a sociedade de origem também pode justificar uma devolução."
av (Reuters,DPA), DW
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