quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

Voluntários criam espaço e aplicativo para manter jovens estudando na pandemia em SP

 


Grupo criou um aplicativo de reforço e cursos livres gratuitos de fotografia, programação, literatura entre outros.

 

Um grupo de voluntários no Jardim João 23, na Zona Oeste de São Paulo, criou um espaço de inclusão e educação para incentivar a continuidade dos estudos de crianças e adolescentes e ampliar o aprendizado por meio de cursos livres durante a pandemia.

O projeto, chamado de New School, começou a ser pensado por João Paulo Malara, de 29 anos, em 2014, após a morte do irmão mais novo, Gabriel.

"Sou de uma família de 7 irmãos, fui criado pela minha mãe que me deu amor e carinho para não desistir. Meu irmão, infelizmente, acabou se envolvendo com o mundo do crime para mudar de vida e foi morto por um policial no dia do aniversário de 19 anos", conta João. "Naquele momento decidi que tinha que fazer alguma coisa para mudar o futuro dos jovens que poderiam acabar da mesma forma que ele, isso pela educação."

João Paulo lembra que começou a buscar ter contato com os jovens da comunidade para entender o que eles sentiam falta de aprender. "Consegui enxergar que o que faltava para eles é uma referência, alguém para se inspirar, que mostrasse que o que mudaria os seus destinos seria a educação", diz.

Mas tirar o projeto do papel não foi fácil. Para juntar dinheiro mais rápido e investir no aplicativo e no espaço, João largou uma vida estável no Brasil, saiu do emprego, e foi trabalhar de garçom por um ano em Nova York, nos Estados Unidos. Ele conseguiu juntar cerca de R$ 70 mil.

Com medo de acontecer alguma coisa com o dinheiro, ele transferiu o valor total para um amigo no Brasil que investiu todo o valor em criptomoedas. No entanto, a empreitada deu errado e João acabou perdendo todo o dinheiro.

"Fui sem nada e voltei sem nada. Para não desistir do New School vendi todas as minhas coisas, tudo que tinha comprado lá e tudo que estava aqui. Voltei a morar com a minha mãe e consegui juntar um dinheiro que deu para investir na primeira versão do aplicativo e na nossa sede", explica.

O projeto New School, - tanto o aplicativo, quanto o espaço físico - tem como objetivo ser um espaço de educação continuada.

"Criamos um movimento educacional para ensinar na prática e de acordo com a nossa realidade por meio de um aplicativo. E agora a gente dá educação da graça, na nossa linguagem e da forma que interessa ao jovem", afirma Malara.

Como funciona o projeto?

Fora as atividades que podem ser realizadas no espaço físico - apelidado de espaço resenha - como peças de teatro, saraus, prática de esportes e entre outras, o aplicativo oferece 10 modalidades de cursos que vão desde programação até fotografia, literatura e matemática.

O grupo de voluntariado é formado por jovens da periferia, apelidado de P&D Quebrada, um grupo que levantam dados e conteúdos de maior interesse da comunidade. Após debater, pesquisar e checar os conteúdos, o grupo faz um planejamento de aula que é acompanhada, orientada e respondida por um especialista.

"Temos o objetivo de expandir conteúdos que não são falados na escola, de acordo com a nossa realidade. Em biologia, por exemplo, contamos quais os efeitos no organismo quando você tem contato com alguma droga que é muito usada nos bailes funks", conta João Paulo.

Todas as aulas são gravadas no Jardim João 23. "Para os voluntários o projeto funciona super bem. A galera que trabalha com a gente está desempregada, então essa rotina ajuda a manter a cabeça boa, dá inspiração para continuar insistindo nos seus sonhos. Quem faz esse trabalho realmente se sente bem consigo mesmo no fim do dia. Além de ser uma válvula de escape dos problemas do dia-a-dia", aponta João Paulo.

O projeto é mantido com doações. Para o desenvolvimento da versão mais aprimorada do aplicativo, o grupo abriu uma vaquinha online.

Mudança de planos com a pandemia

João conta que estava planejando um lançamento nacional do aplicativo em abril de 2020. No entanto, com a pandemia, teve que mudar os planos.

"Tivemos que mudar totalmente o nosso foco. Ninguém consegue pensar em educação quando as pessoas estão passando fome", pondera. Os voluntários se reuniram e passaram a entregar cestas básicas na comunidade. Segundo João Paulo, foram mais de 20 mil quilos de cestas entregues na região.

Alunos atendidos

Atualmente, o aplicativo conta com cerca de 300 alunos inscritos na plataforma. O projeto irá lançar a versão nacional do app, mais elaborada e com mais funcionalidades em janeiro de 2021. Com isso, eles pretendem alcançar mais pessoas de outras periferias do Brasil.

O espaço físico fica aberto de segunda a sexta com atividades. A organização e limpeza do local ficam por conta da própria comunidade. "As mães das crianças que visitam a gente ajudam a cuidar, isso porque os filhos delas passam boa parte do dia aqui com a gente, então é uma forma de retribuir."

Por Deslange Paiva, no G1


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