quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

Combate contra a pandemia esbarra em plano de vacinação

 


A pandemia do novo coronavírus apresentou desafios não vistos há muitos anos em todas as partes do mundo. No Brasil, o enfrentamento da brutal covid-19 está sendo ainda mais difícil em consequência da negligência e ineficiência do governo. Em um momento em que vários países já delinearam como vão vacinar sua população assim que os primeiros imunizantes eficazes sejam aprovados, o governo brasileiro faz mistério. O Ministério da Saúde informou que só vai apresentar um plano quando uma ou mais vacinas forem registradas na Anvisa.

Reportagem do Financial Times publicada pelo Valor (25/11) descreve as enormes instalações frigoríficas que estão surgindo nos EUA, com equipamentos de baixíssima temperatura enfileirados, projetados para receber a vacina contra a covid-19. A escala de prioridades para aplicação do imunizante já foi estabelecida. Centenas de empresas, de transportadoras a fornecedores de refrigeradores e produtos médicos, disputam contratos locais e federais para entregar as doses, fornecer agulhas, seringas, frascos de vidro e equipamentos de proteção para as pessoas que aplicarão as vacinas. Tudo isso ocorre apesar de o país viver uma das transições presidenciais mais tumultuadas já vistas.

O governo britânico afirmou que a distribuição da vacina deve começar horas após a liberação da primeira vacina a ser aprovada pela agência regulatória. Os médicos foram recomendados a ficar de prontidão caso isso ocorra antes do Natal.

No Brasil, o Tribunal de Contas da União (TCU) havia, em agosto, dado prazo ao governo para apresentar o plano de imunização até a terceira semana de novembro. Mas isso não aconteceu, e o Planalto recorreu da decisão por meio da advocacia-Geral da União (AGU).

Embora o Brasil participe dos testes de pelo menos cinco vacinas, pouco se sabe sobre distribuição para Estados e municípios, quantidade de agulhas, seringas, necessidade de implantação de instalações e equipamentos de armazenagem e escala de prioridades entre as várias faixas da população.

O Ministério da Saúde tem apenas um rascunho; e antecipou que não há vacina para toda a população. Anteriormente havia falado em um primeiro momento imunizar o grupo de risco formado por profissionais da saúde, idosos e pessoas com comorbidades. Mas os governadores estão ansiosos para conhecerem os detalhes da logística do plano — que seria o ponto forte do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello —, como as regras de distribuição e de armazenagem do imunizante, além da disponibilidade de equipamentos e o treinamento das equipes de aplicação.

Fabricantes de equipamentos médicos ouvidos pelo Valor informam que não receberam nenhuma encomenda ou sinalização por parte de governos ou do SUS, o que pode trazer dificuldades em caso de aumento repentino na demanda. A imunização contra o coronavírus terá que ser feita em paralelo com as campanhas usuais de vacinação, que distribuem cerca de 300 milhões de doses todos os anos.

Não é esse o único ponto falho do governo.

Há o caso inexplicável dos quase 7 milhões de testes de covid-19 “esquecidos” em um galpão no aeroporto de Guarulhos (SP) e já perto do vencimento. O estoque, que poderá ser inutilizado, é maior que os 5 milhões de exames PCR aplicados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) durante toda a pandemia. Há informações de que outros lotes enfrentam o mesmo problema elevando a 15 milhões o número de testes comprometidos. A saída improvisada foi pedir uma ampliação do prazo de validade, que foi rejeitada pela Anvisa em outras ocasiões.

Na contramão do recomendável em um momento do recrudescimento do número de casos e provável segunda onda da pandemia, o Ministério da Saúde acaba de cortar o financiamento de 3.265 Centros de Atendimento para Enfrentamento à covid-19, instituídos em maio a pedido das secretarias municipais de Saúde para ampliar o acesso ao atendimento precoce das pessoas com sintomas. Outros 130 Centros Comunitários de Referência para Enfrentamento da covid-19 também serão afetados. Sem verbas federais, boa parte dessas unidades de saúde corre o risco de fechar, já que dificilmente os municípios terão dinheiro para mantê-los.

Tudo indica que o Ministério da Saúde receia desgostar o presidente Jair Bolsonaro, que minimiza a importância da covid-19, discute a eficiência das vacinas e já chamou de “maricas” quem adota medidas de isolamento.

Valor Econômico  


- - - -




No mecanismo de busca do site amazon.com.br, digite "Coleção As mais belas lendas dos índios da Amazônia” e acesse os 24 livros da coleção. Ou clique aqui

O autor:

No mecanismo de busca do site amazon.com.br, digite "Antônio Carlos dos Santos" e acesse dezenas de obras do autor. Ou clique aqui


Clique aqui para acessar os livros em inglês