Relatório conclui que ministério está despreparado para atuar contra a covid-19. E que representantes da pasta não entendem que uma das funções que têm é a de articular com governos estaduais e municipais ações contra a infecção
Depois de quase 10 meses da confirmação do primeiro
caso de covid-19 no Brasil, o Tribunal
de Contas da União (TCU)
apontou que há "a inexistência de um planejamento do Ministério da Saúde minimamente detalhado para
o combate à pandemia". A conclusão é do mais recente relatório produzido
pela Secretaria de Controle
Externo da Saúde (SecexSaúde),
que acompanha as ações da pasta contra a covid-19. O órgão fiscalizador também
ressaltou que a crise sanitária ainda está longe do término e que os
representantes da pasta não entendem que têm como função a articulação, com
governos estaduais e municipais, de um plano nacional de combate à doença.
"Este quarto ciclo de acompanhamento das ações do
Ministério da Saúde não
apresenta constatações diferentes dos relatórios anteriores, no tocante à
deficiência do planejamento das ações da pasta referentes ao tema",
indicou o quarto relatório, apresentado em 8 de dezembro. O TCU emitiu levantamentos em maio,
julho e outubro e, de acordo com a Corte de contas, as conclusões do mais
recente documento não são diferentes das apresentadas nos anteriores.
Para a SecexSaúde, diante da atual situação da pandemia do Brasil, o momento
para elaboração de um planejamento passou, mas não se pode descartar uma
estratégia, pois o país observa o recrudescimento de casos e mortes pela
covid-19. "O planejamento das ações do MS (Ministério da Saúde) para combater a pandemia mantém
sua relevância neste momento em que se constata um aumento no número de casos e
óbitos causados pela covid-19", indica o relatório.
O texto destaca, ainda, que "a pandemia ainda
está longe de seu término" -- desmentindo o que afirmou o presidente Jair
Bolsonaro em um discurso, em 10 de dezembro, em Porto Alegre, quando disse que
o Brasil estava vivendo "um finalzinho de pandemia" e repetiu num
vídeo divulgado sábado pelo filho 03, o deputado Eduardo. A SecexSaúde entende
que planos de contingência e planos tático-operacionais não asseguram a
efetividade da ação governamental no combate à pandemia, mas a secretaria
reforça que são importantes para evitar desperdício de recursos e esforços
desnecessários.
Descompasso
Um dos exemplos da desorganização citado pelo TCU é a aquisição de seringas e agulhas para a vacinação
contra a covid-19, prevista para ocorrer em 2021. No relatório, os técnicos
manifestam preocupação "com o eventual descompasso entre o cronograma de
fornecimento das vacinas e o de entrega das seringas e agulhas", e afirmam
que "a situação demanda o estrito monitoramento por parte do MS".
"É necessário que o MS observe as expectativas de
fornecimento das vacinas decorrentes do contrato firmado pela Fiocruz com o
laboratório AstraZeneca e da adesão ao instrumento Covax Facility para que não
haja um descompasso entre o cronograma de fornecimento das vacinas e o
cronograma de entrega das seringas e agulhas", salienta o relatório, indicando
que pode haver medicamento à disposição, mas faltará o equipamento necessário
para aplicá-lo na população.
Os técnicos do TCU constataram
que está em andamento um pregão eletrônico
de registro de preços visando à aquisição de cerca de 300 milhões desses
insumos para a vacinação. A iniciativa do ministério deverá ocorrer em 29 de
dezembro, enquanto que, como aponta o relatório, oito estados iniciaram
processos para adquirir insumos para a vacinação.
Em resposta às conclusões do TCU, o ministério informou ao Correio
que "mantém a vigilância contínua da circulação do vírus em todo o
território nacional e presta constante apoio aos estados e municípios no
enfrentamento à covid-19, com repasses de
recursos financeiros e atendimento às demandas desses entes".
Além disso, a pasta indicou que trabalha em diversas
frentes, com divulgações nas redes sociais e entrevistas coletivas realizadas
semanalmente, para informar a população sobre as orientações relacionadas à
prevenção, controle, tratamento precoce e redução da transmissão da covid-19.
SP
comprará 100 milhões de seringas
Com a expectativa de iniciar a vacinação em 25 de janeiro, o governo de São
Paulo anunciou, ontem, a compra de 100 milhões de seringas e agulhas para a
campanha de imunização contra a covid-19. O estado iniciou o processo de
obtenção na última semana para evitar o desabastecimento dos insumos
necessários para a vacinação. Dividida em 27 pregões, a compra dos insumos
começou na última sexta-feira e vai até amanhã.
Cada pregão prevê
a aquisição de 2 milhões de unidades de seringas de 1 e de 3 ml, e de três
tipos de agulhas. As primeiras licitações abertas
garantiram a aquisição de dois milhões desses materiais.
Este ano, em São Paulo, 77 milhões de seringas e agulhas foram utilizadas nas
campanhas de imunização contra múltiplas doenças. Segundo Doria, os insumos
serão distribuídos nos 645 municípios do estado e não há risco de
desabastecimento.
O secretário de Saúde de São Paulo, Jean Gorinchteyn, lembrou que para a
primeira fase da vacinação da covid-19 já estão garantidas 21 milhões de
seringas e agulhas.
Quarentena
Doria, aliás, poderá definir novas ações de contenção da doença, enrijecendo as
medidas restritivas de funcionamento de estabelecimentos comercias numa reunião
que tem, hoje, com o Centro de Contingência. Isso porque, nas últimas quatro
semanas, o estado registrou aumento de 54% no número de casos positivos do novo
coronavírus. Além disso, o número de mortes pela doença aumentou 34% em todo o
estado.
Os índices de São Paulo se agravaram de forma que se
encaixam na fase laranja, a segunda mais restritiva -- a primeira é a vermelha.
Todo o estado está na faixa amarela, a intermediária das cinco. Dados das
companhias de telefonia móvel mostraram que o isolamento no estado, no último
sábado, foi de 40%, considerado insuficiente. Para o governo estadual, o
percentual confortável para evitar a propagação do novo coronavírus é acima de
50%. (MEC)
Por Maria
Eduarda Cardim, no Correio Braziliense
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