Crimes ocorridos em Santa Catarina e Pará são adaptação, muito mais agressiva, de modelo iniciado há cerca de 20 anos em cidades pequenas. Investigação é chave para coibir novos ataques do tipo, diz analista criminal.
As cidades de Criciúma, em
Santa Catarina, e Cametá, no Pará, passaram por horas de terror nesta semana,
durante ações de quadrilhas fortemente armadas que assaltaram agências do Banco
do Brasil e conseguiram fugir. A ação na cidade catarinense ocorreu na
madrugada de terça-feira (1º/12) e a do município paraense, na madrugada de
quarta-feira.
Em ambos os casos, os
grupos criminosos usaram reféns como escudo humano, atacaram batalhões da
Polícia Militar e usaram explosivos e armas de alto calibre. Os bandidos
tiveram sucesso para roubar o dinheiro apenas em Criciúma, onde um policial
militar ficou gravemente ferido. Em Cametá, segundo o governo do Pará, a ação
explodiu o cofre errado da agência bancária, nada foi levado, e um refém foi
morto.
O analista criminal Guaracy
Mingardi, membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, afirma à DW Brasil
que essas ações trazem as digitais de organizações criminosas e representam uma
evolução de um tipo de crime que começou há cerca de 20 anos, que ficou
conhecido como "novo cangaço".
Enquanto a modalidade de
ataque "novo cangaço" costumava mirar municípios pequenos – os
criminosos tomam o controle da cidade, prendem os poucos policiais do local,
roubam o banco e saem sem grande preocupação –, os assaltos a Criciúma e Cametá
se enquadram na categoria de mega-ações em cidades médias ou grandes. Estas
demandam maior tempo de preparação, estratégias refinadas para o enfrentamento
da polícia e fuga e "muito mais agressividade", aponta Mingardi.
Crimes desse porte
começaram há cerca de cinco anos, com quadrilhas fortemente armadas atacando
empresas de transporte de valores em Campinas e em Santos. Essas companhias
passaram então a adotar novas estratégias de armazenamento do dinheiro,
reduzindo a atratividade para os bandidos, que migraram para os bancos, diz
Mingardi.
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Para prevenir novos ataques
do tipo, ele afirma que o melhor caminho é as polícias realizarem investigações
aprofundadas para localizar os autores e puni-los, com o objetivo de mostrar
que esse crime "não dá resultado" e desencorajar outros bandidos a
cometê-lo no futuro.
DW Brasil: Os ataques a
bancos em Criciúma e Cametá ocorreram em um intervalo menor de 24 horas. Foi
coincidência?
Guaracy Mingardi: Não dá
para dizer que foram organizados simultaneamente, porque não teria sentido.
Para que você iria fazer em dois locais tão distantes, ao mesmo tempo?
Possivelmente foram grupos diferentes, talvez vindos da mesma organização. A
não ser que tivesse um objetivo político por trás. Mas não estou vendo esse
objetivo e, até agora, ninguém viu.
Como esses grupos têm
acesso às armas usadas? Em Criciúma, os criminosos tinham até uma metralhadora
.50, de uso exclusivo das Forças Armadas.
Uma metralhadora .50 é
difícil. Normalmente vem por contrabando, assim como os fuzis. Mas há outra
fonte, muitas vezes nos deparamos com armas que eram das Forças Armadas e foram
subtraídas de lá. Quanto à munição, a maior parte é local, porque você não encontra
tanta munição de contrabando. Você acaba mandando fazer aqui, ou arrumando dos
depósitos oficiais, que volta e meia ficam vazando.
Quanto tempo leva a
preparação de um crime desse tipo?
Semanas, pelo menos. Você
tem que identificar o local, o que é necessário em termos de veículos, armas e,
principalmente, pessoal habilitado. Não é qualquer um que sabe utilizar
metralhadora .50 ou fuzil. E também tem os especialistas, que trabalham com os
explosivos, que abrem o caminho para dentro do local e às vezes explodem o
cofre. Precisam dos motoristas de fuga, dos planejadores. Precisam de tempo
para juntar esse pessoal, para furtar os veículos e deixar armazenados com
placas diferentes, até que possam ir ao local. E tem que ter uma rota de fuga
bem estabelecida, precisa medir o tempo, ver quanto a polícia demora para
chegar lá.
Criciúma tem 210 mil
habitantes, e Cametá, 134 mil. Criminosos que realizam essas ações têm
preferência por cidades médias?
Quando começaram os crimes
desse tipo, há cerca de cinco anos, eles eram em cidades grandes, como Campinas
e Santos, que têm mais de um milhão de habitantes, se considerar a área urbana
de Santos. Em uma área assim, é mais difícil de fugir. Em uma cidade média,
fica um pouco mais fácil, mas o dinheiro normalmente é menor.
Inicialmente, esses crimes
ocorriam em transportadoras de valores, era muito dinheiro. Mas agora as
transportadoras aprenderam a não deixar tanto dinheiro em cada lugar. Então
eles apelaram para os bancos.
São três itens [no
cálculo]. Primeiro, quanto de dinheiro eles pretendem pegar. E é importante
saber quando têm que ir, pois podem num dia pode não ter quase nada e no outro
estar cheio de dinheiro. É possível que tenha informação de alguma fonte.
Depois, a facilidade de
fuga. Vamos pensar na diferença entre os dois locais. Em Santa Catarina, eles
fugiram por terra, porque a região Sul e Sudeste é muito mais controlada em
termos aéreos. Já no Pará, a fuga foi de barco, porque lá não tem tantas
estradas possíveis para usar e fica mais fácil a polícia bloquear. Eles têm que
se adaptar ao tamanho da cidade e às rotas de fuga. E tem a questão da polícia,
que nesses locais é menor do que numa cidade grande.
Em uma cidade pequena,
seria muito diferente. Eles entram, tomam o banco, colocam os três, quatro
policiais na cadeia e vão embora. Em cidades médias grandes tem que ser muito
bem pensado.
A polícia de Santa Catarina
suspeita que tenha havido participação de criminosos de outro estado. Esse tipo
de ação costuma ser interestadual?
Para cometer um crime desse
tipo, você precisa de apoio de uma organização criminosa, que tenha esse tipo
de armamento e consiga juntar esses especialistas. É muito provável que venham
de outro estado. O sul de Santa Catarina é a região do PGC, o Primeiro Grupo
Catarinense. O PCC [Primeiro Comando da Capital] está mais ao norte do estado.
Agora, eu duvido que tenha sido o PGC, eles não teriam essa estrutura, a menos
que tenham melhorado muito. Então existe grande probabilidade de que tenha
gente de fora do estado. Não que todos sejam de fora, mas que boa parte seja.
Em Criciúma, a polícia
optou por não enfrentar os bandidos enquanto eles estavam no centro da cidade,
para preservar os moradores da área. É a decisão correta em um caso desses?
Você não pode criar uma
guerra numa área urbana. Nisso eles estão certos. E, mesmo que tentassem, não
iriam conseguir, e iria morrer gente, talvez algum criminoso, mas policiais e
civis também. Não é simples se meter num tiroteio dessas proporções na área
urbana. O que eles tinham que ter feito é tentado impossibilitar a fuga, mas
como estava tudo muito bem planejado, nem isso conseguiram.
Na nota divulgada pelo
Banco do Brasil sobre o crime em Criciúma, eles mencionam se tratar de uma ação
do tipo "novo cangaço". O que é isso?
Novo cangaço é algo que
começou há 15, 20 anos. É quando você vai a uma cidade pequena, mas que tenha
um banco muito movimentado – porque, por exemplo, tenha algo relacionado à
Petrobras –, cerca a cidade, toma tudo, prende a polícia, rouba e vai embora, porque
você não precisa se preocupar muito com a região, porque vai demorar muito para
a polícia chegar. Vi um caso em que o reforço policial mais próximo estava a
200 quilômetros, nunca ia chegar a tempo.
Agora, em regiões bem
povoadas, a situação é outra. Você precisa de outro tipo de planejamento e
precisa atacar a polícia. Precisa fazer com que a polícia fique se protegendo.
Não é simplesmente chegar e prender três policiais, e o crime tem que ser muito
mais rápido.
Essas ações são parecidas
com o novo cangaço por terem todo esse poderio e cercado um local, mas eles não
tomaram a cidade de Criciúma. Isso não aconteceu. No novo cangaço, eles tomam a
cidade e ninguém pode sair na rua, tem casos que eles derrubaram as torres de
celular para impedir a comunicação. Eles adaptaram o modelo do novo cangaço
para isso, mas, mais do que adaptar, eles criaram um novo modelo, que implica
muito mais agressividade.
E a polícia já sabe como
coibir esse tipo de crime?
Não dá para evitar, você
nunca terá policial suficiente para enfrentar em qualquer lugar que você chegue
com quarenta criminosos muito bem armados. Até reunir policial suficiente para
isso, demora. A não ser que você tenha alguma informação, que vaze algo, mas só
me lembro de um caso, creio que no Pará também, no qual a polícia já estava
antes no local, e era um caso de novo cangaço.
Outra forma é por meio da
inteligência, mas isso não é uma panaceia, não dá pra saber de coisas
escondidas com facilidade. Demanda tempo, você precisa ter informantes, verificar
se o informante tem acesso, se está dando as informações corretas, interpretar
o que está sendo dito.
A forma correta de impedir
isso é a posteriori, você tem que investigar e chegar nos autores. Tem que
mostrar que aquele tipo de crime não dá resultado, que a probabilidade de ser
preso é muito grande. Aí você vai dissuadir os próximos de fazer aquilo.
Investigação é a chave.
Por Bruno Lupion, na Deutsche Welle
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