Mais de 1 milhão de toneladas de água contaminada estão armazenadas em centenas de tanques na usina nuclear de Fukushima |
Governo japonês garante que despejo é seguro, mas decisão gera protestos de países vizinhos, pescadores e ambientalistas. Água radioativa está armazenada em tanques e passará por tratamento.
O
Japão anunciou nesta terça-feira (13/04) que a água contaminada que está
armazenada na usina nuclear de Fukushima será despejada no oceano Pacífico após
receber tratamento para a remoção da maioria dos elementos radioativos. A
medida gerou protestos de países vizinhos, pescadores e especialistas.
A
decisão, muito especulada, mas postergada por anos devido a preocupações com
segurança e protestos, foi tomada durante uma reunião dos ministros japoneses,
que endossaram o despejo no mar como a melhor opção. O primeiro despejo
ocorrerá em cerca de dois anos, tempo que a operadora da usina, a empresa Tokyo
Electric Power (Tepco), necessita para filtrar a água para remover isótopos
nocivos, construir uma infraestrutura e obter aprovações regulatórias.
O
governo japonês argumentou que o despejo da água contaminada é necessário para
prosseguir com o complexo desmantelamento da usina e afirmou que a substância
despejada no oceano será semelhante às águas contaminadas liberadas
rotineiramente de usinas nucleares em todo o mundo.
Aproximadamente
1,3 milhão de toneladas de água contaminada – ou o suficiente para encher cerca
de 500 piscinas olímpicas – estão armazenadas em enormes tanques na usina de
Fukushima a um custo anual de cerca de 900 milhões de dólares.
A
água tem sido armazenada em tanques desde 2011, quando um terremoto e um
subsequente tsunami danificaram os reatores da usina, contaminando a sua água
de resfriamento, que começou a vazar. A capacidade de armazenamento estará
esgotada no final do próximo ano.
Água tratada, não contaminada
"Liberar
a água tratada é uma tarefa inevitável para desativar a Usina Nuclear de
Fukushima Daiichi e reconstruir a área de Fukushima", disse o
primeiro-ministro do Japão, Yoshihide Suga, sobre o processo que levará décadas
para ser concluído. O premiê afirmou que o governo trabalhará para garantir
segurança da operação de despejo e que ajudará a agricultura, pescadores e o
turismo local.
O
governo japonês fez questão de enfatizar os processos de filtragem e diluição.
A assessoria de imprensa do governo enviou um e-mail a veículos de comunicação
na segunda-feira para solicitar que o termo "contaminado" não fosse
mais usado em reportagens, argumentando se tratar de um termo enganoso.
A
Tepco planeja filtrar a água contaminada para remover os isótopos, deixando
apenas o trítio, um isótopo radioativo do hidrogênio difícil de separar da
água. A empresa diluirá a água até que os níveis de trítio caiam para abaixo
dos limites regulamentares. A substância é considerada relativamente inofensiva
porque não emite energia suficiente para penetrar na pele humana. Outras usinas
nucleares mundo afora despejam rotineiramente água com baixos níveis deste
isótopo nos oceanos.
Os
Estados Unidos observaram que o Japão trabalhou em estreita colaboração com a
Agência Internacional de Energia Atômica. "Nesta situação única e
desafiadora, o Japão pesou as opções e efeitos, foi transparente sobre sua
decisão e parece ter adotado uma abordagem de acordo com os padrões de
segurança nuclear aceitos globalmente", disse o Departamento de Estado dos
EUA.
Vizinhos não foram consultados
Os
países vizinhos do Japão, no entanto, se opuseram a decisão de Tóquio. A China
e a Coreia do Sul pediram por mais consultas sobre o plano japonês de despejo.
Taiwan também expressou preocupações.
"Esta
ação é extremamente irresponsável e prejudicará seriamente a saúde pública
internacional e a segurança, bem como os interesses vitais dos cidadãos dos
países vizinhos", disse o Ministério do Exterior da China em um
comunicado.
O
governo sul-coreano convocou o embaixador do Japão num gesto de protesto contra
a medida. "A decisão nunca poderá ser aceita e não causaria perigo apenas
à segurança e ao ambiente marítimo dos países vizinhos, mas também foi tomada
unilateralmente, sem consultas suficientes com nosso país, que é o vizinho mais
próximo do Japão", disse um funcionário do alto escalão do governo
sul-coreano, após uma reunião de emergência para debater sobre o assunto.
Em
um comunicado posterior, um membro do governo japonês disse a repórteres que o
Japão havia consultado seus vizinhos.
Sindicatos
de pescadores de Fukushima têm pedido ao governo há anos que não despeje a
água, sob o argumento que tal medida teria um "impacto catastrófico"
no setor. A Tepco prometeu compensar comunidades de pescadores e outros setores
que podem sofrer danos à reputação devido ao despejo.
"Qualquer
radioatividade liberada no meio ambiente terá consequência"
Em
entrevista à DW, o especialista em temas nucleares do Greenpeace, Shaun Burnie,
afirmou que o despejo das águas da usina de Fukushima não tem como ser feito de
forma segura.
"A
alternativa clara existe há anos, e isso é o armazenamento de longo
prazo", disse Burnie. Ele acrescentou que o governo japonês havia dito
anteriormente que haveria espaço suficiente disponível fora da usina para
armazenar os resíduos.
De
acordo com Burnie, o despejo da água contaminada liberará materiais
radioativos, incluindo o trítio, que, em algumas porcentagens, pode "se
tornar organicamente ligado" às células humanas ou de peixes. Um artigo na
publicação científica Scientific American relatou em 2014 que, quando ingerido,
o trítio pode aumento os riscos de câncer.
"Outros
isótopos radioativos como o estrôncio 90, que poderia ser liberado nestes
despejos, concentram-se nos ossos de peixes e humanos, aumentando os riscos de
câncer", prosseguiu Burnie. "Qualquer radioatividade liberada no meio
ambiente terá uma consequência. Isso não significa que inevitavelmente
resultará em casos de câncer na saúde, mas aumenta a carga de radiação e isso
não é aceitável."
Da Deutsche Welle
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