O Dia Mundial do Livro, comemorado dia 23, apresenta dois quadros no Brasil: um muito positivo e outro preocupante, segundo o presidente do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel), Marcos da Veiga Pereira. A data foi escolhida pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) para celebrar o livro, incentivar a leitura, homenagear autores e refletir sobre direitos legais.
“O quadro muito positivo é que o brasileiro está lendo mais. Desde julho
do ano passado, as vendas têm crescido e continuaram crescendo este ano, o que,
para mim, evidencia uma reconexão com o livro e com a leitura. É como se as
pessoas descobrissem o prazer de ler, porque estão mais em casa, porque têm
mais tempo. E ao redescobrir o prazer de ler, elas redescobrem o hábito da
leitura; colocam o livro no seu hábito diário. Isso faz com que as pessoas
leiam mais. Estão consumindo mais livros. Isso é super positivo”, disse Marcos
da Veiga à Agência Brasil.
Preocupação
Os números revelados pelas pesquisas promovidas pelo Snel mostram todo o
varejo online se movimentando para criar promoções e eventos com o objetivo de
chamar as pessoas ainda mais para o livro. Em contrapartida, o lado preocupante
é o das livrarias físicas, disse Marcos da Veiga. “Nos cerca de 14 meses da
pandemia do novo coronavírus (covid-19), as livrarias físicas passaram, pelo
menos, metade desse tempo ou fechadas ou com muitas restrições, o que gera
forte impacto econômico-financeiro”, disse.
De acordo com o presidente do Snel, o funcionamento precário das lojas
físicas tem efeito também no próprio hábito do leitor, uma vez que impede as
livrarias de chamar o público de volta para ter o prazer do convívio, de
manusear os livros, de encontrar autores nos lançamentos de obras, de conversar
com outras pessoas e com os livreiros. “Essa é a parte difícil da pandemia, que
continua”, disse o presidente do Snel.
A pesquisa mensal do varejo realizada para o sindicato mostra a
consistência das vendas do setor. No primeiro trimestre deste ano, em
comparação a igual período do ano passado, houve expansão de 25% em exemplares
vendidos, com cerca de 12 milhões de livros, contra 9,6 milhões no acumulado de
janeiro a março de 2020. Em valor, o aumento foi menor, e alcançou cerca de
15,5%. No primeiro trimestre de 2021, a receita com a venda de livros somou R$
544 milhões, contra R$ 471,5 milhões no mesmo período de 2020.
Segundo Marcos da Veiga, isso pode ser explicado porque se vendeu mais
obras gerais e menos livros escolares, que são mais caros. Além disso, segundo
ele, houve concentração no varejo online, que tem uma prática de descontos para
o consumidor muito agressiva.
Pré-adolescentes
Embora o brasileiro esteja lendo mais em razão da pandemia, a pesquisa
"Retratos da leitura no Brasil”, divulgada em setembro do ano passado pelo
Instituto Pró-Livro e relativa ao ano anterior, revela que pouco mais da metade
dos brasileiros têm hábito de leitura (52%). Por idade, a pesquisa mostrou que
a única faixa etária que ampliou o total de leitores foi a de crianças entre 5
e 10 anos de idade, que passou de 67%, em 2015, para 71%, em 2019.
Todas as demais faixas leram menos em relação à pesquisa anterior. Apesar
da queda, a faixa etária que mais lê no Brasil é a dos pré-adolescentes de 11 a
13 anos de idade (81%, em 2019, contra 84%, em 2015). Em termos de
escolaridade, os leitores com curso superior permanecem como os que lêem mais,
mesmo com redução entre as edições da pesquisa (68%, em 2019, contra 82%, em
2015).
O presidente do Snel, Marcos da Veiga, confirmou que está ocorrendo um
ressurgimento forte de livros juvenis, para faixa pré-adolescente de 11 a 13
anos de idade.
Marcos da Veiga disse que a crise contribuiu para a redescoberta da
leitura. Para ele, a palavra, a partir de agora, não pode ser mais oportunidade
mas, sim, responsabilidade. “Nós, enquanto indústria, precisamos manter o livro
presente na vida das pessoas, precisamos entrar nas casas das pessoas através
das mídias sociais das livrarias, das editoras, que são muito fortes. Isso nos
permite estar convidando o leitor a conhecer mais livros, fazendo promoções”.
O presidente do Snel disse que quando as pessoas puderem circular mais
livremente, a ideia é criar mais eventos com autores, “porque é sempre uma
experiência muito bacana ter seu livro autografado e tirar foto com o escritor.
Acho que essa é nossa responsabilidade. Acho que temos que aproveitar a crise e
criar um mercado mais robusto, reconquistar um pouco o que a gente perdeu de
2015 para cá”.
Incentivo
A produtora de moda da agência de modelos Max Fama, Carolina Souza,
promoveu um editorial para incentivar a criançada a aumentar o gosto pela
leitura. Segundo Carolina, a leitura é fundamental “para atingirmos uma
sociedade mais justa, igual, desenvolvida. E tudo isso começa com os pequenos”,
disse, acrescentando que “o incentivo à leitura é uma obrigação de todos nós
para que os nossos filhos tenham mais oportunidades na vida adulta”.
A pedagoga Bruna Duarte Vitorino, por sua vez, defende que a leitura com
as crianças reforça os laços familiares e contribui para o desenvolvimento
infantil.
Para deixar o momento da leitura mais gostoso, ela dá algumas dicas para
os pais: Procure ler com frequência para a criança em casa; estimule
brincadeiras sobre o livro lido, como desenhar a cena que mais gostou ou
utilizar bonecos para reproduzir a história; utilize a história do livro para
associar à vivência da criança, durante um passeio ao parque, ou chamando a
atenção para algo que apareceu no livro, como uma flor, ou um trem, para
incentivar uma conversa sobre o assunto e explorar o conhecimento adquirido com
o exemplar; não force a leitura; escolha livros com um conteúdo pelo qual elas
se interessem, para proporcionar um momento prazeroso em família; deixe os
livros acessíveis para que a criança possa pegá-los a qualquer momento, mesmo
que ela ainda não leia; deixe-a experimentar a sensação de folhear um livro e
imaginar a história.
A pedagoga lembra que mesmo quando a criança já está conhecendo algumas
palavras, “é importante cultivar esse momento de interação com as crianças”
Bruna Vitorino disse que além do desenvolvimento motor, a criança deve ser
instigada à capacidade cognitiva, ou seja, a capacidade de interpretar os
estímulos do ambiente para tomada de decisões. “Por isso, é importante
introduzir a leitura desde os primeiros anos de vida”, recomenda.
Na Agência Brasil
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