domingo, 4 de abril de 2021

Ex-aluno de escola pública aprovado em 1º lugar nas cotas para medicina da USP conta que não gostava de estudar - até que decidiu focar

Jovem estudou um ano em casa, sozinho, e depois ganhou uma bolsa em um cursinho privado de SP — Foto: Arquivo pessoal

Filho de uma cabeleireira e de um mecânico, Wallyd Atallah também foi aprovado na Unicamp. Ele relata que, no ensino médio, sem ter um foco específico, não se sentia motivado.

 

Wallyd Atallah, de 20 anos, conquistou o 1º lugar no vestibular de medicina da Universidade de São Paulo entre as vagas disputadas por ex-alunos da rede pública.

Pensa que, na escola, ele era aquele aluno considerado “nerd”, que estudava todos os dias em casa? Que nada. Ele conta que não tinha muito interesse em aprender, não. “Eu até ia bem nas notas, fazia as tarefas e os trabalhos, mas não me dedicava, deixava tudo para a última hora”, diz.

Sua conduta mudou depois de concluir o ensino médio. Ele decidiu que seria aprovado na Fuvest para cursar medicina na USP.

 “Quando passei a ter um foco, ficou mais fácil. Antes, eu não tinha um motivo para estudar”, conta Wallyd.

A dificuldade maior seria compensar toda a defasagem deixada pela escola pública - no ensino fundamental, o jovem chegou a ficar sem professor de matemática fixo por dois anos.

Preparo para os vestibulares

Filho de uma cabeleireira e de um mecânico, ele não teria como pagar um cursinho pré-vestibular. Por isso, passou 2019 se preparando sozinho, em casa.

“Eu estudava muito e não descansava nunca. Não tirei férias, não fiz exercício físico, só estudei. Quando chegaram as provas, eu estava exausto”, diz. “Acabei tendo um resultado pior do que imaginava.”

Naquele ano, Wallyd não passou na USP, mas foi aprovado em medicina na Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR). O problema é que ele não teria como se mudar para o interior de São Paulo, onde fica a instituição.

Sua nova estratégia foi tentar uma bolsa de estudos em um cursinho pago. “Eu fiz a prova de seleção, enviei meus documentos e consegui uma vaga no Poliedro (SP). Já estava cansado de estudar sozinho”, relata Wallyd.

Ele não imaginava que, um mês depois, viria a pandemia - e as atividades presenciais seriam suspensas.

“Fiquei desanimado, porque já tinha passado um ano em casa, sem sair. Mas, no fim, teve uma vantagem: foi menos cansativo do que acordar às 4h30 para ir para o cursinho todo dia. E as aulas virtuais foram no mesmo nível das presenciais.”

No fim de 2020, veio a maratona de vestibulares, e em 2021, os resultados excelentes. Além de passar em 1º lugar na Fuvest, Wallyd também foi aprovado na Unicamp e teve um ótimo desempenho no Exame Nacional do Ensino Médio (tirou 980 na redação, quase a nota máxima).

A escolhida foi a USP. “Estou animado para o começo das aulas. Antes, fazer medicina lá era só ‘coisa de rico’. Agora, com cotas, o perfil já mudou muito. É um jeito de nivelar [os candidatos] e dar oportunidade para todo mundo", diz.

"Sou o primeiro da minha família a entrar em uma universidade pública.”

Por Luiza Tenente, G1


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