Jovem estudou um ano em casa, sozinho, e depois ganhou uma bolsa em um cursinho privado de SP — Foto: Arquivo pessoal |
Filho de uma cabeleireira e de um mecânico, Wallyd Atallah também foi aprovado na Unicamp. Ele relata que, no ensino médio, sem ter um foco específico, não se sentia motivado.
Wallyd Atallah, de 20 anos, conquistou o 1º lugar no
vestibular de medicina da Universidade de São Paulo entre as vagas disputadas
por ex-alunos da rede pública.
Pensa que, na escola, ele era aquele aluno considerado
“nerd”, que estudava todos os dias em casa? Que nada. Ele conta que não tinha
muito interesse em aprender, não. “Eu até ia bem nas notas, fazia as tarefas e
os trabalhos, mas não me dedicava, deixava tudo para a última hora”, diz.
Sua conduta mudou depois de concluir o ensino médio.
Ele decidiu que seria aprovado na Fuvest para cursar medicina na USP.
“Quando passei
a ter um foco, ficou mais fácil. Antes, eu não tinha um motivo para estudar”,
conta Wallyd.
A dificuldade maior seria compensar toda a defasagem
deixada pela escola pública - no ensino fundamental, o jovem chegou a ficar sem
professor de matemática fixo por dois anos.
Preparo para os vestibulares
Filho de uma cabeleireira e de um mecânico, ele não
teria como pagar um cursinho pré-vestibular. Por isso, passou 2019 se
preparando sozinho, em casa.
“Eu estudava muito e não descansava nunca. Não tirei
férias, não fiz exercício físico, só estudei. Quando chegaram as provas, eu
estava exausto”, diz. “Acabei tendo um resultado pior do que imaginava.”
Naquele ano, Wallyd não passou na USP, mas foi
aprovado em medicina na Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR). O problema
é que ele não teria como se mudar para o interior de São Paulo, onde fica a
instituição.
Sua nova estratégia foi tentar uma bolsa de estudos em
um cursinho pago. “Eu fiz a prova de seleção, enviei meus documentos e consegui
uma vaga no Poliedro (SP). Já estava cansado de estudar sozinho”, relata Wallyd.
Ele não imaginava que, um mês depois, viria a pandemia
- e as atividades presenciais seriam suspensas.
“Fiquei desanimado, porque já tinha passado um ano em
casa, sem sair. Mas, no fim, teve uma vantagem: foi menos cansativo do que
acordar às 4h30 para ir para o cursinho todo dia. E as aulas virtuais foram no
mesmo nível das presenciais.”
No fim de 2020, veio a maratona de vestibulares, e em
2021, os resultados excelentes. Além de passar em 1º lugar na Fuvest, Wallyd
também foi aprovado na Unicamp e teve um ótimo desempenho no Exame Nacional do
Ensino Médio (tirou 980 na redação, quase a nota máxima).
A escolhida foi a USP. “Estou animado para o começo
das aulas. Antes, fazer medicina lá era só ‘coisa de rico’. Agora, com cotas, o
perfil já mudou muito. É um jeito de nivelar [os candidatos] e dar oportunidade
para todo mundo", diz.
"Sou o primeiro da minha família a entrar em uma
universidade pública.”
Por
Luiza Tenente, G1
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