A Escola Estadual de Dança Maria Olenewa do Theatro Municipal do Rio de Janeiro completou, dia 27, 94 anos com o lançamento do e-book Professores que Construíram Nossa História. Com depoimentos de diversos docentes da mais antiga e tradicional escola de formação em balé clássico no Brasil, o e-book está disponível nas redes sociais do Theatro Municipal.
Também para lembrar a data, a instituição fez um
evento ao vivo, na tarde de hoje, para falar sobre a trajetória da escola, a
partir da pesquisa feita por Paulo Melgaço, professor de História da Dança
desde 1993.
“Para comemorarmos o aniversário de 94 anos da
Escola Estadual de Dança Maria Olenewa, estamos homenageando todos os mestres
que por aqui passaram e contribuíram para o desenvolvimento e a formação de
milhares de alunos ao longo dos tempos”, reconhece Melgaço
A bailarina e também professora Liana Vasconcelos
destacou três palavras fundamentais para uma escola de formação em balé
clássico: memória, tradição e evolução. “Nós, professores, ensinamos aos nossos
alunos, ao longo dos seus nove anos de formação, a importância da valorização
da memória de nossa escola e de todos aqueles que fizeram parte dessa
história.”
Disciplina
Todos os anos, de 30 a 40 novos alunos ingressam na
Escola de Dança do Theatro Municipal. Entretanto, nem todos concluem os
estudos. São seis anos de curso preparatório e mais três anos de curso técnico.
O diretor da escola, Hélio Bejani, destaca que a jornada exige muita
disciplina, treino e aptidão física.
“O estudo é duro. É preciso ter aptidão física,
apesar de ela ser uma escola pública. Mas por ser técnica, ela exige aptidão
física.”
Com a desistência de muitos alunos, cerca de 20 se
formam por ano, em média. “Nesses 94 anos, você imagina o número de bailarinos
formados pela escola”, contabiliza.
Segundo Bejani, o interesse pelo balé tem aumentado
entre os rapazes. “Hoje, os meninos começam mais cedo”. Ele, ao contrário,
começou o curso aos 22 anos, após se graduar em engenharia. “Tive que batalhar
muito até chegar a primeiro bailarino do teatro. A condição física me ajudou
também.”
Dos 270 estudantes da escola, somente 40 são
rapazes. Mas, de acordo com o diretor, o preconceito hoje está menos concentrado
na questão de gênero e migrou para o quesito econômico. “Dizem que é uma
profissão que não dá futuro, uma profissão muito difícil”, diz Bejani que está
à frente da escola há quase quatro anos.
Para os próximos anos, a ideia, segundo ele, é
manter vivo o legado técnico, artístico e pedagógico deixado pela bailarina
russa e fundadora da escola Maria Olenewa. “O que eu procuro fazer é isso:
melhorar as condições possíveis mas, acima de tudo, manter o que já foi
conquistado até hoje. Não pode andar para trás”.
Pandemia
Durante a pandemia de covid-19, a escola procurou
manter todas as disciplinas de forma remota. No último mês, as aulas
presenciais começaram a ser retomadas, mas em sistema híbrido (mantendo o
ensino virtual).
A infraestrutura da escola é garantida pelo governo
fluminense, por meio da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do
Rio de Janeiro, mas, para se manter, a instituição precisa de doações e conta
com apoio da Associação dos Amigos do Theatro Municipal.
A escola é pública. Ninguém paga nada para estudar
lá”, garante o diretor. Ela depende, entretanto, da “generosidade de pais que
podem contribuir” e demais doadores.
“Mas ninguém deixa de estudar na escola de dança
por não poder contribuir”, destacou Bejani, afirmando que a grande maioria dos
alunos é composta de crianças sem condições financeiras. “Isso [as aulas de
dança] cria para elas um sonho a mais, uma possibilidade a mais”, reflete.
Apesar de não terem que desembolsar dinheiro para
cursar a escola de dança, os alunos têm que comprovar que estão matriculados e
frequentando a escola regular. Segundo o diretor, a metodologia da escola
consiste em usar o balé como ferramenta para educar.
“Estamos formando cidadãos. Não estamos só formando
bailarinos. Precisa prepará-los emocionalmente e cognitivamente para a vida,
para o futuro, para enfrentar com mais tranquilidade as impermanências da vida.
Vide o que a gente está passando agora”, disse se referindo à pandemia.
Para Bejani, se os profissionais da saúde lutam
para garantir a vida dos brasileiros na pandemia, os trabalhadores da cultura
são os médicos da alma. “Um povo sem cultura é um povo sem alma”, destacou o
diretor.
Na Agência Brasil
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