No dia 8, ao
receber 84 votos em assembleia em Abu Dhabi, Andrew Parsons, 40, tornou-se
presidente Comitê Paraolímpico Internacional (IPC, na sigla em inglês) pelos
próximos quatro anos.
Carioca que dirigiu
o CPB (Comitê Paraolímpico Brasileiro) de 2009 a 2017, ele ocupará por quatro
anos o cargo de chefe da entidade máxima do esporte Paraolímpico.
Devido à posição,
vai virar membro do COI (Comitê Olímpico Internacional) em fevereiro, em Pyeongchang,
na Coreia do Sul, durante os Jogos Olímpicos de Inverno.
Parsons, porém, não
se ilude. Sabe que será questionado em meio à profusão de escândalos que
envolvem entidades olímpicas do Brasil.
A mais recente
delas foi desencadeada no início do mês, quando o Ministério Público Federal,
em parceria com procuradores franceses, envolveu Carlos Arthur Nuzman
–presidente do Comitê Olímpico do Brasil e do Rio-2016– como suspeito em
esquema de compra de votos na campanha para sediar os Jogos.
Nuzman foi intimado
a depor e sua casa foi alvo de busca e apreensão. Policiais encontraram R$ 480
mil em diferentes moedas e levaram passaportes –seus advogados pediram
liberação documentos nesta semana.
Na visão de
Parsons, o estado do esporte brasileiro é de "depuração". "É o
momento em que a gente tem de pegar essas feridas e enfiar o dedo", disse
ele à Folha em Lima, na sessão do COI da qual participou na última semana.
Jornalista, Parsons
passou pela comunicação da Confederação Brasileira de Basquete e pela Federação
de Judô do Rio antes de entrar no CPB como estagiário, em 1997.
Na época, o comitê
tinha somente três funcionários e ficava em um sobrado em Niterói. Em 2001, com
24 anos, virou secretário-geral da entidade. "Eu sempre tive esse desejo
de provar, principalmente no Brasil, que há dirigentes honestos",
comentou.
*
Folha - Você foi
eleito no primeiro turno para o IPC. Entrou com certeza de vitória? Andrew
Parsons - Disputei sete eleições no esporte. A primeira perdi feio, para cargo
dentro do atletismo do IPC, em 2002. Tomei uma surra. Aprendi que não dava para
ganhar voto na hora.
Que tipo de
mudanças você quer implementar? Hoje, há 20 ou 25 países que estão muito bem
dentro do movimento paraolímpico, o Brasil entre eles. Mas, ao todo, há 176
comitês paraolímpicos nacionais filiados. Então, falamos de 150 que estão em
situação diferente. Cerca de 60 países que foram à Rio- 2016 por convite,
porque nenhum atleta seu se classificou. E ele não qualificou ninguém porque
não tem dinheiro e estrutura. Não vamos mais sentar e esperar que federações e
clubes venham ao nosso encontro, pelo contrário. É preciso propor as coisas.
Qual é a situação
atual do IPC? O IPC tem cem funcionários, mas agrega o fato de ser federação
internacional de dez modalidades. As principais fontes de receita são comitês
organizadores, filiação, patrocinadores, alguns deles específicos, como a
Allianz e a Toyota, que é o maior patrocínio que já assinamos. Nosso orçamento
anual é de 15 milhões de euros. Nós precisamos de mais dinheiro.
Os Jogos do Rio lhe
ajudaram no intento de dirigir o IPC? Agradeço por ter sobrevivido à Rio-2016.
Foi muito duro e não me fez nenhum favor político, pelo contrário. Se os Jogos
fossem um sucesso retumbante, e até foram, mas sem aqueles poréns, acho que não
haveria adversário para mim na candidatura para o IPC. Mas, como teve o
processo tortuoso, começaram a me questionar. Precisei fazer um processo em
alguns países para reverter a imagem ruim.
Dirigentes
esportivos têm sido alvo de questionamento no Brasil devido aos escândalos.
Você teme essa descrença? Eu sempre tive esse desejo de provar, principalmente
no Brasil, que existem dirigentes esportivos honestos e que só querem fazer um
grande trabalho. Até porque já houve caso de amigo virar para mim e dizer
"não acredito que você virou cartola". Antes, acontecia mais no
futebol porque ele tinha dinheiro. Os movimentos olímpico e paraolímpico do
Brasil não tinham nada até 2001, quando surgiu a Lei Piva. Eu sinto um pouco
essa responsabilidade de ser um dirigente esportivo limpo.
Você ascendeu
rapidamente, embora seja jovem.
Nesses dias vi uma
análise em um veículo brasileiro que dizia que tenho responsabilidade de ser
honesto. Eu aceito essa responsabilidade. Não quero ser o bastião da
honestidade, mas acho interessante ter um brasileiro fazendo trabalho em nível
internacional, que possa ser bem-sucedido. E, quando eu terminar meu mandato,
daqui a quatro, oito ou 12 anos, que não haja nenhuma sombra sobre mim.
O quanto a
investigação sobre Carlos Nuzman afeta a credibilidade do esporte?
Entendo que o
aconteceu na semana passada [início do mês] dá esse gosto. "Quando vamos
nos orgulhar de algum brasileiro que está lá fora?", as pessoas devem se
perguntar. É o momento em que a gente tem que pegar essas feridas e enfiar o
dedo. É um momento de depuração. Não estou nem só falando de esporte, estou
falando do país. Entendo a descrença. Às vezes bate em mim esse sentimento, mas
não podemos perder a fé. Agora, temos de enfiar o dedo na ferida, mesmo. É
enfiar com investigações, Lava Jato. Em 2018, vamos reeleger os mesmos caras?
No esporte é a mesma coisa. Vamos fazer o quê? Fechar as confederações? De
qualquer forma, ser brasileiro no esporte internacional, hoje, não abre portas.
DIRIGENTE FOI
QUESTIONADO POR TRIBUNAL
Durante a gestão de
Parsons (2009-2017), o CPB foi alvo de um questionamento do TCU (Tribunal de
Contas da União) para apurar irregularidade no uso de dinheiro público.
O principal
questionamento do órgão, que veio à tona no segundo semestre de 2016, deveu-se
ao fato de o CPB ter pagado passagens em classe executiva para Parsons e
diárias para sua mulher, Marcela Pimentel, em viagem.
O tribunal também
questionou Licitações e altos salários pagos pelo comitê paraolímpico. O CPB
apresentou esclarecimentos em outubro de 2016 e ainda não houve desdobramento.
Parsons chegou a
afirmar que devolveria os valores, se fosse o caso.
"Era uma passagem
para a minha mulher, não quer dizer que pus o dinheiro no meu bolso. A gente
achava que podia fazer", afirma.
"Mostrei
regulamento do governo federal, provei que nossa diária é igual à do governo
federal e que a remuneração era razoável. Houve ali um exagero desmedido [do
TCU]", completa o cartola.
Por PAULO ROBERTO CONDE, na Folha de São Paulo
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