Perfis falsos são usados para influenciar opinião do público para assuntos políticos e outros temas Arquivo/Agência Brasil |
Uma pesquisa da Diretoria de Análise
de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (DAPP/FGV) mostra que robôs –
perfis automatizados nas mídias sociais – estão influenciando os debates
políticos na web e aumentando a polarização das discussões. O estudo denominado
Robôs, Redes Sociais e Política no Brasil, publicado no final de agosto, aponta
ainda que o processo de disputa política nos próximos anos pode estar ameaçado.
Os
robôs, ou bots, são perfis falsos presentes em mídias sociais como o
Facebook e o Twitter que são capazes de distribuir, em escala industrial,
mensagens pré-programadas. Na disputa política, esse tipo de instrumento pode
ser contratado em empresas especializadas para que um candidato, ou uma
proposta, receba milhares de mensagens de apoio, inflando artificialmente sua
aceitação popular, e influenciando assim a percepção das pessoas.
“Elemento
flagrante é o 'inchamento' de movimentos políticos que são, na realidade, de dimensão
bastante inferior. Somados, esses riscos e outros representados pelos robôs,
são mais do que o suficiente para jogar luz sobre uma ameaça real à qualidade
do debate público no Brasil e, consequentemente, do processo político e social
definidor dos próximos anos”, destaca a pesquisa.
O
estudo aponta que perfis comandados por robôs chegaram a ser responsáveis por
mais de 10% das interações no Twitter nas eleições presidenciais de 2014.
Durante protestos pelo impeachment da então presidenta da República Dilma
Rousseff, as ações dessas contas falsas foram responsáveis por 20% das
interações dos apoiadores dela, que usavam significativamente esse tipo de
mecanismo. Um outro exemplo analisado mostra que quase 20% das interações no
debate entre os usuários favoráveis a Aécio Neves no segundo turno das eleições
de 2014 foram motivadas por robôs.
No entanto, segundo a pesquisa, não é
possível afirmar que os grupos políticos ou candidatos beneficiados pelas
mensagens sejam, de fato, seus mentores. "Ao identificarmos robôs operando
para um campo, porém não queremos dizer que os atores políticos e públicos ali
situados sejam responsáveis diretos pelos robôs a seu favor. Diversos grupos de
interesse podem estar fazendo uso desse tipo de recurso de disseminação de
informações".
Para
o pesquisador da DAPP/FGV Amaro Grassi, ainda não é possível afirmar que a ação
dos perfis falsos seria decisiva em uma eleição. No entanto, o uso desse tipo
de ferramenta pode aumentar artificialmente a impressão de que determinada
candidatura ou programa político possui mais apoio popular do que realmente
tem.
“Qual
que é o objetivo desse tipo de ação? É inflar um determinado posicionamento por
interesses que podem ser os mais diversos. Pode ser um interesse por um assunto
específico, pode ser o interesse por um um partido ou por uma narrativa”,
explica.
Grassi
ressalta que a ação dos robôs, por sua natureza, acaba degradando os debates
políticos, transformando as discussões na web em embates extremados, sem espaço
para a construção de consensos. “Por definição, não vai ser uma mensagem aberta
ao diálogo, porque ela é uma mensagem propagada por um robô. Então, isso
naturalmente se encaixa no contexto de mensagens que são mensagens de
propaganda, mensagens mais afirmativas, que são de posicionamentos mais
rígidos”.
"Em
termos de impacto, o que a gente consegue perceber com bastante clareza é que
eles favorecem a polarização. O tipo de mensagem que eles [robôs] difundem
acaba favorecendo posições mais radiciais, e dificultando um debate mais sereno
em torno das questões que estão colocadas em cada momento".
A
pesquisa destaca ainda que a identificação dos "mentores" dos robôs
passou a ter uma importância ainda maior, já que os perfis falsos, cada vez
mais, conseguem replicar o padrão humano com mais precisão. Dessa forma, um
usuário comum das redes sociais tende a ter mais dificuldade em saber se está
lendo ou compartilhando um conteúdo artificial, ou escrito por uma pessoa de
verdade. “Isso tem de ser incorporado no repertório de controle dos órgãos responsáveis
pela eleição, pelos tribunais regionais e pelo Tribunal Superior Eleitoral. Tem
que estar atentos a esse tipo de ação, pode ter uma interferência decisiva no
processo eleitoral”, ressalta o pesquisador.
O
estudo chama atenção também para o fato de que há robôs que operam no exterior
e disseminam mensagens em território nacional. “Isso inclusive enseja a
reflexão de manipulação não só interna, mas também para além dos campos
políticos nacionais, sugerindo a hipótese da possibilidade de até mesmo outros
atores, estranhos ao quadro nacional, operarem nas redes esses mecanismos”,
alerta.
Por Bruno Bocchini, da
Agência Brasil
__________________