Protótipo de robôs para crianças, o Kikoo, que funciona a partir de comandos de voz, no dia 5 de janeiro de 2017 |
De
abastecer a geladeira a administrar reuniões de trabalho, o deslizar de dedos
sobre a tela se aproxima do fim: a interface digital do amanhã obedecerá à voz
e reunirá todos os nossos aparelhos.
Na IFA de Berlim, uma das feiras
de eletrônicos de consumo mais importantes do mundo, todos os estandes
apresentam o objeto indispensável do ano: o alto-falante inteligente, do qual
sai uma voz - muitas vezes feminina - de um assistente pessoal, um programa de
inteligência artificial com o qual se pode conversar.
Ainda não estamos no universo de
"Ela" (2013), longa-metragem de Spike Jonze em que o personagem
vivido por Joaquin Phoenix se apaixona por sua assistente pessoal. Mas para
Martin Börner, vice-presidente da Bitkom, federação alemã de empresas digitais,
"esta tecnologia vai ter um papel fundamental em nossas vidas".
"A pergunta principal dos
fabricantes de eletrônicos agora é: qual a solução técnica que pode tornar
qualquer aparelho o mais intuitivo possível?", diz.
Em um ambiente saturado de
aparelhos e ações relacionadas ao mundo digital, a prioridade absoluta é
limitar o número de manipulações.
"O controle vocal permite,
sobretudo, ter as mãos livres", considera Jean Raoul de Gélis,
diretor-geral da Sony Mobile France, que relembra que um usuário consulta o seu
telefone celular entre 200 e 300 vezes por dia.
A ideia é que polegares e
neurônios descansem. O outro objetivo destes programas é que sejam capazes de
aprender nossos comportamentos e usos, além de evoluir para determinar o que
cada um espera deles.
"O objetivo final é que se
esqueçam da tecnologia, pois ninguém quer ter que ficar programando o seu robô
aspirador toda semana. Esta automatização deve ser sutil e perspicaz como um
mordomo", ilustra Paul Gray, da consultora IHS Markit.
- A guerra dos assistentes -
Os assistentes Google Home e
Alexa, da Amazon, dominam o mercado. Embora ausentes da IFA, os dois gigantes
americanos estavam por todas as partes dado que muitas marcas de televisão, eletrodomésticos
e cadeias de música presumem ter assinado acordos com um ou outro.
Segundo a consultoria Gartner, o
mercado dos assistentes pessoais conectados por controle por voz representará
3,52 bilhões de dólares em 2021 no mundo, contra 360 milhões em 2015.
Esperando o auge de algo que
ainda pode parecer um pouco futurista, ou inclusive incongruente em uma mesinha
de cabeceira, o smartphone continua sendo a torre de controle do usuário diante
de seus objetos conectados.
"Existe uma verdadeira
guerra dos assistentes pessoais para celulares, entre eles os da Google
integrados no Android, Alexa da Amazon (integrado nos celulares HTC e Huawei),
o Bixby, da Samsung, e a Cortana, da Microsoft", enumera Ian Fogg,
analista da IHS. A Apple também conta com a sua assistente pessoal, Siri.
A Google domina atualmente o
mercado dos telefones celulares, mas a Amazon poderia conquistar o dos objetos
conectados da vida diária: desde o forno até o carro, passando pela calefação e
pelas fechaduras.
- Cacofonia -
Mas esta multiplicação dos
aplicativos leva também a um risco real de cacofonia e, por isso, as marcas
sonham com um protocolo de comunicação universal. E o consumidor também, pois,
a menos que utilize uma só marca, será um quebra-cabeças saber qual é
compatível com qual.
A "interoperabilidade"
destas novas interfaces vocais é um dos principais desafios para os fabricantes
de alta tecnologia.
"Alguns acreditam que
somente um acabará se impondo e ficará com todo o mercado. Outros acreditam que
o celular integrará vários assistentes, cada um deles otimizado em função de
sua tarefa", comenta Fogg.
A Samsung já se posiciona neste
segmento dos aparelhos diários, sem dúvida por medo de que seu assistente,
Bixby, seja superado por seus concorrente da Google e Amazon.
O diretor de Marketing da
Samsung, Paul Löwes, anunciou na quarta-feira em Berlim que a empresa
sul-coreana reforçará a sua associação com a fundação americana "Open
Connectivity", que se fixou precisamente na missão de permitir que todos
estes objetos conectados funcionem em harmonia, excetuando-se se uma
inteligência artificial se impuser às demais.
AFP
__________________