Por quanto tempo haverá tentativas de reduzir as relações espúrias
entre políticos e empresários, colocadas a nu pela Lava Jato, a um compromisso
sem consequências nefastas para nosso país?
Até quando zombarão de nós aqueles que afirmam que congressistas
são apenas ‘despachantes de luxo’, intermediários de inofensivos interesses das
empresas?
Nunca antes ficaram tão evidentes as causas e as consequências da
corrupção endêmica que nos afeta. Mas já intuíamos isso. Como entender que um
país tão rico tenha uma população tão pobre?
Sabíamos que a corrupção desviava recursos públicos apenas para
aumentar lucros de empresas e pagar propina.
E que esse ‘acarajé’, esse suborno, chegava aos agentes públicos
de diversas formas, desde o benefício indireto do uso de aviões, empregos para
filhos e residências na praia até depósitos em contas no exterior, pagamentos
em espécie e financiamento de caras campanhas eleitorais.
O câncer da corrupção corrói a própria democracia ao subverter as
eleições. Dinheiro de corrupção irriga as campanhas políticas por meio de caixa
um ou dois. Importa aqui a sua origem escusa. Proveniente de corrupção, esse
valor não muda sua natureza pela aplicação posterior que lhe é dada. Mais que
isso, tentar esconder sua gênese configura também o crime de lavagem de
dinheiro.
E agora nem o temor da população impede mais as manobras.
Políticos envolvidos no escândalo apresentam propostas para anistiar a prática
ilícita e punir quem os investiga, processa e julga. Acham-se acima da lei só
porque foram escolhidos para legislar. Não percebem que essa conspiração já é
do conhecimento de todos.
Assim, apócrifos projetos de lei passeiam no Congresso com o
objetivo de anistiar a corrupção, disfarçados como apenas uma anistia ao caixa
dois. Afinal, por qual motivo os políticos deveriam temer ser acusados por esse
tipo de crime?
Reportagem da rádio CBN de 2016 apontou que o TSE possui apenas
uma única condenação criminal por caixa dois em sua história. Então, ainda que
não anistiado de direito, há muito foi anistiado de fato.
Além desses projetos, outro tão nocivo já se encontra em
tramitação acelerada no Senado. De autoria do senador Renan Calheiros, visa,
sob a fachada de tratar do abuso de autoridade, apenas ameaçar aqueles que
investigam, processam e julgam a corrupção.
Qual outro motivo para tanto açodamento, sem um debate amplo
perante a sociedade? Por que não dão ouvidos à consulta pública feita pelo
Senado em seu portal, em que 98% das respostas são contra o projeto como
proposto?
Quem diz apoiar a anistia ao caixa dois deseja, na verdade, a
anistia à corrupção, o fim das investigações da Lava Jato e a soltura dos
condenados.
Mente, portanto, aquele que diz que o loteamento dos cargos públicos
é o preço para governar o país, quando se sabe que dele resultam corrupção e
falta de serviços públicos para a sociedade.
Torna-se um simples despachante a mando de criminosos aquele que
defende interesses escusos na esperança de se manter na política. Por fim,
abusa da autoridade aquele que a usa para criar leis com o objetivo tão somente
de ameaçar procuradores e juízes.
Advogar essas ideias é desprezar a sociedade. Sabemos quem são e
onde se encontram essas pessoas. Não ignoramos o que fizeram em noites passadas
e que decisão tomaram.
São tempos difíceis, mas devemos, como povo, tomar os caminhos
certos. O Brasil será, de fato, um país de trambiqueiros, condenado ao atraso e
à pobreza, se perdoarmos a corrupção e deixarmos que intimidem as autoridades”.
Procuradores Carlos Fernando dos Santos Lima, Júlio Noronha
e Roberson Pozzobon, na Folha de S. Paulo.
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Dramaturgo, o autor transferiu para seus contos literários toda a criatividade, intensidade e dramaticidade intrínsecas à arte teatral.
São vinte contos retratando temáticas históricas e contemporâneas que, permeando nosso imaginário e dia a dia, impactam a alma humana em sua inesgotável aspiração por guarida, conforto e respostas.
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Nossa Senhora e seu dia de cão
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Quando o homem engole a lua
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