Imagine chegar ao consultório ou ao
hospital com um incômodo qualquer e sair de lá com a prescrição de uma terapia
intensiva de George Orwell, seguida de pílulas de Fernando Pessoa, emplastros
de Victor Hugo e doses generosas de Monteiro Lobato. Você não leu errado: uma
boa história ajuda a aliviar depressão, ansiedade e outros problemas que
atingem a cabeça e o resto do organismo.
Quem garante esse poder medicamentoso das ficções são as inglesas Ella Berthoud e Susan Elderkin, que acabam de publicar no Brasil Farmácia Literária (Verus). Redigida no estilo de manual médico, a obra reúne cerca de 200 males divididos em ordem alfabética. Para cada um, há dicas de leituras.
As autoras se conheceram enquanto estudavam literatura na Universidade de Cambridge. Entre um debate sobre um romance e outro, viraram amigas e criaram um serviço de biblioterapia, em que apontam exemplares para indivíduos que procuram assistência. “O termo biblioterapia vem do grego e significa a cura por meio dos livros”, ressalta Ella.
O método é tão sério que virou política de saúde pública no Reino Unido. Desde 2013, pacientes com doenças psiquiátricas recebem indicações do que devem ler direto do especialista. Da mesma maneira que vão à drogaria comprar remédios, eles levam o receituário à biblioteca e tomam emprestados os volumes aconselhados.
A iniciativa britânica foi implementada com base numa série de pesquisas recentes que avaliaram o papel das palavras no bem-estar. Uma experiência realizada na Universidade New School, nos Estados Unidos, mostrou que pessoas com o hábito de reservar um tempo às letras costumam ter maior empatia, ou seja, uma capacidade ampliada de entender e se colocar no lugar do próximo. Outra pesquisa da também americana Universidade Harvard apontou que leitores ávidos são mais sociáveis e abertos para conversar.
E olha que estamos falando de ficção mesmo. No novo livro não vemos gêneros como autoajuda ou biografia. “Eles já tinham o seu espaço, enquanto as ficções eram um recurso pouco utilizado. É difícil lembrar-se de uma condição que não tenha sido retratada em alguma narrativa”, esclarece Susan.
As autoras acreditam que é possível tirar lições valiosas do que fazer e do que evitar a partir da trajetória de heróis e vilões. “Ler sobre personagens que experimentaram ou sentiram as mesmas coisas que vivencio agora auxilia, inspira e apresenta perspectivas distintas”, completa.
As sugestões percorrem praticamente todas as épocas e movimentos literários da humanidade. A obra mais antiga que integra o livro é a epopeia O Asno de Ouro, assinada pelo romano Lúcio Apuleio no século 2, que serve de fármaco para exagero na autoconfiança. Há também os moderníssimos Reparação, do inglês Ian McEwan (solução para excesso de mentira), e 1Q84, do japonês Haruki Murakami (potente para as situações em que o amor simplesmente termina).
Disponível em 20 países, cada edição de Farmácia Literária é adaptada para a cultura local, com a inclusão de verbetes e de literatos nacionais. “Nós precisamos contemplar as obras que formaram e moldaram o ideal daquela nação para que nosso ofício faça sentido”, conta Ella. No caso do Brasil, foram inseridos os principais textos de Machado de Assis, Guimarães Rosa e Milton Hatoum, que fazem companhia aos portugueses Eça de Queirós e José Saramago.
Soluções para os dilemas de quem curte livros
Muitas obras em casa
Organize sua biblioteca a cada seis meses e doe as obras de que não gostou ou daquelas a que não chegou ao fim.
Esquecer o que já leu
Mantenha um diário de leitura e faça um breve resumo dos principais fatos para consultar quando houver necessidade.
Medo de iniciar um exemplar
Passe os olhos por trechos aleatórios de alguns parágrafos. Assim dá pra se ambientar e tomar coragem de vez.
Dificuldade de concentração
Reserve um espaço na sua agenda diária ou semanal para ler e ficar longe da televisão, do tablet e das redes sociais.
Recusa a desistir no meio
Insista por 50 páginas. Se a história não apetecer, parta para a próxima. Dê o livro a quem possa se interessar.
Tendência a desistir no meio
Você está dedicando poucos minutos à leitura. Fique uma hora (ou mais) para conseguir se envolver com o enredo.
Compulsão por ter livros
Compre um e-reader. Sem capas bonitas e formatos diferenciados, vai ficar menos tentado a levar a livraria inteira.
Intimidado por um livrão
Desmembre o catatau em pedaços menores. Dedique-se a um de cada vez. Acredite: logo todas as páginas serão finalizadas.
Vergonha de ler em público
Aposte nos livros digitais ou numa capa de crochê, pano ou plástico para esconder o título dos olhares curiosos.
Medo de terminar
Curtiu tanto que não quer chegar ao final? Veja filmes e leia resenhas para permanecer dentro do mesmo universo.
Quem garante esse poder medicamentoso das ficções são as inglesas Ella Berthoud e Susan Elderkin, que acabam de publicar no Brasil Farmácia Literária (Verus). Redigida no estilo de manual médico, a obra reúne cerca de 200 males divididos em ordem alfabética. Para cada um, há dicas de leituras.
As autoras se conheceram enquanto estudavam literatura na Universidade de Cambridge. Entre um debate sobre um romance e outro, viraram amigas e criaram um serviço de biblioterapia, em que apontam exemplares para indivíduos que procuram assistência. “O termo biblioterapia vem do grego e significa a cura por meio dos livros”, ressalta Ella.
O método é tão sério que virou política de saúde pública no Reino Unido. Desde 2013, pacientes com doenças psiquiátricas recebem indicações do que devem ler direto do especialista. Da mesma maneira que vão à drogaria comprar remédios, eles levam o receituário à biblioteca e tomam emprestados os volumes aconselhados.
A iniciativa britânica foi implementada com base numa série de pesquisas recentes que avaliaram o papel das palavras no bem-estar. Uma experiência realizada na Universidade New School, nos Estados Unidos, mostrou que pessoas com o hábito de reservar um tempo às letras costumam ter maior empatia, ou seja, uma capacidade ampliada de entender e se colocar no lugar do próximo. Outra pesquisa da também americana Universidade Harvard apontou que leitores ávidos são mais sociáveis e abertos para conversar.
E olha que estamos falando de ficção mesmo. No novo livro não vemos gêneros como autoajuda ou biografia. “Eles já tinham o seu espaço, enquanto as ficções eram um recurso pouco utilizado. É difícil lembrar-se de uma condição que não tenha sido retratada em alguma narrativa”, esclarece Susan.
As autoras acreditam que é possível tirar lições valiosas do que fazer e do que evitar a partir da trajetória de heróis e vilões. “Ler sobre personagens que experimentaram ou sentiram as mesmas coisas que vivencio agora auxilia, inspira e apresenta perspectivas distintas”, completa.
As sugestões percorrem praticamente todas as épocas e movimentos literários da humanidade. A obra mais antiga que integra o livro é a epopeia O Asno de Ouro, assinada pelo romano Lúcio Apuleio no século 2, que serve de fármaco para exagero na autoconfiança. Há também os moderníssimos Reparação, do inglês Ian McEwan (solução para excesso de mentira), e 1Q84, do japonês Haruki Murakami (potente para as situações em que o amor simplesmente termina).
Disponível em 20 países, cada edição de Farmácia Literária é adaptada para a cultura local, com a inclusão de verbetes e de literatos nacionais. “Nós precisamos contemplar as obras que formaram e moldaram o ideal daquela nação para que nosso ofício faça sentido”, conta Ella. No caso do Brasil, foram inseridos os principais textos de Machado de Assis, Guimarães Rosa e Milton Hatoum, que fazem companhia aos portugueses Eça de Queirós e José Saramago.
Soluções para os dilemas de quem curte livros
Muitas obras em casa
Organize sua biblioteca a cada seis meses e doe as obras de que não gostou ou daquelas a que não chegou ao fim.
Esquecer o que já leu
Mantenha um diário de leitura e faça um breve resumo dos principais fatos para consultar quando houver necessidade.
Medo de iniciar um exemplar
Passe os olhos por trechos aleatórios de alguns parágrafos. Assim dá pra se ambientar e tomar coragem de vez.
Dificuldade de concentração
Reserve um espaço na sua agenda diária ou semanal para ler e ficar longe da televisão, do tablet e das redes sociais.
Recusa a desistir no meio
Insista por 50 páginas. Se a história não apetecer, parta para a próxima. Dê o livro a quem possa se interessar.
Tendência a desistir no meio
Você está dedicando poucos minutos à leitura. Fique uma hora (ou mais) para conseguir se envolver com o enredo.
Compulsão por ter livros
Compre um e-reader. Sem capas bonitas e formatos diferenciados, vai ficar menos tentado a levar a livraria inteira.
Intimidado por um livrão
Desmembre o catatau em pedaços menores. Dedique-se a um de cada vez. Acredite: logo todas as páginas serão finalizadas.
Vergonha de ler em público
Aposte nos livros digitais ou numa capa de crochê, pano ou plástico para esconder o título dos olhares curiosos.
Medo de terminar
Curtiu tanto que não quer chegar ao final? Veja filmes e leia resenhas para permanecer dentro do mesmo universo.
Andre
Biernath - Saúde
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