sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Universidade Federal – corrupção até nas bolsas de estudo


Fraude até nas bolsas de estudo
Ao menos 28 pessoas foram presas pela Polícia Federal ontem durante uma operação que investiga fraudes milionárias no repasse de bolsas de estudo a pessoas sem vínculos com a Universidade Federal do Paraná (UFPR). Segundo a investigação, os suspeitos desviaram cerca de R$ 7,4 milhões em bolsas de pesquisas para 27 pessoas entre 2013 e 2016.
Entre eles havia ajudantes de cozinha, taxistas, aposentados, donos de salões de beleza, um pedreiro, uma vendedora de rou pinhas de boneca Barbie e beneficiários do Bolsa Família. A PF investiga se eles agiram como laranjas.
Também foram detidas duas servidoras da UFPR: Conceição Abadia de Abreu Mendonça e Tânia Marcia Catapan, da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação. Mendonça era chefe do controle e execução orçamentária, e Catapan, secretária administrativa do gabinete. Foram citadas como responsáveis pelas ordens de pagamento das bolsas fraudulentas.
'Quantos pesquisadores sérios deixaram de receber recursos, enquanto esse dinheiro todo estava sendo desviado?' , afirmou João Manoel da Silva Dionísio, secretário de Controle Externo do Tribunal de Contas da União (TCU).
A fraude, segundo a PF, foi detectada pelo TCU e comunicada à UFPR. A operação foi realizada em parceria também coma Controladoria-Geral da União (CGU). Alguns dos investigados chegavam a receber até R$ 24 mil por mês em bolsas de pesquisa.
As bolsas dos 27 investigados foram pagas a título de auxílio à pesquisa, para estudos no país e no exterior. Boa parte dos beneficiários, porém, não tinha nem ensino superior, e nenhum possuía currículo na plataforma Lattes – obrigatório para concessão de bolsas acadêmicas.
Jornal de Brasília
TCU vê nepotismo e desvios em bolsas ao monitorar repasses do Dnit à UFPR
Auditoria foi em sete contratos; denúncia ainda deve ser julgada pela Corte. Em um caso, chefe do Dnit responsável por 'liberar verba' do órgão recebeu pagamento como professora da UFPR.
Por Gabriel Luiz, G1 DF
O Tribunal de Contas da União (TCU) investiga sete contratos entre o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e a Universidade Federal do Paraná (UFPR) suspeitos de fraude. Entre as irregularidades apontadas estão casos de nepotismo, fraudes em pagamento de bolsas e repasses indevidos a professores e servidores – e até parentes deles – com poder de decisão sobre os contratos.
As apurações a que o G1 teve acesso correm em sigilo e ainda devem ser julgadas em Plenário. Os envolvidos negam irregularidade (veja ao final desta reportagem a resposta de cada citado). Nesta quarta-feira (15), a UFPR foi justamente alvo de uma ação da Polícia Federal que prendeu pelo menos 27 pessoas suspeitas de desviar dinheiro de bolsa de pesquisa .
Os acordos analisados pelo TCU neste caso se referem a serviços de meio ambiente prestados pela UFPR ao Dnit, com o objetivo de fiscalizar e supervisionar obras como construção de rodovias ou pontes pelo país, por exemplo. Somados, eles totalizam R$ 71,95 milhões. Esse valor corresponde a 84% do que a instituição recebeu da autarquia entre 2009 e fim de 2015, em 15 contratos ao todo. Os desvios são de pelo menos R$ 1,29 milhão, de acordo com o tribunal.
Além da suspeita de pagamentos indevidos, os técnicos do TCU também apontam que os serviços executados poderiam ter sido realizados por qualquer empresa privada do mercado, uma vez que as demandas eram de 'baixa complexidade'. Os contratos foram firmados sem Licitação, o que 'onerou os cofres públicos' e 'ensejou a malversação de dinheiro público', segundo o tribunal.
De acordo com a Corte, o Dnit não tomou 'os devidos cuidados ao decidir dispensar/inexigir o processo licitatório para contratação de serviços comuns', que eram confiados à UFPR. Para o TCU, a situação demonstra 'consequente desvio da missão institucional' da universidade, que deveria 'atuar somente nas atividades de ensino e pesquisa'.
Para o esquema apontado funcionar, a UFPR supostamente 'reelaborava' os planos de trabalho criados pelo Dnit para aparentar serem projetos de cunho acadêmico. Assim, fundações ligadas à instituição conseguiam abrir orçamento para 'subcontratar' empresas privadas, que acabavam executando os trabalhos. As companhias escolhidas, segundo o TCU, eram ligadas a professores da universidade.
Planilha lista parte dos pagamentos à excoordenadora do Dnit Aline Figueiredo (Foto: Reprodução)
Irregularidade de gestão
Segundo o Tribunal de Contas, uma funcionária do Dnit responsável por autorizar os pagamentos à UFPR acabou recebendo dinheiro da universidade. No entendimento dos técnicos do TCU, a então coordenadora-geral de meio ambiente do Dnit, Aline Figueiredo Freitas Pimenta, faturou ao todo R$ 450 mil.
Ela recebeu R$ 45 mil em 2010 como funcionária autônoma, e R$ 405 mil entre agosto daquele ano e janeiro de 2011 como 'instrutora e professora de cursos livres'. Aline esteve no cargo de chefia no Dnit entre julho de 2010 e setembro de 2015.
Na prática, a servidora foi paga por contratos que ela mesma autorizou, diz o relatório. O G1 também apurou que o marido de Aline, André Luís Pimenta, recebeu R$ 43 mil por serviços supostamente prestados em 2010.
Uma funcionária terceirizada do Dnit e excolega de trabalho de Aline, Juliana Karina Silva, também foi favorecida em contratos de gestão ambiental. Em 2010, ela faturou R$ 45 mil por serviços de consultoria em obras de construção de pontes em rodovias federais.
O levantamento do TCU também mostra que o antecessor no cargo de Aline, Jair da Silva, recebeu ao todo R$ 60 mil em 2011. Ele foi chefe no Dnit entre 2008 e 2010. Na prática, o grupo que tinha o poder de liberar verba para a UFPR se beneficiou dos próprios contratos que administrava.
Ponte sobre o Rio Paraná na BR-262; a obra é uma das contempladas nos contratos entre Dnit e a UFPR (Foto: Dnit/Divulgação)
'Uma vergonha'
Segundo o TCU, um professor que chegou a emitir pareceres favoráveis ao contrato com o Dnit, alvo de questionamentos internos, também se beneficiou.
Ele era membro do Conselho de Planejamento e Administração da UFPR e ganhou R$ 18 mil a título de 'bolsa de projeto', entre novembro de 2012 e abril de 2013.
'A situação caracteriza a ausência indiscutível de segregação de função pelo mencionado docente", diz o documento.
"E por ser de notório conhecimento de todos os conselheiros e demais membros do respectivo departamento/setor da universidade, a conduta parece não ser reprovável pelos seus pares no âmbito da UFPR', argumenta o relatório do TCU.
'Se assim ocorre, outras situações semelhantes podem estar sendo encaminhadas ao arrepio do interesse público e da regular transparência do uso do dinheiro público. Situações essas em que processos são aprovados de forma irregular nos Conselhos Superiores da UFPR, ensejando benefícios ilícitos àqueles que têm o poder de decidir e/ou de influenciar decisão acerca da aprovação de determinado projeto. Infelizmente, uma vergonha!'
Nepotismo
Os técnicos do tribunal também indicam que houve nepotismo nos contratos. De acordo com a denúncia, o professor da UPFR Eduardo Ratton contratou e autorizou pagamentos para o próprio filho e filhos de dois outros professores. Ratton era responsável por conduzir quatro dos seis projetos ligados ao Dnit na universidade.
De acordo com o TCU, um sócio do filho de Ratton também ganhou o dinheiro com a situação investigada. Ele 'já vinha sendo beneficiado com recursos oriundos do Dnit desde 2010, quando passou a integrar a folha de pagamento' de um projeto sob a coordenação de Ratton.
Depois que abriu uma empresa de consultoria com o filho de Ratton em maio de 2013, ele passou a receber indevidamente 'bolsa de projeto', que normalmente seriam endereçadas somente a docentes da universidade. Os pagamentos superam R$ 266,9 mil. Ratton também é suspeito de contratar a empresa de consultoria de um professor da própria UFPR. Ele recebeu ao todo R$ 259,2 mil de recursos do Dnit.
O Tribunal de Contas também deve julgar se há irregularidade no pagamento a duas professoras universitárias. Uma docente recebeu pagamento de R$ 12,5 mil por trabalhar como estagiária. A outra continuou recebendo dinheiro de uma bolsa mesmo depois de ter contrato encerrado contrato temporário. O valor chegaria a R$ 15,3 mil, segundo o TCU.
Contratação dupla
A Corte apurou que 17 sócios de 14 empresas ganhavam dinheiro ao mesmo tempo que as próprias companhias já eram contratadas pela Fundação da UFPR (Funpar). Em um dos casos, por exemplo, um empresário recebeu R$ 74 mil como autônomo ao mesmo tempo que a firma dele recebeu R$ 89,9 mil. A empresa de um funcionário da Funpar – responsável por executar os contratos – também foi contratada.
'Em alguns casos, os pagamentos das empresas e dos respectivos sócios ocorrem no âmbito do mesmo projeto. O fato demonstra má-fé da coordenação dos projetos, pois inaceitável o argumento de desconhecimento do nexo entre a pessoa jurídica contratada e respectivos sócios e vice-versa."
"Há afronta evidente aos princípios constitucionais da moralidade, impessoalidade, publicidade, legalidade e eficiência', diz o órgão.
Não recomendado
Em 2012, um parecer interno elaborado pela UFPR já alertava para o risco de a universidade subcontratar empresas, prática proibida por lei. Membro do Conselho de Planejamento e Administração da unversidade, o professor Ney Mattoso Filho atentou para o fato de que dificilmente a universidade teria condição de executar diretamente os serviços a que se propunha. Um dos motivos seria a distância em relação aos canteiros de obras, como no contrato que previa realização de estudos ambientais na BR-262, no Mato Grosso do Sul.
'Todo o conjunto probatório reunido nos autos constitui indícios de conluio entre dirigentes do Dnit e da UFPR com o fim de direcionamentos de contratações e de pagamentos de bolsas para docentes, sem respaldo legal, à custa de Recursos Públicos federais', diz o tribunal. 'Assim, ante as gravíssimas irregularidades detectadas, entendemos que esta Corte de Contas deve atuar firmemente para restabelecer a legalidade da atuação da UFPR e estancar as irregularidades na aplicação de Recursos Públicos.'
O G1 teve também acesso a um parecer interno do Dnit que igualmente fez alertas sobre o contrato. Em novembro de 2013, o procurador federal Vinícius Campos afirmou que a Constituição expressa que "obras, serviços, compras e alienações devem ser contratadas pelo poder público por meio de Licitação, que tem por objetivo selecionar a proposta mais vantajosa".
"Deve, portanto, a Diretoria Gestora demonstrar, por meio de pesquisa de mercado, comparação com contratações anteriores ou qualquer outro meio idôneo, que a assinatura do presente termo é mais vantajosa do que a abertura de certame licitatório."
OUTROS LADOS
 >>Universidade Federal do Paraná: A UFPR informou que tem sido chamada junto com outras universidades nos últimos três anos pelo Dnit por conta de sua 'excelência acadêmica'. 'Concluindo, eventuais responsabilidades apontadas neste processo de verificação da execução dos projetos citados serão objetos de responsabilização dentro das normas regimentais da UFPR e da Funpar e seguindo as diretrizes do arcabouço legal da gestão pública brasileira.'
>> Dnit: O órgão informou que as contratações são realizadas 'estritamente dentro da legalidade' que 'repudia qualquer ato ilegal de seus gestores e contratados'. Sobre o fato de contratar a fundação universitária para prestar serviços que, segundo o TCU, deveriam ser realizados por empresas, o Dnit alegou que 'existe previsão legal na legislação vigente'.
'É preciso lembrar que termos de cooperação, convênios e outros são previamente analisados pela Procuradoria Federal Especializada junto ao Dnit, que verifica a questão legal, para serem formalizados/entrarem em vigor, devem necessariamente ser aprovados pela Diretoria Colegiada do Dnit, que é o órgão de deliberação da autarquia, sendo composto por sete diretores.'
'O Dnit, então, firma termos de cooperação, termos de compromisso e convênios em diversas áreas, com várias entidades, buscando a troca de experiências e a cooperação mútua.'
>> Aline Figueiredo: Em nota, a ex-diretora afirmou que os valores citados pelo TCU estão errados. 'Essa informação é fruto de uma interpretação incorreta dos dados provenientes da base de dados do Governo Federal (Gfip), de onde os valores foram extraídos, que consistiu na consideração indevida de um mesmo valor por diversas vezes na somatória que resultou em um montante de recebimento incorreto.'
Ela diz ter prestado serviço técnico antes de assumir o cargo de chefia no Dnit, recebendo R$ 45 mil por isso. 'Todos os meus atos durante a minha gestão sempre foram pautados pela legalidade', afirmou.
Sobre o marido também ter recebido dinheiro de contratos com a UFPR, Aline disse que ele é engenheiro civil, com especialização em meio ambiente e que prestou serviço técnico no momento em que ela também era consultora. Por isso, não há 'qualquer tipo de impedimento legal', declarou.
>> Juliana Karina: Ela disse desconhecer as apurações do TCU e disse que nunca foi servidora do Dnit. "Apenas prestei serviços de consultoria para empresas privadas e instituições, que por sua vez, possuíam contratos com o Dnit."

>> Eduardo Ratton: Ele negou ter havido nepotismo ou ter favorecido qualquer pessoa nos contratos. "O TCU será responsabilizado pelas falsas acusações e leviandades das acusações. Pena não tenhamos tido a oportunidade de nos apresentar e trazer a confirmação dos fatos reais. Sou professor Titular da UFPR há 36 anos e participo do desenvolvimento tecnologico do país desde então."